Escultura de Burle Marx prevista por Niemeyer no projeto de Brasília é inaugurada por Lula; veja
BRASÍLIA — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, inauguram nesta quinta-feira, 7, uma escultura do paisagista Roberto Burle Marx, na fachada do Palácio da Justiça, sede do ministério. Ela é intitulada “Em Processo”.
A obra ajuda a completar o palácio desenhado pelo arquiteto Oscar Nienmeyer, uma vez que o projeto original previa uma obra de arte vinculada à fachada do Palácio da Justiça, assim como há nos outros palácios: do Itamaraty (sede do Ministério das Relações Exteriores), do Supremo Tribunal Federal e da Alvorada.

No Itamaraty, o “Meteoro”, de Bruno Giorgi, foi instalado na década de 1960 no espelho d’água da fachada principal — simboliza os continentes em diálogo, flutuando sobre as águas. Já “As Banhistas”, de Alfredo Ceschiatti, compõe a fachada da residência oficial do presidente da República. Construído por último, o Palácio da Justiça nunca recebeu a escultura prevista por Nienmeyer.
A instalação de uma obra de Burle Marx conversa com o Palácio da Justiça, inaugurado em 1972 com paisagismo do artista e dois parceiros, José Waldemar Tabacow e Haruyoshi Ono. Os jardins interno e externo abrigam dezenas de espécies de plantas.

Ao assumir o ministério, no começo de 2024, Lewandowski instituiu a Comissão Consultiva de Curadoria para orientar a recuperação, o restauro e a modernização do patrimônio do Palácio da Justiça. Uma das prioridades do grupo foi tentar reforçar o diálogo com o Palácio do Itamaraty, erguido do outro lado da Esplanada de forma espelhada, com a inserção de uma escultura nos jardins de sua fachada principal.
“Com base em pesquisa histórica e apuração de diretrizes de Oscar Nienmeyer para os palácios, foi proposta uma solução que reforçasse a presença de Burle Marx no Palácio da Justiça”, diz o ministério.
Os especialistas escolheram uma escultura abrigada no Sítio Roberto Burle Marx, no Rio de Janeiro, cuja área abriga uma importante coleção de plantas tropicais e semitropicais. O sítio em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, foi reconhecido em 2021 como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O jardim tropical foi o 23º bem brasileiro agraciado com a honraria. A classificação é concedida a lugares considerados de valor universal importante para a cultura mundial.
Paulista de família pernambucana, Burle Marx, morto em 1994 aos 84 anos, passou a maior parte da vida no Rio e morou mais de 20 anos no sítio. O paisagista é conhecido especialmente por ter introduzido ao modernismo o uso de plantas nativas brasileiras, criando o que se chama de paisagismo tropical moderno.
A obra chegou a Brasília em junho e foi instalada no jardim externo do palácio, entre a segunda e a terceira queda-d’água, “de modo a se integrar de forma harmoniosa, tanto em relação ao edifício, quanto à concepção paisagística proposta pelo escritório Burle Marx”, segundo orientação da comissão do ministério.
A grande contribuição de Burle Marx ao paisagismo consistiu em valorizar a flora nativa brasileira, sendo pioneiro, ainda nos anos 1970, na defesa da biodiversidade e na denúncia de crimes ambientais.

“Além da participação de Burle Marx na concepção dos jardins dos palácios Itamaraty e da Justiça, a presença de uma escultura do artista na Esplanada dos Ministérios reforça sua importância para Brasília e destaca seu papel central na interseção entre arquitetura, arte e natureza”, diz o ministério.
“O significado da escultura ‘em processo’ na capital federal transcende os aspectos estéticos. Em um momento marcado por desafios ligados à sustentabilidade e à preservação ambiental, a obra de Burle Marx ganha relevância renovada. A escultura confirma Roberto Burle Marx como intérprete fundamental do Brasil. Um artista que refletiu sobre arquitetura, arte, ecologia e história, deixando-nos um legado que dialoga com os desafios contemporâneos”.