15 de agosto de 2025
Politica

PF achou fortuna e elo com prefeito de São Bernardo em bunker de operador de propinas

Uma coincidência colocou o prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Marcelo Lima (Podemos), na mira da Polícia Federal por suspeita de corrupção. Ele foi afastado do cargo nesta quinta-feira, 14, na Operação Estafeta.

Policiais federais tinham um mandado de prisão preventiva para cumprir em outro inquérito, sem relação com o prefeito. O alvo era João Paulo Prestes Silveira, investigado por golpes na internet. E o endereço obtido em bancos de dados oficiais era a Avenida Dom Jaime de Barros Câmara, no noroeste da cidade. Funcionários confirmaram que o imóvel pertencia a Paulo.

Os federais montaram campana e abordaram o carro do morador no estacionamento do condomínio. Descobriram que o Paulo não era o mesmo que procuravam. O dono do imóvel era na verdade Paulo Iran Paulino Costa. No apartamento, em um escritório trancado, os agentes encontraram uma fortuna – R$ 14 milhões em espécie, entre reais e dólares. A PF classificou o imóvel como um “verdadeiro bunker” de dinheiro.

Pagamentos eram registrados em planilhas manuscritas.
Pagamentos eram registrados em planilhas manuscritas.

Os policiais federais também encontraram no endereço comprovantes de pagamento de despesas pessoais do prefeito e da família dele, como faturas do cartão de crédito e contas telefônicas. Havia ainda crachás de veículos para acesso à sede da prefeitura.

Paulo Iran Paulino Costa vem sendo apontado como operador financeiro de propinas ao prefeito. Para os investigadores, Marcelo é o verdadeiro dono dos milhões que estavam no apartamento.

Paulo é descrito na investigação como “um agente central na arrecadação e distribuição de valores provenientes de diversas empresas que possuem contratos com a prefeitura de São Bernardo do Campo”. Oficialmente, ele trabalha como servidor comissionado no gabinete do deputado estadual Rodrigo Moraes (PL). O Estadão pediu manifestação da defesa do operador. O espaço está aberto.

Credencial para acesso à prefeitura encontrada no apartamento de Paulo.
Credencial para acesso à prefeitura encontrada no apartamento de Paulo.

No celular dele havia conversas com o prefeito desde julho de 2022. Marcelo mandava mensagens como: “vai guardando”, “anote tudo para o posterior acerto”, “encaminhe a lista do que tem para entrar para mim”. A contabilidade era registrada em planilhas manuscritas.

A Polícia Federal afirma que a relação entre eles era de “subordinação financeira, com Marcelo solicitando pagamentos e Paulo Iran os executando”, sempre com “vigilância estrita sobre os valores“.

Até despesas com viagens, faculdade da filha do prefeito e personal na academia era Paulo quem pagava, de acordo com a investigação. A PF encontrou anotações: “3.430,00 boleto”, “39.445,00 apto”, “5.000,00 personal” e “5.880,00 Zana”. Zana, segundo a Polícia Federal, é Rosângela dos Santos Lima Fernandes, a primeira-dama.

Dois celulares foram apreendidos com Paulo. Os diálogos que ele mantinha eram cifrados. Os investigadores afirmam que “americanos” era a senha para dólares, “figurinha” para pagamentos em dinheiro e “quilos” para altas quantias.

Boleto e comprovante de pagamento de cartão de crédito do prefeito apreendido no 'bunker'.
Boleto e comprovante de pagamento de cartão de crédito do prefeito apreendido no ‘bunker’.

O dinheiro seria desviado de contratos da prefeitura, em áreas como obras, saúde e limpeza urbana, com a participação de secretários municipais e vereadores, segundo a investigação.

O desembargador Roberto Porto, do Tribunal de Justiça de São Paulo, decretou a prisão de Paulo. A Polícia Federal chegou a pedir a prisão do prefeito, mas o Ministério Público foi contra e a Justiça de São Paulo negou. Além do afastamento, Marcelo Lima terá que usar tornozeleira eletrônica e é obrigado a ficar em casa à noite e nos finais de semana.

 

 

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