14 de agosto de 2025
Politica

Anistia aos golpistas de 8 de Janeiro é bomba deixada por Arthur Lira para Motta, apontam líderes

BRASÍLIA – Líderes de bancadas da Câmara dos Deputados avaliam que o ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) deixou uma “bomba” para o sucessor Hugo Motta (Republicanos-PB) ao não ter resolvido a questão da anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A avaliação foi feita após a oposição ter ocupado o plenário da Casa em resposta à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Procurado, Lira não atendeu a reportagem. O espaço segue aberto.

O bloco reivindicou a anistia e restrição de Poderes do Supremo Tribunal Federal (STF). A retomada dos trabalhos se deu na quarta-feira, 6. Nas negociações, Lira foi chamado pela oposição para colaborar na resolução do conflito, o que preocupou interlocutores de Motta.

Sessão da Câmara presidida pelo presidente da Casa, Hugo Motta, após protesto da oposição
Sessão da Câmara presidida pelo presidente da Casa, Hugo Motta, após protesto da oposição

Reservadamente, líderes saíram em defesa de Motta e avaliaram que, ao chamar Lira, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), quis desqualificar o atual presidente da Câmara. Além disso, para deputados, Sóstenes foi a Lira quando não viu mais possibilidade de acordo. Eles argumentam que líderes já haviam decidido retomar os trabalhos.

Para um líder ouvido pelo Estadão/Broadcast, Motta não conduziu o assunto de modo errado porque, ao assumir o posto deixou bem claro que se pautaria através do diálogo. Segundo esse líder, a decisão de Lira de postergar o assunto resultou em um “acúmulo de insatisfações”.

Para outro líder “solidário” a Motta, a postergação de Lira piorou a crise porque a oposição agora tem as armas esgotadas e busca o “confronto direto” com o atual presidente da Câmara. Segundo esse deputado, a forma como Motta atua para evitar confrontos é confundida equivocamente como sinal de fraqueza.

Outro aliado de Motta chegou a classificar a “bomba” que teria sido deixada por Lira como “de efeito retardado”, considerando que os temas agora reivindicados pela oposição já estavam em “fogo brando” na Casa.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, líderes consideram que o saldo principal da mobilização da oposição foi uma convergência com o Centrão em relação ao descontentamento com o STF, com a discussão de temas em suposta resposta à Corte máxima como o fim do foro privilegiado e a restauração de prerrogativas parlamentares.

Para aliado do presidente da Câmara, as reivindicações da oposição com maior chance de passar na Casa são a restrição a decisões monocráticas de ministros do STF – por já ter sido debatida no Senado – e o fim do foro privilegiado – por se tratar de um tema que, de modo geral, a Casa deseja.

Com relação à marcha de Sóstenes até o gabinete de Lira, esse deputado avalia que o líder do PL procurou o ex-presidente da Câmara enquanto cardeal do PP, e não para resolver a questão. No mesmo dia, Sóstenes anunciou, ao lado de líderes do PP e do União, que havia um acordo entre eles para que fosse debatido o foro privilegiado e depois a anistia.

Sala ‘emprestada’

Questionado pela reportagem se quis desqualificar Motta ao recorrer a Lira, o líder do PL disse que ligou para o ex-presidente da Câmara após uma discordância com Motta na tarde daquela quarta-feira. “Quando eu liguei para o Lira, é porque nós tínhamos tido um problema (com Hugo Motta)”, afirmou.

Por conta do desentendimento, Sóstenes afirmou não ter se sentido confortável para ir à reunião de líderes à noite. O líder do PL, então, disse que o ex-presidente da Câmara lhe telefonou e lhe “emprestou” o gabinete, para que pudesse conversar com ele e outros cardeais do Centrão. “Ele (Lira) me emprestou a sala”, declarou.

Após o debate no gabinete de Lira, o grupo se dirigiu a Motta. Ainda de acordo com o líder do PL, a discordância que o deixou desconfortável foi a mesma pela qual ele pediu perdão a Motta no plenário. Da tribuna, Sóstenes disse na quinta, 7, que “não foi correto” com Motta “no privado” e agradeceu o presidente por ter sido “muito paciente”.

Procurado pelo Estadão/Broadcast, Sóstenes não disse qual foi o impasse. A reportagem não obteve resposta de Lira.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *