12 de agosto de 2025
Politica

Lula acelera pacote social e mira classe média e periferia para tentar recuperar apoio até a eleição

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca aproveitar ao máximo a leve melhora em seus índices de popularidade após apostar em um discurso de justiça tributária nas redes. A gestão petista decidiu acelerar o lançamento de programas sociais, ao mesmo tempo em que Lula intensificou agendas junto à população e recorreu à retórica da soberania nacional como resposta ao tarifaço anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra o Brasil.

Entre as iniciativas estão o programa Gás para Todos, que prevê a distribuição de botijões de gás para famílias de baixa renda; o Luz do Povo, que isenta essas famílias do pagamento da conta de luz ou oferece descontos; e o Agora tem Especialistas, voltado à redução da fila de espera no Sistema Único de Saúde (SUS). A previsão é que o primeiro programa seja implementado este mês, por meio de uma Medida Provisória. Os outros dois já tiveram suas MPs publicadas.

Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acelera lançamento de programas sociais em ano pré-eleitoral.
Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acelera lançamento de programas sociais em ano pré-eleitoral.

O governo ainda planeja lançar uma nova linha de crédito para pequenas reformas em residências, que tem o nome provisório de Melhorias. Também está no cardápio de ações um programa de financiamento para a compra de motos e carros para trabalhadores de aplicativos.

Além do pacote voltado à população de baixa renda, o governo pretende beneficiar a classe média com o projeto de lei que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil por mês. Outra aposta nessa direção foi o lançamento de uma nova faixa do Minha Casa Minha Vida, voltada para famílias com renda de até R$ 12 mil mensais.

Além disso, a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública é considerada outra medida com impacto sobre a classe média urbana. No início deste mês, o PT realizou seu encontro nacional, no qual essas e outras propostas prioritárias foram discutidas com a bancada petista no Congresso.

Um integrante do primeiro escalão do governo ouvido pela reportagem afirmou que o lema no Palácio do Planalto é aproveitar o momento de alguma melhora na popularidade para apresentar entregas concretas à população.

Segundo esse interlocutor, o governo Lula entrou em uma nova fase após a crise envolvendo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), conseguindo uma rara imposição em relação à direita nas redes sociais ao emplacar o discurso de justiça tributária, centrado na ideia de “ricos versus pobres”.

Esse mesmo ministro avalia ainda que a sobretaxa de 50% anunciada por Trump sobre produtos brasileiros exportados aos EUA acabou fortalecendo o governo Lula.

Segundo a última pesquisa Genial/Quaest, publicada uma semana após o anúncio do tarifaço, a reprovação ao governo petista recuou de 57% para 53%, enquanto a aprovação variou de 40% para 43%. Outros levantamentos mostraram dados semelhantes, à exceção do Datafolha, que registrou estabilidade, com 40% de reprovação e 29% de aprovação da gestão petista.

Lula intensifica agendas com a população

Após uma intensa agenda internacional entre maio e junho, Lula passou a dar prioridade a compromissos com participação popular. Em julho, participou de nove eventos públicos – contra quatro registrados em junho –, o que fez do mês o período com maior presença direta do presidente entre a população em 2025 até agora.

Desde o fim de junho, o petista realizou duas agendas em São Paulo: uma visita à Favela do Moinho, na região central da capital, e outra à comunidade do Jardim Rochdale, em Osasco, na Grande São Paulo. Em ambas, entrou nas casas de moradores, conversou com famílias e produziu conteúdo para suas redes sociais. Aproveitou ainda os encontros para reforçar discursos em defesa da justiça tributária e da soberania nacional.

“Quem ganha R$ 1 milhão por ano vai pagar um pouquinho para a gente fazer com que as pessoas que ganham menos não paguem. Como se chama isso, aumento de imposto? Não, se chama justiça tributária. É isso que estamos fazendo, e por isso tem algumas pessoas chiando”, declarou Lula, em agenda em São João da Barra (RJ).

Após o anúncio do tarifaço, o governo incorporou a bandeira do Brasil e as cores verde e amarela em sua comunicação oficial – símbolos tradicionalmente associados ao bolsonarismo – numa tentativa de confrontar a narrativa nacionalista sustentada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem Lula tem chamado de “traidor da pátria”.

Essas ações vêm na esteira de discursos em defesa da justiça social, intensificados após uma série de derrotas no Congresso. Sob a liderança do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Pereira, o governo deixou em segundo plano o slogan “União e Reconstrução” e busca se afastar da identidade associada ao Centrão.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da economia Fernando Haddad visitam a favela do Moinho, na região central de São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da economia Fernando Haddad visitam a favela do Moinho, na região central de São Paulo

Segundo um dirigente petista, a estratégia para o segundo semestre é ampliar a presença pública de Lula, com foco em lançamentos de programas sociais e participações em entrevistas. Embora o governo negue que as ações tenham viés eleitoreiro, os programas anunciados, se bem-sucedidos, tendem a melhorar o desempenho da gestão, fortalecendo o PT para o ano eleitoral.

Para o cientista político e professor da FGV Marco Teixeira, as recentes ações de Lula reforçam a marca de um governo de esquerda e resgatam elementos das gestões anteriores do petista. “Talvez seja isso o que hoje diferencia a esquerda da direita. E esse movimento ocorre em um bom momento para o governo, pois ajuda a demarcar ainda mais sua posição”, afirma.

Segundo Teixeira, Lula encontrou um novo mote após a disputa sobre o IOF no Congresso e conseguiu reduzir o nível de atrito nas duas Casas legislativas após o tarifaço anunciado por Trump.

“Não foi por mérito do governo, mas por ação do próprio Eduardo Bolsonaro e de Trump, que acabaram, de certa forma, forçando o Congresso a se afastar da chamada oposição, especialmente da ala mais barulhenta. O governo vive, assim, uma espécie de tempestade perfeita, só que favorável a ele.”

A cientista política e professora da FGV Lara Mesquita avalia que o novo discurso do presidente impõe um custo político elevado ao Congresso. “Se o Legislativo derrubar esses programas, reforça-se a imagem de um Executivo que defende os pobres contra um Congresso alinhado aos interesses dos ricos. Mas me parece pouco provável que os parlamentares optem por esse caminho, dado o ônus em termos de imagem pública.”

 

 

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