18 de agosto de 2025
Politica

Dez anos do brado pontifício

Francisco, o Papa Ecológico, entregou à humanidade há dez anos a Encíclica “Laudato Si, mi’ Signore”: Louvado sejas, meu Senhor. O canto do homem do milênio, o pobrezinho Francisco de Assis, cujo nome adotou em seu pontificado. É um alerta “sobre o cuidado da casa comum”, aquela “nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”.

Clama a Terra “contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou”. Temos sido irresponsáveis, como se ela existisse para que a saqueássemos, sem nada repor. “Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra” e que “o nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos”.

Diante da deterioração global do ambiente, Francisco se dirigiu “a cada pessoa que habita neste planeta”. Todos são chamados a cuidar da natureza, porque “nada neste mundo nos é indiferente”.

Depois de invocar a lição de seus predecessores, Francisco acrescenta que ela acolheu a contribuição “de inúmeros cientistas, filósofos, teólogos e organizações sociais que enriqueceram o pensamento da Igreja sobre estas questões”. O Papa explicitou a compatibilidade entre ciência e religião, ancorada nas incontestáveis evidências da desfiguração ambiental.

O comprometimento da integridade da natureza tem raízes éticas e espirituais. Impõe-se uma conversão ecológica, transformação radical do ser humano. Que deve “passar do consumo ao sacrifício, da avidez à generosidade, do desperdício à capacidade de partilha.

Exorta a humanidade a acompanhar o modelo de Francisco, “místico e peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo”. Para quem “uma ecologia integral requer abertura para categorias que transcendem a linguagem das ciências das ciências exatas ou da biologia e nos põem em contato com a essência do ser humano”.

Esse era Francisco de Assis, de quem seu discípulo São Boaventura, dizia que “enchendo-se da maior ternura ao considerar a origem comum de todas as coisas, dava a todas as criaturas – por mais desprezíveis que parecessem – o doce nome de irmãos e irmãs”.

O apelo do Papa derivou do “urgente desafio de proteger a nossa casa comum”. A “preocupação de unir toda a família humana em busca de um desenvolvimento sustentável e integral”. Ele confiou em que “a humanidade possui ainda a capacidade de colaborar” na regeneração da natureza e agradeceu a quantos já trabalham nessa direção. Contemplou os jovens, que “exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos”.

Lançou um convite “urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta”. Embora o movimento ecológico mundial tenha percorrido “um longo e rico caminho”, “infelizmente muitos esforços na busca de soluções concretas” acabam, “com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros”. Já observara o Santo Padre que, “mesmo entre os crentes” atitudes que dificultam os caminhos de solução “vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas”.

A “Laudato Si” percorreu os principais problemas que hoje afligem a humanidade: poluição, resíduos e cultura do descarte. Conceituou o clima como “bem comum, um bem de todos e para todos”. Já não é possível “mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas”. A escassez hídrica é fenômeno universal. A perda da biodiversidade resulta da depredação dos recursos terrestres. Tudo converge para a deterioração da qualidade de vida humana e degradação social.

Dez anos depois, tudo parece ter piorado. Arrefeceu-se o entusiasmo pela adoção de medidas para redução das emissões venenosas. O negacionismo ainda conquista adeptos. O planeta ainda está longe de vivenciar uma ecologia integral. Como obter a conversão ecológica proposta por Francisco? Releiamos, meditemos e sigamos a “Laudato Si”. Talvez não haja muito mais tempo antes do apocalipse que se avizinha, mais rapidamente do que se poderia esperar.

 

 

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