O que os réus e testemunhas admitiram sobre a tentativa de golpe de Estado
Réus e testemunhas dos núcleos 1, 2 e 4 da trama golpista terminaram de ser ouvidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nas ações penais do golpe de Estado. Outros dez réus do núcleo 3 devem ser interrogados na próxima segunda-feira, 28, encerrando as oitivas referentes ao caso.
Como mostrou o Estadão, 141 das 236 testemunhas arroladas pelos réus e pela PGR compareceram a audiências. Nesta quarta-feira, 23, a fase de depoimentos das 236 testemunhas indicadas nas quatro ações penais que apuram a trama foi encerrada.

Apesar das tentativas das defesas de negar a participação em planos golpistas, diversos trechos dos depoimentos confirmaram fatos apurados na investigação e podem complicar a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros envolvidos no caso.
Testemunhas relataram que o ex-chefe do Executivo federal consultou a possibilidade de “virar a mesa” a generais das Forças Armadas, discutiu a possibilidade de prender o ministro do STF Alexandre de Moraes e procurou irregularidades que pudessem mantê-lo no comando do País, mesmo após perder as eleições de 2022.
Ainda houve confirmação do “Punhal Verde e Amarelo”, plano para “neutralizar” autoridades, que foi impresso no Palácio do Planalto. Veja o que cada réu ou testemunha admitiu ou confirmou sobre a trama:
Jair Bolsonaro, ex-presidente
O ex-chefe do Executivo admitiu ter mostrado uma minuta ao então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e assumiu ter recebido sugestões para decretar estado de sítio no País. A possibilidade foi ventilada depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou o pedido do PL para anular parte dos votos do segundo turno.
Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército
O general da reserva Freire Gomes, testemunha da acusação e das defesas de Bolsonaro, Mauro Cid, Garnier e Oliveira, confirmou que recebeu um plano do governo para impedir a posse de Lula.
O ex-comandante do Exército disse que se reuniu com Bolsonaro, os outros dois chefes das Forças Armadas e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, para discutir o conteúdo da “minuta golpista”. Esse texto foi encontrado pela Polícia Federal (PF) na casa de Anderson Torres.

O general disse que se posicionou contra a tentativa de intervir no processo eleitoral e que alertou Bolsonaro sobre o ex-presidente poder ser “enquadrado juridicamente”.
Carlos Almeida Baptista Junior, ex-comandante da Força Aérea Brasileira
Testemunha na ação penal, o general relatou que na primeira quinzena de novembro de 2022 houve um “brainstorming” sobre a possível prisão de Moraes em uma reunião no Palácio da Alvorada. Participaram do encontro, além dele, Bolsonaro e os chefes das Forças Armadas.
O general também confirmou que o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, foi a favor da ruptura democrática e chegou a disponibilizar as tropas da Força para participar do intento golpista.
Mário Fernandes, general da reserva
Em depoimento, o réu Mário Fernandes confirmou a autoria do plano Punhal Verde e Amarelo, mas disse que “não foi compartilhado com ninguém”. O documento previa o sequestro ou homicídio de Moraes, de Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). O réu descreveu o plano como “apenas um pensamento digitalizado” e expressou arrependimento, dizendo que leu o arquivo impresso e depois o rasgou.
O general também confirmou a autoria de uma minuta de implementação de um gabinete de crise, mas disse que o documento seria apenas para o “assessoramento” do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em uma eventual crise.

Ele confirmou, ainda, que propôs ao general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, e a Braga Netto que participassem de uma audiência pública no Congresso para “denunciar as fraudes eleitorais”.
Marcelo Câmara, coronel e ex-assessor de Bolsonaro
O coronel Marcelo Câmara confessou que o codinome “professora” identificado pela PF na investigação da trama golpista se referia ao ministro Alexandre de Moraes. Os investigadores apuraram que ele e o ex-chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, monitoraram o deslocamento de Moraes a partir de “acesso privilegiado de informações” sobre o ministro.
Câmara confirmou o monitoramento, mas atribuiu a Cid a responsabilidade e disse que se sentiu “usado” por ele.
Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União
Testemunha do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o ex-advogado-geral da União Bruno Bianco confirmou que Bolsonaro o consultou sobre a possibilidade de reverter o resultado eleitoral, em que Lula saiu vitorioso.
Giancarlo Gomes, subtenente do Exército que atuava na Abin
Giancarlo Gomes confirmou em seu depoimento que buscou informações sobre suposta ligação de um parente do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, e a Positivo, empresa que fabricou parte das urnas eletrônicas para as eleições de 2022.
Giancarlo também afirmou que, “a mando” do policial federal Marcelo Bormevet, seu superior na Abin, fez pesquisas de placas de veículos relacionadas a Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presidente.