Prisão de Bolsonaro abre brecha para surpresas em 2026
A prisão de Jair Bolsonaro, ocorrida há pouco mais de uma semana, aumentou a incerteza sobre a sucessão presidencial de 2026. A tendência de o ex-presidente indicar um nome de sua família se acentuou; mas, ao mesmo tempo, a dificuldade de articulação imposta pela reclusão e a radicalização do discurso abrem espaço para que candidaturas alternativas na direita e na centro-direita ganhem força, tornando o caminho para o segundo turno menos dependente do apoio explícito do clã Bolsonaro.
O capital político do ex-presidente é inegável e se sustenta em uma base fiel e mobilizada. Pesquisa recente do Datafolha, divulgada no início de agosto, ilustra a contínua polarização do país: 39% dos entrevistados se declararam petistas, enquanto 37% se identificaram como bolsonaristas. Com um empate técnico, fica evidente que, mesmo de sua residência em Brasília e com comunicação restrita, Bolsonaro mantém uma força considerável para transferir votos e influenciar a disputa. É com base nesse apoio que se cogita com força o nome de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, como herdeiro político, especialmente diante da provável inelegibilidade do deputado Eduardo Bolsonaro.

Contudo, a prisão precoce, acompanhada de críticas e ameaças de sanções por parte do governo dos Estados Unidos, tende a radicalizar ainda mais o discurso do ex-presidente e de seu núcleo mais próximo. A narrativa se concentra em temas como a “defesa da democracia”, pautas que, embora importantes para galvanizar sua base e eleger parlamentares alinhados, podem afastar o eleitor mediano, mais preocupado com a economia e a segurança pública. Insistir nessa tecla pode se revelar uma armadilha para uma campanha presidencial que precisa ampliar seu alcance para além dos já convertidos.
Além disso, as severas restrições impostas pela prisão domiciliar, que limitam visitas e qualquer tipo de comunicação externa, criam um obstáculo prático monumental. A coordenação com lideranças políticas, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e outros partidos, torna-se uma operação complexa. A costura de uma candidatura presidencial forte, que envolve a negociação da vice e de palanques regionais, depende de um diálogo constante e ágil, algo que a condição de detento de Bolsonaro dificulta enormemente.
Nesse contexto, dois cenários alternativos podem emergir. O primeiro favorece as pré-candidaturas de centro-direita já estabelecidas. Com o campo bolsonarista enfrentando dificuldades de organização, nomes como os governadores Ratinho Jr. (PSD), Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União Brasil) — que já se lançaram na corrida presidencial — podem ganhar tração. Em um primeiro turno fragmentado, qualquer um deles que demonstre competitividade pode catalisar um movimento de voto útil, aglutinando o eleitorado que busca uma alternativa para derrotar o PT, independentemente da bênção de Bolsonaro.
Um segundo cenário, mais imprevisível, é o surgimento de um outsider, alguém com um perfil semelhante ao de Pablo Marçal na eleição paulista de 2022. Embora o próprio Marçal esteja inelegível para 2026, uma figura com apelo popular e discurso antissistema poderia tentar capitalizar sobre a frustração de parte da base bolsonarista com as dificuldades de seu líder. A percepção de que Bolsonaro está em um momento de fraqueza pode encorajar aventureiros políticos a se lançarem na disputa, bastando o apoio de um partido, mesmo que pequeno, para oferecer uma legenda.
É claro que a polarização entre lulismo e bolsonarismo segue como o principal eixo da política brasileira. Contudo, com tantos meses nos separando do primeiro turno, os fatores gerados pela prisão do ex-presidente podem reorganizar a disputa. O caminho para o segundo turno, que antes parecia passar obrigatoriamente pela chancela de Bolsonaro, agora se mostra um pouco mais aberto a candidaturas alternativas.