17 de setembro de 2025
Politica

Tarcísio submerge em meio à escalada da crise entre EUA e STF e silencia sobre Moraes

Na semana em que os Estados Unidos incluíram um ministro da mais alta Corte do País na lista da Lei Magnitsky — instrumento usado contra ditadores e terroristas — o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), submergiu. Principal nome da direita para 2026, Tarcísio passou cinco dias sem agendas públicas e se fechou em compromissos internos no Palácio dos Bandeirantes justamente quando a pressão americana contra o Supremo, patrocinada pelo bolsonarismo, atingiu seu ápice.

Embora o governador já tenha ficado sem aparecer em público por tanto tempo em outras ocasiões, é a primeira vez desde fevereiro que isso ocorre em dias úteis, de segunda a sexta-feira da mesma semana. A tendência é que o período se amplie, já que Tarcísio passará por procedimento médico para destruir nódulos na tireoide no domingo, 3. Por conta da intervenção, ele não irá ao ato bolsonarista na Avenida Paulista.

Procurado, o governo de São Paulo não havia se posicionado até a publicação do texto. O espaço segue aberto.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Tarcísio é visto como uma ponte entre o bolsonarismo e o Supremo Tribunal Federal (STF), sendo um dos poucos no campo que mantém diálogo com Alexandre de Moraes, alvo das sanções do governo Donald Trump. O silêncio do governador provocou desconforto entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que interpretam sua postura como uma tentativa de evitar desgastes com Moraes.

O governador paulista integra a ala bolsonarista que defende diálogo com o Supremo, em contraste com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se mudou para os Estados Unidos em busca de sanções contra Moraes e outros ministros. Segundo pessoas próximas, Tarcísio chegou a criticar, em conversas reservadas, a postura de Eduardo, considerada um tiro no pé.

O entorno do governador nega que o sumiço tenha relação com a escalada da crise entre os EUA e o Supremo ou com a saúde dele. Afirmam que se tratou apenas de uma semana mais tranquila, após uma sequência de agendas intensas na semana anterior.

Na avaliação de pessoas próximas, Tarcísio não se furtou a falar sobre o tarifaço e expressou sua posição em várias ocasiões desde que a medida foi anunciada pelo presidente americano Donald Trump. Conforme essa visão, mesmo com a exclusão de setores importantes para a economia de São Paulo, como a Embraer e produtores de suco de laranja, não há o que o governador comemorar pois o saldo segue negativo para o Brasil.

Nos bastidores, porém, outra ala de aliados do chefe do Executivo paulista admite que ele deu um passo atrás nas declarações sobre temas nacionais e quer evitar esse tipo de embate daqui para frente. Em sua última declaração sobre o assunto, no sábado, 25, Tarcísio focou nos impactos negativos para a economia paulista, ressaltou medidas para ajudar os exportadores em São Paulo e pregou que nada pode estar acima do interesse nacional. “Infelizmente, hoje se busca tirar proveito político de tudo e dividir o País. […] A divisão interna é o que enfraquece o País”, disse na ocasião.

O recuo nas declarações sobre temas políticos é atribuído ao desgaste causado pelo episódio do “tarifaço”. Na ocasião, Tarcísio culpou o governo Lula pela taxa de 50% sobre produtos brasileiros, mas poupou críticas ao presidente americano, de quem é apoiador — no dia da posse de Trump, Tarcísio publicou um vídeo usando o boné com o slogan “Make America Great Again”; o material foi resgatado pela oposição após o tarifaço.

A postura de Tarcísio gerou críticas dos dois lados, como mostrou levantamento da AP Exata obtido pelo Estadão: da esquerda, por não se opor a Trump; e da direita, por não adotar um tom mais duro contra o Supremo nem defender de forma enfática a anistia aos condenados do 8 de Janeiro.

Outros governadores não criticaram Moraes

Tarcísio não foi o único a silenciar sobre a inclusão de Moraes na lista da Lei Magnitsky. O governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), também cotado para disputar a Presidência em 2026, manteve suas falas circunscritas à questão tarifária. Por meio de sua assessoria, Ratinho Júnior disse é hora de a diplomacia entrar em campo e a política ir para o banco de reservas.

Outro player com ambição nacional, o goiano Ronaldo Caiado (União Brasil) comentou nesta sexta-feira sobre a sanção a Moraes.

“Como médico que sou, a diferença é a dose. Remédio que cura é o mesmo que mata. (A diferença) é a dose. O que aconteceu? Perderam o limite da dose, de ambos os lados.Não precisava impor uma tornozeleira, não precisava impor uma Magnitsky. Isso tudo está dentro de um cenário que é preocupante, é gravíssimo”, declarou Caiado, em entrevista ao jornal O Globo.

O mineiro Romeu Zema (Novo) foi o único entre os governadores presidenciáveis a endossar a ofensiva americana contra Moraes. Ao mesmo jornal, mas na quinta-feira, 31, disse que o ministro paga pelo o que plantou.

“Querendo ou não, as questões econômicas e políticas, em algum momento, elas têm uma zona de interseção, uma zona meio cinzenta. Talvez é o que esteja acontecendo. Está claríssimo que nós temos tido, principalmente por parte do Supremo, do ministro Alexandre de Moraes, excessos”, afirmou Zema, acrescentando que o magistrado é “réu, juiz, acusador, testemunha”. Para ele, essa situação prejudica a credibilidade do sistema Judiciário brasileiro.

Sobre a sanção a Moraes, Zema respondeu: “Nesse caso específico, a ação (do governo Trump) foi contra ele (Moraes). Ele está pagando o preço daquilo que ele plantou”, declarou Zema, completando que discorda das sanções econômicas contra o Brasil. “Um erro do presidente Lula não justifica um erro do presidente Trump. Agora, enquadrar o ministro ao lado de juízes da Venezuela, que só votam de acordo com o presidente, parece que é o que está acontecendo aqui no Brasil.”

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