Bolsonaro confronta, Moraes radicaliza e as armas de Trump miram o Brasil
Quanto mais Jair Bolsonaro estica a corda e confronta, mais o ministro Alexandre de Moraes reage endurecendo as medidas cautelares. É assim que os dois vão acostumando a sociedade com a possibilidade de prisão do ex-presidente após a condenação final pelo Supremo, prevista para setembro, por tentativa de golpe. Quando, e se, ocorrer, a prisão definitiva já terá sido “naturalizada” até pelos bolsonaristas.
Há, porém, um obstáculo no meio do caminho: a chantagem de Donald Trump, exigindo o fim imediato dos processos contra Bolsonaro, em troca do recuo da tarifa de 50% para grande parte de produtos exportados pelo Brasil para os EUA. Moraes não tem alternativa. Ceder a Trump está fora de cogitação.

Ao confrontar Moraes, o Supremo e as instituições, mais e mais, Bolsonaro só agrava a sua própria situação jurídica e a do filho 03, Eduardo Bolsonaro, também adepto da tática de provocação. De outro lado, ao reagir com tornozeleira e agora com prisão domiciliar, Moraes pode agravar a retaliação de Trump contra ele, sua família, os colegas ministros, o Supremo, as indústrias, os empregos e o PIB do Brasil. E não tem saída.
Depois da tornozeleira e da restrição de circulação e comunicação, Bolsonaro sabia o que estava fazendo, ao entrar no domingo, ao vivo, pelo celular do senador Flávio Bolsonaro, num ato ostensivo contra o STF e a soberania brasileira. São movimentos combinados com Eduardo Bolsonaro, que ataca governadores, presidente da Câmara, aliados e até o porta-voz do grupo, deputado Nikolas Ferreira.
Nikolas engoliu em seco e foi ao ato da Avenida Paulista, mas Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior, Romeu Zema e Ronaldo Caiado não deram as caras. Cada um tem lá o seu pretexto, mas vamos combinar? Como um governador poderia ir a ato contra o STF e de adoração a Trump, algoz do Brasil?
No dia seguinte, horas antes da decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro, o peculiar senador Marcos Do Val pousou no aeroporto de Brasília, foi recebido pela PF e também ganhou tornozeleira, por desdenhar da proibição de sair do País e usar um passaporte diplomático escondido em casa. Coincidência de datas? Ou parte da provocação?
Moraes devolve aprofundando as cautelares, inclusive uma nova busca e apreensão contra Bolsonaro, mas as armas e as sanções de Trump continuam viradas para o Brasil: as investigações com base na Seção 301, até do Pix e da Rua 25 de Março, e o veto a negócios com a Rússia. Todos os lados estão radicalizando e a pergunta imediata é: como fica o início do tarifaço nesta quarta-feira? Que surpresa Trump nos reserva?