Governo Lula teve distância da Câmara e proximidade com o Senado no 1º semestre, diz estudo
BRASÍLIA – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve no primeiro semestre de 2025 movimentos distintos nas duas Casas legislativas: distanciamento com a Câmara e aproximação com o Senado. Levantamento mostra que o alinhamento ao governo na Câmara caiu de 74% para 58% nos seis primeiros meses de 2025 em relação à média de 2024. A queda foi maior em partidos de centro – de 80% para 40%. Já no Senado, a adesão subiu de 50% para 75%, considerando todos as legendas.
A análise foi feita pela consultoria de relações governamentais Ética, com base em sete votações cruciais, entre elas, a do licenciamento ambiental, a do projeto de decreto legislativo para derrubar a alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a sustação da ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Na Câmara, apenas PCdoB, Rede e PT seguiram 100% as orientações do governo nas votações analisadas. PV, PSB, Solidariedade e PDT entregaram 80% dos votos, seguidos pelo PSOL, com 60%. Siglas como União Brasil, PSD, PP e MDB, todos com ministérios, registraram 40% de apoio. Segundo a consultoria, o descolamento já reflete os efeitos iniciais da aproximação das eleições de 2026.
“No ano passado, muitos partidos estavam mais próximos ao governo. Há um movimento de distanciamento dos partidos que compõem o Centrão, mas houve um processo de fidelização dos partidos mais próximos, como o PDT. O cenário eleitoral começou a aparecer na governabilidade”, disse Marcus Deois, sócio-diretor da Ética, ao Estadão/Broadcast.
Já no Senado, o percentual dessas siglas foi maior, com 80% de PSD, MDB e União Brasil, e com 60% do PP. Para a consultoria, o aumento só foi possível porque o próprio governo aceitou algumas derrotas e orientou voto contrário ao que defendia inicialmente, o que representaria que parte do apoio é artificial.
A análise cita também o pouco avanço das propostas prioritárias e as tensões entre Congresso e governo causadas pelo embate pelo IOF e pela liberação de emendas parlamentares.
“A relação entre Executivo e Legislativo se deteriorou ainda mais e culminou – pela primeira vez em três décadas – na derrubada de um decreto presidencial pelo Congresso e na judicialização da pauta do IOF pelo Executivo”, afirma o texto.
A consultoria destaca, porém, que o governo conseguiu travar pautas indesejadas, como o projeto de lei da anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro e os pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Vitórias no Supremo Tribunal Federal
Se, por um lado, o governo enfrentou dificuldades no Congresso; por outro, a consultoria considera que o Palácio do Planalto obteve vitórias em questões travadas no Supremo Tribunal Federal, como no próprio IOF e na fixação da tese que responsabiliza as big techs pela não remoção de conteúdos ilegais após decisão judicial.
“Durante o primeiro semestre do ano, foi mantida a aproximação já verificada nos anos anteriores entre o Supremo Tribunal Federal e o Executivo, com a Corte superior concedendo decisões importantes aos interesses do atual governo, mesmo que isso venha tensionando ainda mais a relação do Judiciário com o Legislativo”, afirma o texto.
A análise considera que os embates promovidos pelo Congresso contra o Executivo e contra o Judiciário representam um cenário de “instabilidade crescente entre os Três Poderes” e que a expectativa para o segundo semestre é de maior resistência do Congresso às pautas do governo, o que pode ser intensificado por eventuais impactos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
“Soma-se a esse quadro os desdobramentos do tarifaço imposto pelos EUA ao Brasil, que podem ser positivos ao governo, se a conclusão das negociações for positiva, mas podem impor dificuldades ainda maiores, se as negociações não forem efetivas e o resultado econômico obrigar medidas de socorro aos setores impactados.”