5 de agosto de 2025
Politica

Trump adota nova forma de interferência antidemocrática

A maioria dos estudos sobre democracias no século XXI tem se concentrado nos riscos de sua erosão por meio de processos mais sofisticados e insidiosos do que os tradicionais golpes militares do século passado — fenômeno que ficou conhecido como democratic backsliding.

O temor recorrente é que líderes extremistas, uma vez eleitos, passem a concentrar poder e a enfraquecer as instituições encarregadas de impor limites ao Executivo e de proteger os direitos e valores liberais da democracia. Esse processo, que costuma ocorrer de dentro para fora, tem pautado os debates acadêmicos e políticos sobre os perigos contemporâneos à democracia.

Trump tem articulado uma verdadeira “internacional golpista”, buscando criar uma rede transnacional de apoio a líderes autoritários, com vistas a desestabilizar democracias e normalizar práticas antidemocráticas
Trump tem articulado uma verdadeira “internacional golpista”, buscando criar uma rede transnacional de apoio a líderes autoritários, com vistas a desestabilizar democracias e normalizar práticas antidemocráticas

Mas há uma nova ameaça emergente que merece atenção. Trata-se da exportação deliberada de mecanismos de erosão democrática por parte de democracias consolidadas, como os Estados Unidos — e, mais especificamente, do projeto de dominação internacional. Em vez de tanques, o método agora é a chantagem. A isso chamo de blackmail democracy.

Durante a Guerra Fria, os EUA intervieram diretamente em diversos países com o pretexto de conter o comunismo, muitas vezes patrocinando ou tolerando golpes de Estado. Hoje, a ofensiva é mais sutil, — mas talvez ainda mais perigosa. Um exemplo emblemático é a recente decisão do governo Trump de impor sanções unilaterais, por meio da Lei Magnitsky — originalmente criada para punir ditadores e terroristas — contra Alexandre de Moraes, ministro do STF.

A sanção imposta não é apenas uma afronta individual. É uma tentativa deliberada de enfraquecer instituições democráticas de outro país, pressionando para que o Judiciário brasileiro recue no enfrentamento ao extremismo bolsonarista. O objetivo político é claro: deslegitimar a ação institucional contra aliados ideológicos de Trump e, com isso, minar o sistema de freios e contrapesos brasileiro.

Essa estratégia de chantagem não se limita ao Brasil. Nota-se que Trump tem articulado uma verdadeira “internacional golpista”, buscando criar uma rede transnacional de apoio a líderes autoritários, com vistas a desestabilizar democracias e normalizar práticas antidemocráticas. Trata-se de uma aliança informal entre populistas autoritários, sustentada por redes que operam tanto dentro quanto fora das instituições americanas.

A “blackmail democracy” opera por meio da intimidação, do uso seletivo de sanções e da manipulação de instrumentos legais como ferramentas de guerra ideológica. O que está em jogo não é apenas a soberania de países como o Brasil, mas a integridade do próprio regime democrático internacional.

 

 

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