5 de agosto de 2025
Politica

Skaf volta à Fiesp, diz que pato está triste e anuncia volta de postura forte contra alta de imposto

O empresário Paulo Skaf foi eleito nesta segunda-feira, 4, para presidir a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a partir de janeiro de 2026. Disputou em chapa única e venceu com 99 sim e um branco. Em entrevista exclusiva à Coluna do Estadão, ele deixa claro que seu retorno ao comando da instituição, quatro anos depois de deixar o posto, significará a retomada do tom crítico em relação à política econômica do Governo Lula, aos juros elevados e ao aumento de impostos.

Uma das marcas da gestão passada de Skaf foi o pato inflável amarelo, exposto na avenida Paulista. O boneco virou sinônimo de críticas à alta carga tributária brasileira e, depois, também foi usado nas manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Atualmente, uma versão em miniatura de borracha ainda fica atrás de sua mesa no escritório, e Skaf brinca dizendo que “o pato está triste porque não gosta de aumento de imposto. Esse negócio do IOF não deixou ele feliz não”.

Diferentemente do atual presidente Josué Gomes, que adota postura avessa aos microfones e evitou polêmicas com o presidente Lula, de quem seu pai, José Alencar foi vice, Skaf está disposto a buscar protagonismo nesse debate público. “É lamentável ainda se criar impostos. Infelizmente a gastança leva, para cobrir as contas, a necessidade de mais imposto. E mais imposto é o que a sociedade brasileira não quer e não aceita mais. Então a Fiesp sempre teve uma postura muito forte contra o aumento de imposto e vai voltar a ter”, avisa.

O empresário promete acompanhar o trabalho do Comitê Gestor para implementação da reforma tributária. “A reforma tem pontos interessantes e pontos bons. Agora precisa ser acompanhada muito de perto porque senão, atrás da reforma que tem como objetivo baratear, aumentar a competitividade, simplificar, agilizar, vem um aumento imposto, e nós não vamos deixar”.

Antes de discutir a redução dos juros, Skaf diz que o governo precisa fazer o dever de casa com as contas públicas. “O que precisa se fazer agora, antes de discutir os juros, é o déficit público. Tem de reduzir a gastança.Se o governo reduzir as suas despesas, ele permite que seja reduzida a taxa de juros, sem ameaça inflacionária, e reduz, vamos dizer, a necessidade de captação de mais dinheiro e aumentar mais a bola do endividamento, enfim. Então tem um segredo em tudo isso, que é o governo brasileiro gastar menos”.

Apesar das críticas ao atual governo, ele rechaça ser antagonista do presidente Lula. “O presidente eleito pelo povo tem o meu respeito. Eu me relacionei em governos passados do governo Lula, recebi o presidente Lula no meu gabinete da Fiesp dezenas de vezes. Sempre que entendíamos que era pelo bem do Brasil, nós estivemos aliados. Eu não tenho essa questão política, eu não peso a questão política. Eu peso a questão do que está certo e errado”, destaca.

O presidente eleito destaca que Fiesp deve ter independência política, diz que não cabe à federação declarar apoio a um candidato à Presidência, mas destacar sua bandeira liberal. “Nós queremos mais menos Estado, menos imposto, menos burocracia, mais modernidade, mais tecnologia, enfim. Isso está na nossa alma. Hoje eu entendo que o governo tem de gastar menos, que os juros são altos causados pelo governo. Qualquer que fosse o governo falaria isso. Eu entendo que essas opções geopolíticas possam não ser as melhores para o Brasil, independente de quem fosse o governo que estivesse fazendo isso eu iria falar a mesma coisa. E também da mesma forma que, todas as ações que o governo faça que esteja no caminho correto, nós vamos apoiar e vamos aplaudir”.

Nesta entrevista, Skaf rebate críticas de que teria usado o comando da Fiesp, no passado, para impulsionar seus projetos políticos – ele foi candidato a governador de São Paulo três vezes e já foi filiado ao PSB, MDB e Republicanos. No momento, diz não ter pretensão de disputar eleições, mas também não descarta.

“Nesse momento eu não tenho nenhuma pretensão. Não estou filiado a partido nenhum e nunca utilizei das entidades durante os anos que estive lá para questões políticas. Tanto é que as vezes em que eu fui candidato a governador de São Paulo eu me licenciei e durante aqueles meses que eu estava licenciado não aparecia na Fiesp. Nunca utilizei das suas entidades. É muito normal quando você é candidato, tem crítica”, afirma.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista

Presidente eleito da Fiesp, Paulo Skaf, em entrevista à Coluna do Estadão, nesta segunda-feira, 4.
Presidente eleito da Fiesp, Paulo Skaf, em entrevista à Coluna do Estadão, nesta segunda-feira, 4.

O sr. é eleito num momento que o Brasil às vésperas de o Brasil enfrentar o tarifaço do governo Trump. Qual deve ser o papel da Fiesp neste momento, e de que forma o sr. pretende se envolver nessa discussão?

Nós temos uma certa urgência para essas providências do tarifaço. Então, eu espero, e vou fazer tudo como presidente eleito para que a Fiesp se envolva e ajude as empresas de todas as formas. Apoiando a diplomacia oficial, apoiando todos aqueles que estiverem envolvidos num tema para tirar essa alta tarifa de 50%, que acabaram ficando em cima de 56% dos produtos que são exportados para os Estados Unidos.

A grande preocupação é que grande parte desses que estão taxados em 50% são setores com predominância de pequenas e médias empresas, que têm mais dificuldade deles próprios se resolverem com seus parceiros americanos e tal.

44% de setores importantes, graças a Deus, conseguiram resolver, graças ao trabalho deles, junto com as empresas americanas, setores que haviam prioridade nos Estados Unidos. O problema diminuiu, mas não ficou resolvido, pelo contrário. Temos aí um desafio muito grande e tudo que puder ser feito para ajudar a solucionar, nós vamos de estar à disposição.

O Sr. pretende bater à porta do governo americano para tentar negociar, a exemplo do que fizeram alguns empresários, um dos exemplos foi o caso da Embraer?

Embora o meu mandato inicie a partir de 1º de janeiro, eu vou estar à disposição dos setores produtivos, no momento que for possível que eu tenha um papel e ajude a solucionar esse problema ou até encontrarmos os caminhos alternativos, eu vou estar à inteira disposição. Mas, para o ano que vem, eu pretendo fazer um trabalho de forma permanente que vou chamar de diplomacia empresarial. Nós não podemos esperar as situações já críticas para correr atrás dos nossos parceiros e correr atrás dos governos, como está acontecendo agora. Nós temos que nos isolar das tempestades políticas. A economia, os negócios não combinam com brigas e confusões. Negócios combinam com serenidade, com tranquilidade.

Essa diplomacia empresarial vai significar um trabalho permanente de empresas, no caso dos Estados Unidos, que eu pretendo fazer isso com outros mercados também, mas prioritariamente com os Estados Unido. Empresas brasileiras, empresas americanas, a Fiesp ajudar esse entrosamento, identificando mercados, dificuldades recíprocas, ajudando nos contatos com os dois governos. De forma que, de maneira permanente, a gente possa ter essa blindagem dos negócios. De forma que tanto para as empresas brasileiras como para as empresas americanas serem de um bom resultado e aumentar compras, vendas, investimentos, enfim..

E, nesse sentido, um dos nossos conselhos, que é o Conselho de Relações Internacionais, eu farei esse conselho global e o presidente desse será o embaixador Roberto Azevedo, que foi ex-presidente da OMC.

O embaixador mora em Nova York. E compondo esse conselho com as melhores cabeças,no Brasil, em São Paulo, em outros estados ou em outros países, nós vamos ter um conselho que tenha uma visão global e faça com que a Fiesp pratique a diplomacia empresarial e ajude a não ter situações onde os setores produtivos possam ser afetados devido a questões que não tem nada a ver com a vida das empresas, do emprego, das relações dos países.

A Fiesp erra ou demora em procurar diretamente os Estados Unidos neste momento?

Neste momento eu não quero falar em nome da Fiesp. A Fiesp tem seu presidente, sua diretoria, e cabe a eles tomar as decisões, as iniciativas. A partir de 1º de janeiro do ano que vem, aí sim, eu vou dar disposição para falar em nome da Fiesp.

Como trabalhar com o presidente Lula para amenizar uma situação como essa do Tarifaço, já que isso pede união de setor privado e governo, e a gente sabe que o senhor e o presidente Lula sempre foram adversários no campo político?

Você sabe que, neste momento, eu não tenho nenhuma ligação política partidária. E assumindo a Fiesp a partir de 1º de janeiro do ano que vem, naturalmente eu sempre vou respeitar os governantes que estiverem nos seus cargos. O presidente da Fiesp tem que ter um relacionamento com o presidente, governadores, ministros, prefeitos, deputados, senadores, independente de partidos e sempre visando o interesse do país.

Quando os políticos ou governantes estiverem certos, a Fiesp deve apoiar e aplaudir. Quando estiverem errados, quando eu falo errado, é errado no sentido de não estarem agindo da melhor forma para o Brasil, no interesse da nação brasileira. A Fiesp deve ter independência em tomar as providências e ter as reações necessárias. Então, o relacionamento vai ser dessa forma.

Nessa questão da relação com os países, é muito importante não só essa relação entre as empresas e essa chamada diplomacia empresarial, é fundamental que se faça as opções corretas. Na minha opinião, o governo brasileiro, nesse momento fez certas opções que não foram convenientes ao Brasil.

No momento em que o governo brasileiro permite navios iranianos atracarem no porto do Rio de Janeiro. Não sei para que o vice-presidente do Brasil esteve na posse do presidente do Irã. Também não entendi muito o presidente Lula estar na Praça Vermelha por comemorações do Dia da Vitória. E depois de tudo isso, ainda numa reunião dos BRICs, o presidente do Lula vai discursar pela desdolarização.

Ou seja, todos esses gestos, todas essas ações, elas provocam o nosso principal cliente de manufaturas, que é os Estados Unidos. Eu não entendo que seja uma boa política, nós provocamos, nós não estarmos bem com os Estados Unidos, por várias razões.

Os Estados Unidos são os maiores investidores no Brasil. Nós temos 27% do investimento estrangeiro no Brasil, acumulado alguma coisa em torno de U$ 300 bilhões, que são empresas brasileiras de capital americano. A nossa exportação de manufaturas, o mercado prioritário, é os Estados Unidos.

As relações do Brasil com os Estados Unidos começaram há 200 anos. Em 1822, quando foi proclamada a independência do Brasil, o primeiro país a reconhecer a independência brasileira do Brasil foram os Estados Unidos em 1824. Então, nós temos uma relação com os Estados Unidos histórica que vai além dos negócios.

Então, eu creio que essa questão, essas opções geopolíticas precisam ser revistas, porque a boa relação com a maior nação do mundo, que representa 22% do PIB mundial deve ser preservada e valorizada e até feito com que as oportunidades cresçam ainda mais, porque há muito potencial de crescimento nas relações comerciais entre os Estados Unidos.

Trump vem adotando tarifaço em vários locais do mundo, mas no caso do Brasil, ele incluiu um fator político para impor essas tarifas. É uma forma de ultrapassar e afetar a soberania brasileira?

A minha leitura é que os Estados Unidos colocaram sobretaxas na maior parte dos países que tinham grandes superávits comerciais, que não é o caso do Brasil. Eu acho que o caso do discurso de desdolarização, depois daquela reunião dos BRICS, o Trump declarou que ameaçou taxar em 100% os países que participavam dos BRICS. Então, nós temos que enxergar isso com clareza e tomarmos essa cautela para essa situação se acalmar.

O que nos interessa agora? Não é ficarmos só criticando o passado, estou lembrando dessas coisas, mas para avaliarmos e identificarmos o verdadeiro problema da questão e buscarmos uma solução para eles. É lógico o que interessa, e eu espero que o presidente Lula tenha sucesso no contato com o presidente Trump, eu espero que os nossos governos se entendam. A nossa diplomacia se entenda. Agora, é fundamental que se acalme essa situação e não tenha dúvida que gestos valem por milhões de palavras. Nós temos que valorizar. É importante que o presidente Lula trate o assunto com os Estados Unidos lembrando que se trata de um país parceiro do Brasil.

O que deveria ter sido feito que o presidente Lula não fez?

Eu me referi sobre o que foi feito e que talvez pudesse não ser feito. O caso dos Brics, pregar desdolarização, foi uma coisa que o presidente Trump não gostou. E talvez nós, no lugar dele, também não iríamos gostar.

E da mesma forma, em relação às relações com Irã, com Rússia. Eu acho que nós temos que ter relações com todos os países do mundo. Mas termos um pouco de cautela. Nesse momento geopolítico, o Brasil precisa fazer suas opções e ter suas prioridades e se dar bem com todo mundo, mas ter suas prioridades. Eu acho que a relação com os Estados Unidos é uma prioridade.

Espero também que não seja usado para a campanha eleitoral do próximo ano uma crise, uma crise que esteja prejudicando empregos, empresas do Brasil e um relacionamento com a maior nação do mundo. Que isso não seja explorado politicamente, com slogans e bandeiras. Porque as eleições do próximo ano nós devemos deixar para o próximo ano. Agora temos muitos assuntos a serem resolvidos no Brasil.

O Brasil, independente desta questão do tarifaço, das relações internacionais, nós estamos vivendo um momento de déficit público, que provoca juros elevados, com a economia, com a inflação, com pressão inflacionária. Então, nós temos muitos desafios do Brasil que nós precisamos resolver. E acho que quanto mais calma, paz, tranquilidade, entendimento entre as pessoas, nós vamos conseguir o melhor resultado.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi muito criticado pelo próprio empresariado aqui no Estado, no momento em que defendeu inicialmente esse tarifaço de Trump. O governador errou?

Olha, eu não vi o Tarcísio defender o tarifaço. Até porque ninguém pode defender qualquer medida que possa onerar empresas brasileiras. Eu acho que ninguém acha o bom tarifaço. Mas o que nós precisamos é ver as razões para que realmente se evite que aconteça e se resolva o problema.

Com o cenário que temos hoje, qual é o cenário que o sr. traça sobre desemprego no setor industrial, de produção? O governador Tarcísio chegou a mencionar a possibilidade de 44 mil a 120 mil empregos a menos no Estado e de uma perda de 3 a 7 bilhões na massa salarial. Vocês já fazem alguma projeção?

O que acontece é o seguinte. Nós exportamos em torno de 40 bilhões de dólares para os Estados Unidos. 46% disso ficaram fora do tarifaço. Então, voltaram para os 10%. Isso significa que teoricamente não vai apertar os 40 bilhões de dólares, 20 bilhões ficaram preservados. Dos outros 20 bilhões, a grande dúvida é quanto vai reduzir devido à tarifa de 50%. Ainda com a esperança que a gente consiga reduzir com a negociação. Mas, supondo que fique do jeito que está, você pode ter uma situação que cai pela metade ou até mais esses outros 20 bilhões de dólares.

Então, vamos imaginar que esses outros virem 10. Então os 40 viram 30. Então, isso significaria uma queda de 10 bilhões de dólares que representam em 40 bilhões uns 25%. Se isso ocorrer desta forma, isso pode representar, em termos de Brasil, uns 100 mil empregos e isso afetaria meio por cento do PIB.

Naturalmente, o ideal é de todos os produtos para que o Brasil não seja penalizado com isso. E encontrar outros caminhos, outras alternativas, para que, caso não seja possível chegar neste ponto ideal (de conseguir um acordo para derrubar os 50%), que se tenha desvio de começo para outro lado, para outros mercados. Mas não é fácil você fazer rapidamente, de um dia para o outro sem conseguir a alternativa. Tem que se buscar.

O ministro Fernando Haddad diz que apresentará um plano de socorro. Na sua avaliação, o que é preciso ter de todo jeito nesse plano e o que não poderia ter de jeito nenhum?

Eu acho que o primeiro ponto é tentar resolver com os Estados Unidos, tentar recuperar e ajustar essas relações dos nossos países para tentar eliminar esse tarifaço. O melhor socorro é o governo brasileiro ter uma atitude, ter gestos que realmente possam fazer com que os Estados Unidos recuem dessa decisão. Permanecendo essa decisão, o esforço empresarial está tendo e vai ter.

Mas alguns setores, principalmente as pequenas e médias empresas que estão mais afetadas, naturalmente uma linha de capital de giro a custos razoáveis, toda ajuda que possa ser dada para essas empresas para que elas tenham tempo até reconduzir, redirecionar esses produtos a outros mercados, o consumo interno, enfim, buscarem em caminhos que não são fáceis. É meio imprevisível porque eu não deixaria de ter a esperança ainda de se construir uma relação com os Estados Unidos no curtíssimo prazo para que a gente saia dessa situação de 50% de imposto sobre alguns produtos. No justifica os Estados Unidos manterem essa medida contra nós.

Mas uma nova política de subsídio gera problemas nas contas públicas.

É, mas nós estamos falando de alguma coisa muito pontual para os brasileiros, estamos falando de um socorro para alguns segmentos para pequenas e médias empresas, se necessário. Se persistir esta alíquota e se empresas não conseguirem, na velocidade necessária, encontrar novos caminhos, naturalmente, o ministro da Fazenda está para anunciar alguns apoios e são apoios pontuais e temporários. Não é nada que represente muito. Mas considerando o acidente de percurso de certa forma, talvez até motivada por atitudes do próprio governo brasileiro que acabou gerando essa situação, eu acho que não dá para abandonar essas empresas.

A Fiesp, na atual gestão, adotou tom mais ameno na questão dos juros. Como o sr. quer levar essa discussão e o que acha que dá para ser feito neste momento?

O que precisa se fazer agora, antes de discutir os juros, é o déficit público. Tem de reduzir a gastança. Se o governo reduzir as suas despesas, ele permite que seja reduzida a taxa de juros, sem ameaça inflacionária, e reduz, vamos dizer, a necessidade de captação de mais dinheiro e aumentar mais a bola do endividamento, enfim. Então tem um segredo em tudo isso, que é o governo brasileiro gastar menos.

O senhor falou que trabalha muito com o cenário de 2026. Qual é esse cenário que o senhor está prevendo? Tem um otimismo?

A Fiesp, para de 2026 a 29, olhando para frente, o que nós pretendemos fazer… O mundo está em um novo momento, nós estamos vivendo um mundo da inteligência artificial, da internet das coisas, é uma nova indústria, é uma nova formação profissional, é uma nova educação, todos nós vamos ter de reciclar. A mudança pessoal, a mudança da vida das pessoas, a mudança das famílias, a mudança das empresas, a mudança dos governos… nós vamos ter de olhar isso para o futuro. E é o que eu pretendo fazer, pretendo fazer com que a Fiesp, eu dizia, ela praticar a diplomacia empresarial, ela fazer um trabalho nos mercados que ajude as empresas a crescerem suas vendas, a crescerem suas compras, crescerem seus investimentos, atrair investimentos para o Brasil. E também internamente a gente sair desse ambiente hostil, de juros altos, de impressão inflacionária, de gastança governamental. Enfim, criarmos um cenário propício, um cenário que realmente leve as empresas a investimentos altos e crescimento, acompanhado desse novo momento que você com a inteligência artificial você tem uma nova retarde para frente.

Então nós vamos, a Fiesp vai ajudar, principalmente a pequena e média empresa a entrar nessa nova era através do Senai. O Senai é nosso braço de formação profissional, temos de ter e vamos ter uma programação muito intensa de ajuda, competitividade das empresas brasileiras e da modernidade das empresas brasileiras. E também uma formação profissional para que a gente tenha esses novos profissionais, essa nova formação, essa visão de modernidade a partir do ano que vem. E paralelo a isso, através do Sesi, vamos fazer com que as nossas escolas não sejam as melhores da cidade de Jundiaí, de São José dos Campos, ou de Ribeirão Preto, mas sim escolas que tenham referências globais, as melhores referências do mundo. E sempre a implantação da tecnologia mais moderna. Então temos um desafio aí que é bastante grande de trazer, vamos dizer, para o Brasil trazer para as nossas empresas para a nossa mão de obra essa nova era que já existe, já está acontecendo e muitas vezes nós estamos perdendo o nosso tempo e nossa energia com todos os assuntos e fugindo dessa desse futuro que precisa ser cuidado com muito carinho.

O senhor ficou 17 anos à frente da Fiesp, sempre com uma postura muito dura em relação a questões políticas. Em alguns momentos o senhor foi criticado de que estaria usando o cargo para pretensões políticas próprias. O senhor tem hoje alguma pretensão de voltar a política e disputar cargo eletivo novamente?

Não, nesse momento eu não tenho nenhuma pretensão. Não estou filiado a partido nenhum e nunca utilizei das entidades durante os anos que estive lá para questões políticas. Tanto é que as vezes em que eu fui candidato a governador de São Paulo eu me licenciei e durante aqueles meses que eu estava licenciado não aparecia na Fiesp. Nunca utilizei das suas entidades. É muito normal quando você é candidato, tem crítica. Quando você tem um tipo de crítica, tem outros tipos de crítica. Também essa questão de ser antagônico ao presidente Lula, eu repito: o presidente eleito pelo povo tem o meu respeito. Eu me relacionei em governos passados do governo Lula, quando Lula era presidente, recebi o presidente Lula meu gabinete da Fiesp dezenas de vezes e sempre que os trabalhos eram direcionados, que nós entendíamos que era pelo bem do Brasil, nós sempre estivemos aliados. Eu não tenho essa questão política, eu não peso a questão política. Eu peso a questão do que está certo e errado. Hoje eu entendo que o governo tem de gastar menos. Qualquer que fosse o governo eu ia falar isso. Eu entendo que os juros são altos causados pelo governo, qualquer que fosse o governo falaria isso. Eu entendo que essas opções geopolíticas possam não ser as melhores pro Brasil, independente de quem fosse o governo que estivesse fazendo isso eu iria falar a mesma coisa. E também da mesma forma que, todas as ações que o governo faça que esteja no caminho correto, nós vamos apoiar e vamos aplaudir. Então é bem apolítica as posições da Fiesp. A Fiesp tem uma visão liberal, não tenha dúvida. Nós queremos mais menos Estado, menos imposto, menos burocracia, mais modernidade, mais tecnologia, enfim. Isso está na nossa alma. Mas isso não significa que a gente não respeite a todos que estejam ocupando os seus cargos e tem suas responsabilidades.

E quando chegar ao período eleitoral, na sua avaliação, a Fiesp tem de declarar um apoio a determinado candidato ou não?

Não cabe à Fiesp declarar apoio a candidato nem estar envolvida na política partidária. Mas ela tem a liberdade, a indústria, os setores produtivos com a visão liberal, ela vai continuar teando. Nós não vamos mudar a nossa visão de país, nossos princípios, nós acreditamos que, para o bem do Brasil, a visão liberal é fundamental. Então naturalmente isso é conhecido. Se for diferente disso, era de se estranhar até. Então eu vejo que, numa democracia, você tem todo o direito de defender aquilo que você acredita que seja melhor para o país. E a Fiesp, durante o período que eu estive lá, sempre se comportou assim e eu penso em comportar e fazer a Fiesp ter essa postura sempre com independência dos governos, mas com apoio sempre que os governos estiverem alinhados na nossa visão, fazendo coisas boas, e criticando quando precisar criticar.

O que é que motivou o senhor a voltar?

Não era meu plano de vida, mas a vida tem planos para você e eu descobri isso. Muitas vezes a gente percebe que as coisas acontecem, que é um plano que a vida te impõe. Houve uma iniciativa de praticamente todos os setores produtivos no ano passado. Fizeram assembleias, enfim, discutiram esse tema e torceram um abaixo-assinado convocando para participar e encabeçar a chapa das eleições deste ano. Eu achei esse movimento tão bacana e eu gosto muito do Brasil, e isso me fez aceitar a voltar a se candidatar como presidente nesta chapa que fomos eleitos. E eu penso poder ajudar bastante o Brasil a partir do ano que vem, durante os 4 anos seguintes, de 2026 a 29.

A indústria já representou 35% do PIB nacional hoje acho que roda em torno dos 11%.

A indústria de transformação 12%, mais a indústria de construção, que a Fiesp representa também, mais a indústria da mineração. Aí sobe esse número acima de 20% do PIB se você soma todas essas áreas. Mas já representou mais. Não tenha dúvida que houve essa mutação no mundo inteiro. A indústria de transformação sente, e sente mais no Brasil porque a indústria, falando da indústria de transformação, tem normalmente ciclos longos. Quando você tem instabilidade, quando você tem juros altos, quando você tem o velho e sempre famoso custo Brasil, infelizmente. O Delfim [Netto, ex-ministro da Fazenda] dizia: o Custo Brasil é dois corredores, um vai com uma sacola, uma mochila de pedras nas costas, e outro vai levezinho. Os nossos concorrentes lá fora pagando juros baixos, não tendo essas dificuldades que nós temos aqui, esse custo Brasil nas costas, isso realmente faz a diferença. Então eu espero que a gente consiga tirar isso das costas do empresariado, do trabalhador brasileiro, das empresas brasileiras e a gente tenha realmente competitividade, tenha condições parecidas ou semelhantes aos nossos concorrentes lá fora.

Esse tamanho hoje é o tamanho da indústria do Brasil, essa representatividade no PIB, ou ainda tem condições de voltar a patamares antigos?

Não podemos nos acomodar nesse tamanho, nós temos de aproveitar essa grande transformação. Sabe que momentos de grandes transformações nascem oportunidades, e é por isso que eu disse que eu estou preocupado pelos próximos 4 anos, a partir do janeiro do ano que vem, para que a gente ajude as empresas e forme mão de obra para essa nova indústria, para essa indústria de grandes transformações tecnológicas com a utilização da inteligência artificial. Nessa mexida se busque produtividade, se busque eficiência para que a gente realmente tenha um trabalho de diplomacia empresarial onde a gente vá valorizar marcas brasileiras, produtos brasileiros, produtos com valor agregado. Para que a gente possa vender uma imagem diferenciada no exterior de qualidade, de beleza, de design. E que tudo isso leve a gente poder ter um crescimento industrial novamente, seja a indústria transformação, seja os outros segmentos da indústria, para que realmente faça bem ao Brasil. Porque a indústria é necessária para um país. A indústria paga bons salários, ela desenvolve tecnologia, ela desenvolve regiões, ela recolhe impostos. Aliás, a indústria de transformação é quem mais paga imposto neste país. A indústria de transformação paga 30% de imposto. A cada real arrecadado de impostos, mais de 30% é da indústria de transformação. Então é um patrimônio que o Brasil precisa preservar, precisa cuidar direitinho, e precisa fazer que ele realmente se desenvolva. E o que as empresas pedem não são favores ou subsídios. É até uma maldade quando se fala que a indústria gosta de favores. A indústria não quer favor de nada. O que a gente precisa ter são as condições que os nossos concorrentes têm. Porque assim como outros podem ter um custo num ambiente favorável, competitivo de juros, de crédito, de carga tributária e tudo, o que se pega é isso. São condições semelhantes às dos nossos concorrentes. Senão você vai pegar a indústria mais moderna que tenha no mundo, você instala ela no Brasil, ela pede a competitividade dela, porque ela vai pagar juros alto, o imposto é alto, aí tem de ter escolta porque não tem segurança pública para os produtos, têm dificuldade a fazer seguros de mercadoria. São problemas que não existem outras partes. Então nós precisamos consertar. Tirar esse ambiente hostil e fazer um ambiente que estimule o investimento, estimule o progresso. Junto com tudo isso nesse novo momento de tecnologia, de inteligência artificial, que nós vamos fazer um trabalho, como já disse, muito forte, da Fiesp com as empresas, muito fortes no Senai, com a formação profissional dando oportunidade aos brasileiros a terem sucesso seja como trabalhadores, como funcionários, seja como empresários. Vamos estimular muito o empreendedorismo, pequenas, médias, empresas. E vamos estimular também esse trabalho internacional de exportação, de importação, de investimentos estrangeiros aqui, de investirmos em empresas brasileiras do exterior. Temos de fazer um trabalho realmente uma história nova, aproveitando esse momento novo com um evento da inteligência artificial que muda a vida das pessoas e das empresas, e também vamos ter de mudar a vida dos governos. Os governos vão ter de buscar sua eficiência, nós não podemos ter máquinas enferrujadas públicas mais. Nós temos de ter um país moderno em todos os sentidos. E tudo que nós podemos ajudar para isso,vamos ajudar também. Assim como a educação pública. Eu espero que a gente consiga que esse trabalho que a gente vai fazer no Sesi de levarmos a qualidade da educação dentro dos novos tempos ao topo, com referências internacionais, que isso irradie na escola pública também. Porque a educação para o país é muito importante. Não podemos aceitar que as nossas crianças não tenham boa qualidade de educação na escola pública brasileira. Então tudo isso faz parte não de reclamação. Faz parte de um desafio que como brasileiros nós vamos ter e eu acho que é com, talvez o conjunto dessas coisas todas, que me levaram a aceitar o desafio de voltar à Fiesp a partir do ano que vem.

O Pato volta também? Eu estou olhando para trás do senhor a imagem tem o Pato, o famoso Pato da Fiesp. Volta junto agora ou não?

Ele está lá porque é a história da Fiesp. Mas ele está lá, de vez em quando ele conversa comigo.

O que é que esse Pato tem dito?

O Pato está meio triste porque ele não gosta de aumento de imposto. Esse negócio do IOF não deixou ele feliz não.

Mas a reforma tributária…

A reforma tributária é um outro desafio que nós precisamos agora acompanhar o Comitê Gestor. Ela tem pontos positivos, ela tem outros pontos que dependem de regulamentação que precisam ser acompanhados. Como por exemplo as alíquotas, não estão definidas. É fundamental o acompanhamento e vamos fazer o acompanhamento desse Comitê Gestor para realmente definição daquilo que ainda não foi definido. Por outro lado ela tem outros pontos, como por exemplo o prazo de recolhimento dos impostos a partir da geração do recebimento daquela venda, o imposto por fora, ou seja, é sem mais um imposto e não dentro por dentro como era antes. Acaba a guerra fiscal, porque ele sai da origem para o destino. Então ela tem pontos interessantes e pontos bons. Agora precisa ser acompanhada muito de perto a regulamentação dela para, por exemplo, a alíquota tem de ser bem calibrada porque se não atrás da reforma que tem como objetivo baratear, aumentar a competitividade, simplificar, agilizar, vem um aumento imposto, e nós não vamos deixar. E isso vai acontecer a partir do ano que vem. Quer dizer, já está aprovada, agora é regulamentação. Mas essas simulações vão acontecer a partir do próximo ano e nós vamos acompanhar muito de perto. E é lamentável, falei do IOF, é lamentável ainda se criar impostos, aumento de impostos. Infelizmente a gastança leva, para cobrir as contas, a necessidade de mais imposto. E mais imposto é o que a sociedade brasileira não quer e não aceita mais. Então a Fiesp sempre teve uma postura muito forte contra o aumento de imposto e vai voltar a ter. Porque imposto se tem de mais. E nós queremos é qualidade do serviço público, o que nós queremos é redução de gastos, e gastar com melhor qualidade. Quando o governo gasta, gastar com boa qualidade e gastar menos. Reduzir o tamanho do Estado. O Estado brasileiro está maior do que o Brasil. O Estado, o governo é para servir a população. Aqui no Brasil, o Estado, o governo, acaba a população tendo de ser penalizada pelo tamanho dele, pelos custos dele, pelas despesas dele. Você veja que hoje a arrecadação de impostos no Brasil ultrapassa R$ 3 trilhões e falta dinheiro para tudo. Então é sempre a mesma história: aumenta imposto, R$ 3 trilhões em imposto se arrecada, e falta dinheiro, falta para isso, falta para aquilo. Então nós precisamos corrigir isso, como brasileiros unidos. Uma outra coisa que é muito importante é que haja uma união entre os poderes. A praça é dos 3 Poderes. Você sabe que, na praça de Brasília, os prédios são equidistantes. Uma praça de 3 poderes. Todos devem respeitar uns aos outros, devem ter um entendimento. E o que nós mais precisamos do Brasil agora é isso. É uma pacificação para que todo mundo se una a trabalhar por esse futuro que está aí já. E o Brasil está muitas vezes desconcentrado desse foco tão importante que é esse futuro com tecnologias diferentes, tecnologias novas, transformando as coisas a cada minuto, a cada dia. Nós precisamos pegar essa velocidade e aproveitar disso para fazer uma diferença para que o Brasil realmente se reposicione no mundo, de uma forma muito mais competitiva, muito melhor em todos os sentidos. Nós temos muitas vantagens, nós temos de melhorá-las e ampliá-las.

 

 

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