Depois de muitas tentativas, Bolsonaro convence Alexandre de Moraes a decretar prisão
Jair Bolsonaro deu vários motivos para ser preso ao longo dos últimos meses. Agora, conseguiu convencer Alexandre de Moraes a fazer isso. Primeiro, foi poupado da prisão diante dos indícios de tentativa de obstruir as investigações sobre a trama golpista. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) optou por instalar o monitoramento eletrônico no tornozelo do ex-presidente e impor uma série de medidas — inclusive a proibição de frequentar redes sociais.
Bolsonaro não resistiu e passou a se dizer vítima de uma perseguição. Com declarações postadas em redes sociais, infringiu a ordem de Moraes. Os advogados do ex-presidente explicaram ao ministro que a medida não estava clara e que, dali por diante, o capitão ficaria em silêncio.

Moraes relevou e deixou o réu em liberdade. Mas avisou que, se houvesse próxima vez, seria decretada a prisão preventiva. Aliviado, Bolsonaro foi fotografado no mesmo dia chorando em um culto evangélico.
No último domingo, 3, o choro do ex-presidente havia secado. Remotamente, falou a apoiadores reunidos em Copacabana, no Rio de Janeiro. O discurso foi postado em uma rede social pelo filho Flávio Bolsonaro. Horas depois, o próprio Flávio apagou a publicação, na tentativa de evitar que o pai fosse preso.
Dessa vez, os advogados não poderiam alegar que o cliente não teve controle sobre a postagem. O próprio réu se dispôs a transmitir a mensagem aos apoiadores, ciente da chance enorme de ter o discurso replicado na internet. No fim, a publicação veio da própria família, e não de um seguidor anônimo.
Diante desses elementos, a situação ficou incontornável. Além de Moraes, outros integrantes do STF consideram que houve descumprimento da medida. Ponderou-se dentro do tribunal sobre a conveniência de se decretar a prisão de Bolsonaro agora, a cerca de um mês do julgamento final. Seria como morder a isca jogada pelo ex-presidente. O resultado reforçaria o discurso de que ele é vítima de arbitrariedades do Judiciário.
Por outro lado, se ignorasse mais uma vez o descumprimento das medidas, Moraes ficaria desmoralizado. Afinal, ele anunciou que haveria prisão em caso de novo episódio. Entre todos os elementos sopesados na balança, Moraes optou por seguir a toada anunciada na sessão de sexta-feira, 1º.
No plenário do STF, Moraes reforçou a ideia de que não há pressão capaz de impedi-lo de conduzir as investigações com pulso firme. Em discurso, chamou os suspeitos de tramarem um golpe de “traidores” e acusou a grupo de formar uma “organização criminosa miliciana”. Por fim, defendeu punição rígida a quem atenta contra a democracia.
Prender Bolsonaro agora pode ampliar a crise na relação diplomática do Brasil com os EUA, resultando em efeitos ainda mais deletérios à economia brasileira. A decisão também pode ter como efeito colateral o crescimento da mobilização nas ruas em prol de Bolsonaro.
Moraes está ciente disso. Na sexta-feira, comparou a atuação do outro filho de Bolsonaro, Eduardo, que está nos EUA, à trama golpista de 2022. “O modus operandi é o mesmo. Incentivo a taxações ao Brasil, incentivo a crise econômica que gera crise social, que, por sua vez, gera crise política, para que, novamente, haja uma instabilidade social e a possibilidade de um novo ataque. Ataque golpista”, disse o ministro.
Se estivesse em jogo apenas a aplicação do Código de Processo Penal, Bolsonaro provavelmente estaria há tempos atrás das grades. A coleção de fatores políticos, sociais e econômicos em jogo beneficiou o ex-presidente até aqui. E continua beneficiando. Moraes poderia ter mandando Bolsonaro para uma cela, mas optou pela prisão domiciliar.