17 de agosto de 2025
Politica

União Brasil e PP vão debater saída de filiados do governo Lula em ato para ratificar federação

O União Brasil e o Progressistas (PP) se preparam para oficializar a federação entre os partidos. Nesta terça-feira, 19, os dirigentes das siglas vão se reunir em Brasília para aprovar o estatuto da federação e ratificar a aliança. Além das formalidades, o encontro deve tratar do possível desembarque do governo Lula.

Desde o anúncio da federação União Progressista, em abril, lideranças das duas legendas têm defendido o rompimento com a gestão petista. À época, o vice-presidente do União Brasil, Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto, defendeu que a saída do governo ocorresse logo após a formalização da federação.

Ciro Nogueira e Antônio Rueda em lançamento da federação entre PP e União Brasil, denominada União Progressista
Ciro Nogueira e Antônio Rueda em lançamento da federação entre PP e União Brasil, denominada União Progressista

O desembarque, no entanto, enfrenta resistência de setores mais pragmáticos, já que União Brasil e Progressistas controlam quatro ministérios, além de cargos no segundo escalão e diretorias de estatais, como a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Mesmo entre aqueles que defendem a entrega dos cargos, há um entendimento de que essa decisão não será tomada no encontro, devendo se arrastar pelos próximos meses. Enquanto isso, cresce a pressão sobre os ministros da federação que, de um lado, são pressionados por correligionários a deixar o governo e, de outro, pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a defender publicamente a gestão.

Pressão do União mira ministro filiado, não indicações pessoais

O deputado José Nelto (União-GO) espera que a reunião desta terça funcione como um ultimato aos ministros do partido.

Na prática, a sigla comanda três pastas: Comunicação; Integração e Desenvolvimento Regional; e Turismo. Porém, os dois primeiros ministérios são chefiados, respectivamente, por Waldez Góes e Frederico Siqueira, que, embora indicados pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), não são filiados ao partido. Já o Turismo está sob o comando do deputado Celso Sabino (União-PA).

Segundo Nelto, os titulares da Comunicação e da Integração e Desenvolvimento Regional não podem ser considerados ministros do União, mas, sim, indicações pessoais de Alcolumbre. Já Sabino, que realmente é filiado à legenda, acaba sendo o principal alvo das pressões de correligionários para entregar o cargo.

Congressistas do União ouvidos pela reportagem sugerem que, caso decidam manter seus cargos, os ministros adotem uma posição de independência, já que não são filiados ao partido e, por isso, a federação não poderia obrigá-los a pedir demissão.

Apesar da possibilidade, o deputado Dr. Zacharias Calil (União-GO) considera “antiético” e “imoral” manter cargos no governo federal quando o partido tem um candidato à Presidência da República. Em abril, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), lançou a sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.

“Isso é enganar a população. Chegar na eleição e dizer que é oposição depois de passar meses compondo o governo”, afirmou Calil. Essa avaliação é compartilhada por outros membros do partido, que argumentam que seria um erro “entrar no ano eleitoral com as digitais no governo Lula”.

Futuro eleitoral de Fufuca dificulta pressão do Progressistas

Já o Progressistas tem apenas uma pasta no governo: o Ministério do Esporte, comandado pelo deputado André Fufuca (MA). A maioria da bancada é contra sua permanência, afirmando que a sigla sequer deveria ter embarcado no governo.

Congressistas do partido ouvidos pela reportagem dizem que o governo nunca demonstrou interesse no partido, especialmente porque o presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), foi ministro na gestão de Jair Bolsonaro (PL). Além disso, avaliam que o Ministério do Esporte pouco beneficiou a legenda.

Apesar da pressão para deixar o cargo, aliados reconhecem que a posição é estratégica para Fufuca, que pretende concorrer ao Senado pelo Maranhão em 2026. A ambição eleitoral dificulta oposição ao governo Lula, já que eleitores do Estado preferem candidatos da esquerda.

Um interlocutor de Nogueira afirmou que o senador, amigo de Fufuca, dificilmente o obrigaria a sair do governo. Já aliados do ministro dizem que ele não pretende deixar a Esplanada. Segundo correligionários, a saída do partido poderia ser uma solução, mas é medida considerada drástica, já que Fufuca é dirigente da sigla no Maranhão. A decisão final caberá a Nogueira.

Outra discussão marcada para terça é sobre formar chapas estaduais com partidos como o PT. “Alguns parlamentares pedem liberdade para escolher”, disse a deputada Fernanda Pessoa (União-CE), alertando que restrições podem causar debandada.

Apesar de parte da bancada nordestina simpatizar com Bolsonaro, o União Brasil mantém proximidade com o governo. O deputado Maurício Neves (PP-SP) admite risco de debandada, mas aposta que o peso da maior bancada do Congresso e a fatia do fundo partidário podem atrair novos nomes e ajudar a federação a chegar a 140 deputados.

Nogueira afirma que a decisão será tomada depois. “Eu vou lutar para que não, mas não é só minha decisão”, disse.

União Progressista será maior força partidária do País

Na terça-feira, 19, os dois partidos realizam suas últimas convenções antes da formalização da federação. Pela manhã, o União Brasil se reúne no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, enquanto o Progressistas se encontra no Senado. À tarde, ambos os partidos promovem a primeira convenção oficial da federação.

Após a formalização, a federação ainda precisa ser homologada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para ter validade jurídica. O registro é analisado por um ministro e, em seguida, julgado pelo plenário. Só com a aprovação do tribunal a federação adquire personalidade jurídica, podendo disputar eleições, acessar recursos do fundo partidário e ser incluída nos sistemas oficiais.

Juntos, União Brasil e Progressistas somam 109 deputados federais e 15 senadores, formando a maior bancada da Câmara e uma das maiores do Senado. A federação também reúne 12,4 mil vereadores, 1,3 mil prefeitos, 186 deputados estaduais, quatro distritais, seis governadores, quatro vice-governadores e 1,2 mil vice-prefeitos, consolidando-se como a maior força partidária do país.

Cargos no governo e oposição no Congresso marcam federação

Sem uma resolução à vista, a federação seguirá ocupando cargos no governo Lula, enquanto seus parlamentares votam contra a gestão no Congresso. No início do mês, os partidos aderiram à obstrução liderada pela oposição na Câmara e no Senado, em protesto à prisão de Bolsonaro.

Deputados favoráveis ao desembarque consideraram positivo o apoio da federação à obstrução no Congresso.

Os futuros presidentes da federação, Nogueira e Antônio Rueda (União), já indicaram que não devem apoiar a reeleição de Lula em 2026. Nogueira tem defendido que os ministros da federação entreguem imediatamente seus cargos, enquanto Rueda intensificou ataques ao presidente, acusando Lula de “provocar” e “instigar” o tarifaço ao defender o fortalecimento comercial da Cúpula dos Brics.

A hostilidade da federação contra o governo é tão intensa que, na semana passada, Lula se reuniu com ministros do União Brasil e reclamou das críticas da legenda. O presidente tem buscado aproximação com políticos de centro-direita e já sinalizou interesse em conversar com Rueda.

 

 

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