PF vê ‘influência de lobistas’ em fraude de R$12 milhões com emendas para eventos de jogos digitais
Ao autorizar a busca e apreensão de empresas e pessoas ligadas à Associação Moriá nesta terça-feira, 29, o ministro Flávio Dino considerou que há indícios de fraude no uso de emendas parlamentares para financiamento de evento de jogos digitais no Distrito Federal. A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União apuram suposta influência de lobistas para conseguir recursos via emendas parlamentares e redirecioná-los para suas empresas.
O Estadão busca contato com a defesa das pessoas e empresas citadas. O espaço está aberto.
Segundo relatório da CGU, “as suspeitas aventadas teriam dado causa a um prejuízo estimado em R$ 12.807.160,79, resultante dos repasses de valores às empresas sob investigação – o que corresponderia a 84% do orçamento agregado dos quatro convênios do JEDIS investigados (R$ 15.233.575,76).”
A Operação Korban investiga pessoas ligadas à Associação Moriá, que recebeu recursos via emendas parlamentares para a realização de eventos de jogos digitais no Distrito Federal. Segundo os investigadores, lobistas utilizaram sua influência para conseguir quantia para a associação, que repassava os valores para empresas terceirizadas contratadas.

Em nota, a Moriá alegou que foi surpreendida pela decisão e que esta à disposição ‘para prestar todas as informações necessárias que demonstrem a lisura dos seus procedimentos, assim como das condutas de seus dirigentes’.
A entidade também alegou que os seus advogados não tiveram ‘acesso aos autos que determinaram a medida cautelar e, portanto, não se manifestará, ainda, por desconhecer as razões da decisão’.
Um dos investigados é Adriano Marrocos, caracterizado pela PF como “importante promotor de lobby junto a parlamentares”. Segundo a investigação, ele é sócio majoritário da empresa Alpha Tech, que chegou a receber mais de R$ 500 mil da entidade. “Aproximadamente 90% dos recursos públicos federais recebidos pela MORIÁ foram destinados a outras pessoas jurídicas ou físicas para a execução dos eventos”, aponta relatório da CGU.
Por ordem do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, a Operação Korbann realizou buscas em 16 endereços no Acre, Paraná, Goiás e Distrito Federal, resultando no bloqueio patrimonial de R$ 25 milhões.
A apuração aponta que, em 2023, a nova diretoria da Associação Moriá decidiu mudar o foco da entidade, que antes buscava fomentar o esporte, de maneira geral, para para se estabelecer no setor eventos de ‘esportes digitais.,
De acordo com os dados do Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União, a entidade recebeu R$ 27,4 milhões em recursos provenientes de emendas de seis parlamentares, pagos entre os anos de 2024 e 2025. A quantia foi destinada por deputados federais do Distrito Federal, um do Rio de Janeiro, um do Espírito Santo e um do Acre. A maior quantia repassada foi de R$ 7,5 milhões, por meio de emenda de um senador.
Veja a relação de emendas sob a análise dos investigadores:
- Senador Izalci Lucas (PL-DF): emenda que financiou o Termo de Fomento nº 942706, destinado à realização do Circuito de Jogos Digitais no Distrito Federal, no valor de R$ 7.558.025,14.
- Ex-senadora Rose de Freitas (MDB-ES): emenda que financiou o Termo de Fomento nº 951513, destinado à realização do Circuito de Jogos Digitais no Espírito Santo.
- Ex-deputada federal Pedro Augusto Palareti (PP-RJ): emenda que financiou o Termo de Fomento nº 936643, destinado à realização dos Jogos Estudantis Digitais no Rio de Janeiro, no valor de R$ 3.999.558,68.
- Ex-deputada federal Paula Belmonte (DF): emenda que financiou o Termo de Fomento nº 942705, destinado à realização dos Jogos Estudantis Digitais em Brasília/DF, no valor de R$ 499.943,50.
- Ex-deputada federal Perpétua Almeida (AC): emenda que financiou o Termo de Fomento nº 942707, destinado à realização dos Jogos Estudantis Digitais no Acre, no valor de R$ 3.176.048,44.
O senador e os ex-parlamentares não foram alvos da operação desta terça-feira, 29.