Quem é o assessor de Braga Netto que fez anotações sobre Bolsonaro querer se manter no poder
RIO – Dados obtidos pela Polícia Federal no celular do coronel da reserva do Exército Flávio Peregrino, de 57 anos, assessor do general Walter Braga Netto, revelaram bastidores inéditos das ações golpistas realizadas após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Homem de confiança do ex-ministro da Defesa, Peregrino ocupou cargos estratégicos na gestão bolsonarista na Presidência da República.
Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) – reduto do ex-presidente Bolsonaro, do ex-vice-presidente, Hamilton Mourão, e de outros cinco ex-ministros da gestão bolsonarista –, Peregrino foi alvo de operação da PF em dezembro do ano passado, quando Braga Netto foi preso preventivamente por obstrução de Justiça em investigação por tentativa de golpe de Estado.

Além de Bolsonaro, Mourão e Peregrino, são egressos da Aman, o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), o general Fernando Azevedo e Silva (Defesa), o general Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), atual governador de São Paulo, e o capitão Wagner Rosário (Controladoria Geral da União).
Peregrino se formou na Aman, em 1989, 12 anos após Bolsonaro deixar a escola de preparação militar. O coronel da reserva é especialista em Educação Física pela Escola de Educação Física do Exército e mestre em Aperfeiçoamento de Oficiais pela Escola de Aperfeiçoamento do Exército.
O coronel passou a integrar o governo Bolsonaro em janeiro de 2019, logo após o ex-presidente assumir o cargo. Foi nomeado no dia 31 do primeiro mês de gestão bolsonarista assessor militar do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI).
Em março de 2020, deixou o GSI para assumir o cargo de assessor-chefe da Assessoria Especial de Comunicação Social da Casa Civil da Presidência da República, sob o comando de Braga Netto. Em julho de 2020, após 31 anos como oficial do Exército, foi transferido para a reserva remunerada.
Um ano depois de ser nomeado assessor-chefe da Casa Civil, em abril de 2021, Peregrino acompanhou Braga Netto da Casa Civil para a Defesa como assessor especial do ministro.
Em maio daquele ano, foi homenageado com a Medalha da Vitória e com a Ordem do Mérito da Defesa. A Medalha da Vitória é destinada a agraciar “militares das Forças Armadas, civis nacionais, militares e civis estrangeiros, policiais e bombeiros militares, organizações militares e instituições civis nacionais, nacionais ou estrangeiras, que tenham contribuído para a difusão dos feitos dos ex-combatentes durante a Segunda Guerra Mundial, participado de conflitos internacionais na defesa dos interesses do País, integrado missões de paz, prestado serviços relevantes ou apoiado o Ministério da Defesa no cumprimento de suas missões constitucionais”.
Já a Ordem do Mérito da Defesa é concedida aos militares que prestarem relevantes serviços às Forças Armadas.
O coronel deixou o governo em julho de 2022. Após deixar o Executivo, o general passou a ocupar um cargo no PL, partido de Bolsonaro. Foi lá que a PF encontrou, na mesa usada por Peregrino na sede da sigla em Brasília, uma pasta com documentos de interesse da investigação. Um deles era um manuscrito com o título “operação 142″, em alusão ao artigo da Constituição que passou a ser usado com interpretação distorcida por bolsonaristas para estimular a ruptura institucional.
Em agosto do ano passado, o coronel foi nomeado no gabinete do deputado distrital Thiago Manzoni (PL) na Câmara Legislativa do Distrito Federal. O deputado distrital é uma das principais apostas do PL para a Câmara dos Deputados em 2026.
Como mostrou o Estadão, após Peregrino ser alvo de operação da PF, Thiago Manzoni declarou que o coronel “desempenha suas funções com excelência e respeitando os valores éticos mais elevados”. A defesa de Peregrino não se manifestou sobre a operação.