Construa a sua felicidade

Ser feliz é uma aspiração de todos os humanos. Só que o mundo não anda nada bem. Além da oscilação de humor dos que comandam a geopolítica, a natureza é que está com a palavra. E ela está brava.

Além do mais, a economia sempre vai mal. O que se ganha é insuficiente para fazer face às despesas. A pressa que domina nosso dia-a-dia nos deixa estressados. Será que ainda nos encantamos com aquelas pequenas gotas de prazer?

Cientistas americanos resolveram fazer uma pesquisa que chamaram “Big Joy Project” (Projeto Grande Alegria). Algo relativamente simples: mandar por e-mail sugestões de atividades voltadas a aumentar o bem-estar. Foi assim que, durante uma semana, mais de dezessete mil pessoas de cento e sessenta e nove países receberam essas mensagens.

Os pesquisadores ficaram surpresos com o efeito produzido pelo programa. Constataram que é possível espalhar alegria pelo mundo. Ao comparar o que sentiam antes do programa e o que passaram a vivenciar depois, a maioria dos que participaram disseram que houve melhorias. Isso significou mais bem-estar emocional, acréscimo de emoções positivas, sensação de maior controle sobre a própria felicidade. E, melhor ainda, mais disposição para ajudar os outros.

Os impactos sobre a saúde foram evidentes. Menos estresse, mais intensa a sensação de estar bem, sono de qualidade. Pequenas mudanças podem produzir grandes efeitos. O propósito do “Big Joy” era mostrar às pessoas que alegria é uma habilidade que cada um pode desenvolver. E isso foi obtido mediante algumas práticas recomendadas aos pesquisados.

A primeira delas: encontrar razões para se encantar. O encantamento pode ser descrito como emoção poderosa que se sente ao contemplar algo vasto, completo ou além do que normalmente se vivencia. Maior conexão com o essencial e redução das insignificâncias ao que elas devem representar para nós: quase nada, diante da imensidão do universo. A natureza é fonte inesgotável de admiração, assim como pessoas inspiradoras, protagonistas de gestos de gentileza ou coragem.

A segunda: sintonizar-se com a gratidão. Essa virtude fraca e humilde é vitamina para a saúde mental. Comece por fazer uma pequena relação de cinco pessoas às quais você deveria agradecer. Escrever cartas de gratidão resulta em benefícios incríveis para quem as escreve. E deve fazer bem naqueles que as recebem.

Terceiro: fazer algo gentil. Fazer o bem faz bem para quem faz. Doar alivia a própria dor. Gastar com os outros compra mais alegria do que gastar conosco mesmos. Espalhar gentileza é mágico: cria um ciclo virtuoso. Altruísmo gera mais altruísmo. É uma excelente forma de se conectar com os outros e de exercer a alteridade.

Quarto: celebrar a alegria do outro. A alegria se multiplica se compartilhada. Quando se ouve uma coisa boa e se consegue capitalizar isso, pratica-se algo mutuamente benéfico. Em lugar de alimentar conversas lúgubres, relatos de enfermidades ou desgraças, peça para o seu interlocutor lembrar-se de algo alegre, divertido, inspirador o que tenha suscitado orgulho.

Em quinto lugar, sintonizar o que importa. Precisamos investir no senso de significado. Quais os valores fundamentais e quais aqueles que são desimportantes? Relacione os principais valores para você e o que faz para mantê-los no radar de sua vida.

Depois, em sexto, refletir sobre o bem que se pode praticar. Como poso contribuir com o mundo. Em que aspecto? Qual o meu melhor talento? O que me faz sentir-me bem e vinculado à grande energia que move o universo?

Sétimo: mudar a perspectiva. As experiências negativas não precisam conduzir a consequências também negativas. Repensar as dificuldades, encontrar o lado positivo, aprender com o erro e com o fracasso, extrair da tristeza motivo de alegria. É um aprendizado constante. Mas quem chega lá será, com certeza, mais feliz.

A oitava reflexão: uma porta de entrada para alegria. Pequenas porções de alegria são mentalmente nutritivas. Práticas focadas na alegria não são um luxo que se possa adiar para mais tarde. Ao contrário, pequenas gotas de bem-estar fazem superar os momentos difíceis.

Em nono lugar: encontrar a melhor fórmula de alegria para nós mesmos. Existem inúmeras fontes de alegria. Algumas serão mais apetitosas do que outras. Cada um é diferente e tem suas preferências. O segredo é encontrar a combinação certa.

O que o faz sorrir? Lembrar-se da infância, ter saudades de pessoas amadas, de amigos queridos, de familiares que já se foram? Sentir o perfume de uma flor que você sentiu quando criança? Ou lembrar-se de um doce caseiro e procurar encontrá-lo junto àquelas cozinheiras que ainda o preparam? Reler um livro que foi importante na sua formação? Procurar aquele amigo com o qual você deixou de falar, por algum motivo ou somente por devotar-se ao acessório da rotina e deixar de procurá-lo?

Enfim, há momentos que podem servir de gatilho para você desanuviar, deixar as tensões e preocupações de lado e que são pequenos tijolos na edificação permanente daquilo que se pode chamar de felicidade humana possível.