15 de agosto de 2025
Politica

Zema endurece discurso para se firmar como candidato mais à direita sem Bolsonaro em 2026

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), aposta no endurecimento do discurso e de suas propostas para se firmar como o candidato presidencial mais à direita para a eleição de 2026 em um cenário sem Jair Bolsonaro (PL). Embora tenha se notabilizado por falas polêmicas desde que entrou na política, o mineiro subiu o tom nos últimos meses como parte de uma estratégia para se diferenciar de outros nomes que correm na mesma raia.

A tendência é que a tática se intensifique a partir deste sábado, 16, quando Zema oficializa a pré-candidatura ao Palácio do Planalto durante o Encontro Nacional do Novo realizado na sede da Câmara Americana de Comércio para o Brasil.

O governador Romeu Zema (Novo) durante entrevista à TV Estadão no mês passado Foto
O governador Romeu Zema (Novo) durante entrevista à TV Estadão no mês passado Foto

O governador será a principal atração, mas ao longo do dia estão previstas outras participações. Entre elas, dois advogados recém-filiados que tiveram atritos com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na ação sobre a tentativa de golpe: o desembargador aposentado Sebastião Coelho e Jeffrey Chiquini, cuja palestra ganhou o nome de “O dia em que eu olhei para a toga – e não baixei a cabeça”.

Recentemente, Zema defendeu a saída do Brasil dos Brics, disse que o STF é subserviente ao governo federal e promove perseguições políticas, relativizou a existência da ditadura militar no Brasil entre 1964 e 1985 e indicou ser favorável à criação de uma lei para lidar com pessoas em situação de rua de forma semelhante a carros estacionados em locais irregulares – os veículos são guinchados.

Zema culpa o governo de Luiz Inácio do Lula da Silva (PT) pela decisão dos Estados Unidos de impor tarifa de 50% às exportações brasileiras, embora tenha criticado a atitude de Donald Trump, e concorda em colocar a anistia a Bolsonaro na mesa de negociação com o governo americano.

Ao mesmo tempo, é crítico da atuação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no exterior. “O Brasil primeiro, Zema presidente”, slogan escolhido para a pré-campanha, tem a ver com o contexto do tarifaço, mas também remete ao utilizado por Bolsonaro nos últimos anos – sem o componente religioso de “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”.

“Se o Trump queria retaliar quem estava contra os interesses dos Estados Unidos, deveria ter retaliado as pessoas, não a nação. Tem gente que pode perder o emprego, pode quebrar por causa dessa retaliação que o Lula provocou. Um erro não justifica o outro”, disse Zema ao podcast Flow nesta quinta-feira, 14. Minas Gerais é um dos Estados mais afetados pela taxação das exportações.

Outra das apostas da pré-campanha é convencer os eleitores de que o governador mineiro herdou a gestão estadual com graves problemas financeiros após uma administração petista, o que lhe credenciaria a repetir a fórmula a nível nacional. “O PT destruiu Minas, e foi o que me motivou a entrar na política. Agora, eles estão novamente destruindo o Brasil”, escreveu Zema nas redes sociais nesta semana.

“O Zema é o pré-candidato que mais critica o Lula e também o que defendeu medidas mais claras sobre o que fazer, como retirar o Brasil dos Brics”, disse Eduardo Ribeiro, presidente do Novo. “Ele também critica os abusos do Supremo, que eu não vejo outros presidenciáveis fazendo. [A atuação do tribunal] É algo que genuinamente o incomoda”, acrescentou o dirigente partidário.

Para Frederico Papatella, vice-presidente do Novo em Minas Gerais, não há uma estratégia nas declarações, mas “Zema sendo Zema”. “É o governador falando o que pensa e representando o cidadão que está revoltado e incomodado com o que está sendo feito no País”, diz.

Na avaliação da cúpula do Novo, a vantagem de Zema é que há consenso na sigla em torno da candidatura do governador a presidente. O partido debateu internamente se era mais vantajoso ele se candidatar a deputado federal por Minas Gerais, atuando como um puxador de votos e ajudando a ultrapassar a cláusula de barreira. De acordo com Ribeiro, a discussão está superada.

A visão no Novo é que outros postulantes de oposição navegam em um cenário mais adverso do que o governador de Minas: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) aguarda uma sinalização de Bolsonaro, Ronaldo Caiado (União-GO) vê o partido com um pé no governo Lula, enquanto Ratinho Jr. (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS) disputam a indicação pela sigla de Gilberto Kassab (PSD).

A candidatura de Zema não depende do aval de Bolsonaro. O governador se reuniu com o ex-presidente no mês passado para comunicar que lançaria a pré-candidatura. Segundo aliados, ouviu como resposta que quanto mais candidatos de direita no primeiro turno, melhor.

A tese, que Bolsonaro passou a defender em público dias antes de utilizar a tornozeleira eletrônica, parte da premissa de que todos se unirão no segundo turno contra Lula. Nessa visão, a profusão dos nomes de candidatos oposicionistas não é um problema, mas uma solução.

“Quanto mais candidatos regionais a gente tiver, mais fácil é levar essa mensagem para lugares mais distantes. É mais fácil, por exemplo, o Ratinho conseguir converter votos de centro-direita no Paraná do que o Caiado. E isso vale para todos os demais governadores. Quem se sobressair com certeza estará credenciado a disputar o segundo turno com o candidato da esquerda”, disse Papatella.

Desconhecimento e estrutura limitada são desafios

A tarefa de Zema não será fácil. Seis a cada 10 eleitores não o conhecem, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada em junho. É o maior nível de desconhecimento entre os nomes oposicionistas. Para reverter o quadro, o governador pretende intensificar as viagens pelo Brasil nos próximos meses. Há ceticismo no próprio entorno de Zema sobre as condições para a estratégia ser executada.

A estrutura oferecida pelo Novo é mais enxuta e o orçamento mais apertado do que o dos concorrentes, o que impõe restrições à pré-campanha e também durante o período eleitoral. Como não superou a cláusula de barreira na última eleição, Zema não poderá participar do horário eleitoral gratuito a não ser que o Novo faça uma coligação com outro partido.

Outra dificuldade é que a sigla têm baixa capilaridade. Além do próprio Zema, são apenas um senador, 4 deputados federais, 7 estaduais, 19 prefeitos e 263 vereadores com mandato em todo Brasil.

Em parte dos Estados do Norte e do Nordeste – como Pará, Piauí e Paraíba – sequer há políticos eleitos pelo Novo. Por isso, integrantes da pré-campanha temem que a movimentação eleitoral de Zema fique restrita, ou ao menos concentrada, nas regiões Sul e Sudeste.

A situação é minimizada pelo presidente do Novo. “Nós temos lideranças fora dessas duas regiões. O Zema vai ter palanque para levar sua mensagem nas eleições de 2026”, garantiu Ribeiro. “O Novo tem um alto potencial de captação privada [de dinheiro]. Hoje eu diria que a gente vai para a eleição com recursos de um partido médio”, acrescentou ele.

Em Minas, a sucessão de Zema está pacificada. O candidato será o vice-governador, Mateus Simões (Novo). Um dos primeiros integrantes do Novo a vencer uma eleição – vereador de Belo Horizonte, em 2016 –, ele mantém conversas para obter o apoio do PSD ou até mesmo se filiar ao partido no próximo ano.

Simões trabalha para unificar a direita no Estado. Ele conseguiu selar o apoio de Bolsonaro e da federação União Brasil-PP após ceder as duas vagas ao Senado na chapa. O desafio, agora, é convencer o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), que aparece como favorito nas pesquisas, a desistir da candidatura e apoiá-lo.

 

 

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