30 de julho de 2025
Politica

Coronel diz que reunião com kids pretos para pressionar Freire Gomes foi ‘encontro de amigos’

Interrogado nesta segunda-feira, 28, pelo Supremo Tribunal Federal, o tenente-coronel Bernardo Corrêa Neto classificou como um ‘encontro de amigos’ a reunião com kids pretos, em 2022, para pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir ao plano de golpe em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele disse que o encontro ocorreu de forma ‘espontânea’.

Bernardo Corrêa Neto integra o núcleo 3 dos réus da ação do golpe – grupo dos militares denunciados pela Procuradoria-Geral da República. Ele definiu apenas como um ‘ato de indisciplina’ a ‘Carta ao comandante do Exército de oficiais superiores da ativa’, também usada para forçar Freire Gomes a dar apoio à trama.

Em depoimento no Supremo Tribunal , o tenente-coronel Bernardo Corrêa Neto negou ter planejado ação para pressionar comandante do Exército.
Em depoimento no Supremo Tribunal , o tenente-coronel Bernardo Corrêa Neto negou ter planejado ação para pressionar comandante do Exército.

Corrêa Neto é apontado pela Polícia Federal como “o idealizador e responsável por articular” a reunião com os kids pretos – forças especiais – para pressionar o comando do Exército a aderir ao plano.

“O que houve foi um encontro de amigos e forças especiais. Não houve organização do encontro, eles ocorrem espontaneamente. Foi o caso daquele encontro em Brasília”, declarou.

De acordo com mensagens interceptadas pela investigação, Corrêa Neto sugeriu nomes de militares que deveriam se reunir. Para ele, “não havia motivo específico para a participação desses militares, apenas o fato de serem companheiros de forças especiais”.

Na denúncia, a Procuradoria-Geral da República sustentou que a reunião tinha o objetivo de desenvolver uma estratégia de pressão sobre os comandantes.

A acusação pontua que Corrêa Neto enviou aos colegas a minuta da “Carta ao comandante do Exército de oficiais superiores da ativa”. O documento foi divulgado pelo influenciador bolsonarista Paulo Figueiredo após as eleições de 2022.

O coronel afirmou que “essa carta não foi convencionada” no encontro dos kids pretos. “Eu era contra a confecção desta carta por achar que era um ato de indisciplina; oficiais não deveriam se reunir.” Ele declarou que o documento não foi discutido na reunião com os kids pretos e negou ter participado do planejamento do golpe.

O juiz auxiliar Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, que atua no gabinete do ministro Alexandre de Moraes e conduz os interrogatórios, questionou sobre as motivações de o general Freire Gomes interpelar o então ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, delator, sobre a situação das reuniões entre o ex-presidente e o general Estevam Theóphilo – apontado pela Polícia Federal como o “responsável operacional” por arregimentar as Forças Especiais do Exército para prender Moraes.

Corrêa Neto confirmou que sabia da reunião entre Bolsonaro e o general Theóphilo, que teria sido antecipada por Mauro Cid.

‘Vento mudando na guarnição’

Contudo, ele negou saber o intuito do encontro e também afirmou não ter informações prévias sobre a agenda presidencial.

Segundo a PGR, Corrêa Neto informava os militares sobre o andamento da trama golpista a partir das conversas que mantinha com Mauro Cid. “As trocas de mensagens entre o coronel Fabrício Bastos e o tenente-coronel Corrêa Neto revelaram que a esperança do grupo ainda não havia se encerrado. Fabrício Bastos escreveu a Corrêa Neto: ‘vento mudando na guarnição’, indicando a possibilidade de reverterem a posição do comandante do Exército.” Em resposta, Corrêa Neto disse ter falado com Mauro Cid naquele dia, o qual afirmou que o decreto não seria assinado, pois Bolsonaro ‘não tinha o apoio das Forças Armadas e tinha receio de ser preso.”

O coronel afirmou que nunca manifestou publicamente suas opiniões políticas e que as conversas eram apenas um ‘desabafo’ para ‘amigos’.

 

 

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