3 de agosto de 2025
Politica

Eduardo Bolsonaro saiu da realidade e acionou modo ‘Hollywood’, diz general Santos Cruz

O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo da gestão Bolsonaro, afirmou que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) está “fora da realidade”, num “modo Hollywood”, ao atuar contra o Brasil no tarifaço anunciado pelos Estados Unidos. Santos Cruz também disse que as Forças Armadas não perderam credibilidade por causa do processo da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF).

“O Eduardo Bolsonaro condicionando essas tarifas e decisões judiciais, eu acho forte. Só se colocou no modo Hollywood mesmo, né? Porque não tem cabimento. Ele não tem autoridade nenhuma para isso”, disse o general em entrevista à Coluna do Estadão. Santos Cruz cobrou providências do Congresso e do Supremo contra o parlamentar.

Antes de trabalhar como ministro a poucos metros do gabinete de Bolsonaro no Palácio do Planalto, Santos Cruz chegou ao topo do Exército e comandou a Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti e no Congo. O militar da reserva lamentou que colegas de farda sejam réus no STF e tenham sido “tragados por um tsunami político”.

“É desagradável você ter trabalhado com pessoas que você sabe que têm capacidade e depois são tragadas por esse tsunami político completamente irresponsável. Mas isso não tem influência na parte institucional. Eu julgo quase como uma tragédia pessoal”.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista

Como o senhor avalia o tarifaço dos EUA contra o Brasil? Enquanto o governo fala em soberania, o bolsonarismo tem estimulado o movimento.

A discussão tarifária acontece de vez em quando. O problema é que ela não veio baseada em razões econômicas, mas numa exigência de decisão específica do Judiciário do Brasil. E uma coisa não tem nada a ver com a outra. É um assunto interno. Não pode ser uma exigência de um governo estrangeiro.

Além de a carta do presidente dos EUA ter citado Bolsonaro, que Trump diz ser perseguido, Eduardo Bolsonaro tem condicionado, nos Estados Unidos, o fim desse processo de tarifaço à aprovação da anistia ao pai. Como o senhor vê essa tentativa?

O Eduardo Bolsonaro condicionando essas tarifas e decisões judiciais, eu acho forte. Só se colocou no modo Hollywood mesmo, né? Porque não tem cabimento. Não é ele que tem que fazer esse condicionamento, ele não tem autoridade nenhuma para isso. Talvez o deputado Eduardo Bolsonaro esteja vivendo um momento fora da realidade, porque isso não tem cabimento. É um absurdo. É um assunto de governo, que está sendo tratado pelos dois governos, no caso das tarifas. O outro caso (político) nem vai ser tratado, porque pega na soberania, na independência do Poder Judiciário do Brasil. Mas a atitude do deputado é um problema que eu acredito que tem até consequências jurídicas. Não é normal. Inclusive, ele deu uma declaração de que estava trabalhando para que não tivesse sucesso a delegação brasileira de parlamentares que está nos EUA. Tem parlamentares ali da situação do governo, tem parlamentares da própria oposição, né? Dois até foram ministros do governo Bolsonaro, que estão lá na expectativa de resolver o problema para o Brasil. E aí um deputado diz que está trabalhando contra? O nosso Congresso também tem que tomar providência, não pode ser omisso nesse tipo de coisa, senão se desmoraliza também.

Carlos Alberto Santos Cruz foi ministro da Secretaria de Governo da Presidência durante a gestão Bolsonaro
Carlos Alberto Santos Cruz foi ministro da Secretaria de Governo da Presidência durante a gestão Bolsonaro

Uma das integrantes da comitiva do Senado é a senadora Tereza Cristina, que foi ministra da Agricultura no governo Bolsonaro, sua antiga colega de ministério.

Foi uma excelente ministra da Agricultura, tem experiência, teve bons resultados. Por conta disso ela foi eleita senadora pelo Mato Grosso do Sul, é uma pessoa de qualidade. Nós temos gente de qualidade tanto na situação como na oposição, e tem gente que não tem, na vida é assim. Esse grupo que foi lá é um grupo de gente de qualidade que foi para tentar resolver esse impasse. Ela é um destaque.

O senhor vê alguma saída para o impasse?

Vejo. É completamente fora de qualquer expectativa a manutenção desse cenário. O Brasil e os Estados Unidos têm uma relação comercial de longa data. Os EUA são um país importante na economia mundial, mas não vivem sozinhos, né? O Brasil é um país grande, tem produção de muita coisa e os Estados Unidos não conseguem produzir tudo aquilo que consomem. Não tem cabimento estabelecer uma taxa de 50% alegando razões de segurança nacional. O Brasil não tem a mínima agressão nas suas relações comerciais à segurança nacional dos Estados Unidos. Também tem alegação contra um processo que corre no Brasil contra o ex-presidente (Bolsonaro), depois veio uma conversa até sobre a Rua 25 de Março. Acho que isso pode até passar um pouco do dia 1º de agosto, para não desmoralizar a exigência, e depois isso vai ter sido acertado. Ninguém vai desprezar o comércio com um país como o Brasil que é 50% da população de toda a América do Sul e 65% do PIB da região.

No topo da carreira do Exército, o general Carlos Alberto Santos Cruz chefiou a Missão de Paz da ONU no Haiti e no Congo
No topo da carreira do Exército, o general Carlos Alberto Santos Cruz chefiou a Missão de Paz da ONU no Haiti e no Congo

E o que acha do processo da trama golpista no STF?

É um volume bastante grande de material desse processo. Só acompanho pelo noticiário. Espero que siga toda a parte processual legal, que realmente o espírito de justiça prevaleça. O Brasil está muito contaminado em tudo que é área por briga política. Espero que questões políticas não contaminem o processo.

O senhor avalia que houve alguma tentativa de não aceitar as eleições em 2022?

Tentativa, houve. Aqueles acampamentos todos pedindo intervenção das Forças Armadas, mais do Exército. Foi um absurdo. O objetivo daquelas pessoas era que não se concretizasse a transição de governo, porque teve uma eleição, o atual presidente venceu, e tinha que assumir, governar. Se você não gosta do presidente ou do governo, isso é uma coisa individual. O Exército não aceitou aquele tipo de pressão. É muito importante saber quem é que estimulou aquelas pessoas a ficarem acampadas ali quase dois meses. Quem deu esperança para elas de que as Forças Armadas iriam fazer uma besteira daquelas? Claro que tem gente que fez besteira e tem que responder. Mas nesse tipo de movimento de massa, tem muita gente boa que é manipulada por gente mal intencionada. E acaba todo mundo ficando com a vida comprometida, com processos.

O senhor avalia que integrantes do governo Bolsonaro contribuíram para isso? O então presidente dizia que não aceitaria o resultado da eleição, e o general Braga Netto, vice da chapa, estimulava os manifestantes.

Isso tem que ser analisado dentro do processo. O coração de um processo eleitoral é a credibilidade. Quando você ataca esse ponto, você cria tumulto. Então, quando você ataca um ponto desse, você tem que mostrar as provas da fraude. A democracia funciona desse jeito. Não pode ser “Se eu ganhar, valeu. Se eu não ganhar, não valeu”. Como é que você não deixa isso existir? Responsabilizando quem ataca o sistema e não mostra as provas. Compete à Justiça avaliar quem é que fez isso e até que grau que isso influiu.

Há militares de diversas patentes que são réus no Supremo. As Forças Armadas perderam credibilidade?

Eu acho que não. Foi a decisão do Exército de não entrar naquela pressão ali que manteve a regularidade das coisas. O Exército continua o seu trabalho normal. Agora, tem muito ataque dos inconformados, bastante ativos nas redes sociais. Parece que aquilo tem um impacto muito forte. Não tem. É mentira. O Exército continua o mesmo Exército, está todo mundo levantando de manhã, indo para o quartel, trabalhando normalmente, auxiliando nas enchentes, se preparando para a defesa da pátria, fazendo seus exercícios.

Incomoda ver no banco dos réus os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, com quem o senhor já conviveu?

O que é ruim é que eu trabalhei com algumas dessas pessoas, sou contemporâneo da mesma geração profissional. São pessoas que tiveram um desempenho muito bom na vida militar e depois foram engolidas por esse tsunami político. Isso não é agradável para ninguém. É desagradável você ter trabalhado com pessoas que você sabe que têm capacidade e depois são tragadas por essa onda de política completamente irresponsável. É muito chato. Mas isso aí não tem influência na parte institucional. Eu julgo quase como uma tragédia pessoal.

Carlos Alberto dos Santos Cruz na sala que ocupava no Palácio do Planalto, a poucos metros do gabinete presidencial de Jair Bolsonaro
Carlos Alberto dos Santos Cruz na sala que ocupava no Palácio do Planalto, a poucos metros do gabinete presidencial de Jair Bolsonaro

Em 2022, o senhor recebeu convites de partidos políticos para se candidatar ao Senado. Em 2026, pretende disputar um cargo?

Neste momento não tenho intenção nenhuma. Se houver alguma proposta que me interesse, que eu acho importante, interessante, a gente sempre tenta ajudar o País, como naquela época que aceitei ser ministro para fazer política decente. Pela minha idade, eu não preciso de título, das benesses da política. Então, seria só para ajudar o País, que tem basicamente dois problemas gravíssimos: corrupção e desigualdade social. Se eu puder ajudar em alguma coisa, talvez eu aceite. Tem que ser bem avaliado.

 

 

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