12 de agosto de 2025
Politica

A cortina de fumaça do motim contra o STF

Por que a direita, capitaneada pelo PL e por alguns parlamentares do Centrão, se amotinou no Congresso após a decisão do STF de decretar prisão domiciliar para Jair Bolsonaro?

Eles sabem que são minoria e que uma agenda de confronto institucional aberto dificilmente avançaria. Num sistema multipartidário e fragmentado como o brasileiro, em que nenhuma força política é majoritária, retaliações legislativas contra o Supremo são improváveis. Exigiria um grau de unidade e coordenação entre Congresso e Executivo que, hoje, simplesmente não existe. Portanto, as chances de retaliação que venham as restringir os poderes institucionais do Supremo são praticamente nulas.

A resposta está no “position-taking” – a política de sinalizar alguma “fidelidade” para a plateia de eleitores bolsonaristas e para o próprio Bolsonaro. Os parlamentares de direita caminham no fio da navalha: de um lado, precisam sinalizar a Bolsonaro e à sua base que não irão abandoná-lo; de outro, querem se livrar dele o quanto antes e reafirmar compromisso com a democracia para atrair os eleitores de centro contra a reeleição de Lula.

Hugo Motta reassumiu a cadeira de presidente da Câmara após dois dias de motim dos bolsonaristas
Hugo Motta reassumiu a cadeira de presidente da Câmara após dois dias de motim dos bolsonaristas

Ao contrário dos bolsonaristas mais radicais do PL, os deputados do Centrão não são ideológicos, mas fundamentalmente pragmáticos. Sua bússola é a sobrevivência eleitoral. Se, como tudo indica, Bolsonaro for condenado pelo STF por tentativa de golpe e perder força política gradualmente, qual será a melhor estratégia para candidatos da centro-direita em 2026?

Uma estratégia que pode se revelar dominante é prometer, de forma calculada e ambígua, anistiar Bolsonaro caso eleito – o suficiente para parecer convincente à sua base, mas sem compromisso real de cumprir. Assim, captariam o apoio do clã e dos eleitores mais radicais em 2026, mas evitariam o risco de reabilitá-lo politicamente. Um Bolsonaro livre e elegível poderia ameaçar diretamente o projeto de reeleição do novo presidente eleito.

Trair Bolsonaro após as eleições não é isento de riscos, mas tampouco inédito, considerando as inúmeras traições do próprio Bolsonaro a antigos aliados. Certamente provocaria a ira da direita mais radical, mas permitiria ao novo governo mais espaço para implementar sua agenda e se legitimar como uma alternativa de direita democrática que não confronta decisões de outras instituições.

O único ponto concreto que até o momento uniu essa reação no Congresso não foi anistia nem impeachment de ministros do Supremo, mas o fim do foro privilegiado. A mudança, apoiada até por parlamentares de esquerda, livraria deputados e senadores do radar do STF em casos como o das suspeitas de fraude nas emendas parlamentares. O Supremo já investiga 35 legisladores por suposto desvio de recursos e porte ilegal de arma.

Essa aliança entre Centrão e extrema direita contra o Supremo é, portanto, menos uma sinalização de retaliação real e mais uma cortina de fumaça. O Centrão só enfrentaria o STF por extrema necessidade e quando a sua sobrevivência eleitoral estivesse em risco – e, desta vez, a necessidade atende pelo nome de mudança do foro privilegiado.

 

 

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