Prisão domiciliar de Bolsonaro atrasa negociações da direita bolsonarista para 2026
A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atrapalhou as articulações da direita para as eleições de 2026. A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes dificulta o contato entre as principais lideranças políticas e o ex-presidente, além de impedi-lo de viajar pelo País para tentar conquistar a simpatia de eleitores de Lula. Segundo aliados, também se torna delicado para eles falarem de eleição com o ex-presidente em meio à prioridade clara da família de livrá-lo da condenação e da prisão.
Bolsonaro havia sido designado pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, para conduzir as articulações sobre as eleições para o Senado Federal, consideradas estratégicas para a direita. Como apenas ele tem a palavra final sobre os nomes a serem lançados, as discussões estão travadas.

Segundo interlocutores, além de afetar as articulações, a prisão ainda deixa Bolsonaro sem voz, já que está impedido de usar redes sociais, dar entrevistas ou se manifestar publicamente. A decisão de Moraes impede Bolsonaro de usar celular, diretamente ou por intermédio de terceiros, além de tirar fotos ou gravar imagens.
A expectativa é que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) assuma o papel de principal interlocutor, já que Moraes autorizou visitas de filhos (exceto Eduardo, que é investigado), cunhadas e netos sem comunicação prévia à Justiça. Aliados avaliam que o filho 01 é visto como o mais equilibrado nas declarações, com visão política alinhada à do pai — visão compartilhada pelo próprio ex-presidente, segundo parlamentares que o visitaram. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) também é vista como possível porta-voz, mas seu pouco trânsito entre lideranças políticas e articulações eleitorais limita as discussões.
Aliados aguardam a autorização de visitas para avançar nas conversas, mas afirmam que o foco imediato será tentar reverter a prisão do ex-presidente, já que existe o receio de que tratar das eleições de 2026 possa soar indelicado, diante da situação do ex-presidente.
O senador Ciro Nogueira (PP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), visitaram o ex-presidente ainda na primeira semana da prisão domiciliar. Após a visita, o senador afirmou que, “apesar de triste”, Bolsonaro continuava “inabalável”.
Aliados do governador paulista ressaltaram que Tarcísio não tratou de eleições com o ex-presidente. A avaliação é que, como principal cotado para disputar a Presidência da República, o governador poderia soar oportunista.
Segundo o deputado Junior Amaral (PL-MG), que esteve com Bolsonaro na última semana, “praticamente nada de política” foi tratado. “Houve apenas conversas mais sensíveis, que pela minha lealdade, assim, é difícil tratar externamente”, disse.
O deputado Domingos Sávio (PL-MG), que visitou o ex-presidente nesta segunda-feira, 18, também negou ter conversado sobre as eleições e afirmou que Bolsonaro está com a “consciência 100% tranquila de que não cometeu crime e, por pior que sejam as perspectivas, ele tem que continuar acreditando que ele deve ser inocentado”.
De acordo com o deputado, o ex-presidente acredita que o foco deve ser nas articulações na Câmara dos Deputados sobre pautas como o fim do foro privilegiado e, por isso, os dois não trataram do assunto.
Domingos Sávio contou ainda que, durante o encontro, lamentou não poder tirar fotos com Bolsonaro, que respondeu mostrando a tornozeleira, dizendo que a situação era “humilhante”. Para o deputado, apesar de ainda apresentar sintomas, como soluço e refluxo, o ex-presidente está “vigoroso”, “firme” e “seguro”.
A principal preocupação de aliados é com a saúde de Bolsonaro. No último sábado, ele foi autorizado por Moraes a deixar a prisão domiciliar para realizar uma bateria de exames solicitados pela equipe médica.
Os resultados apontaram duas infecções pulmonares recentes, possivelmente decorrentes de broncoaspiração, além da persistência de esofagite e gastrite. Ele seguirá tratamento em casa para esses problemas, além de cuidados contínuos contra hipertensão arterial e refluxo gastroesofágico.
Bolsonaro passou por uma cirurgia intestinal em abril – a sétima desde a facada de 2018 – após passar mal durante uma agenda pelo Nordeste. O projeto, batizado de Rota 22, foi retomado em junho e tinha como objetivo conquistar a simpatia de quem votou em Lula, apresentando obras iniciadas ou entregues pela gestão Bolsonaro. Duas semanas depois ele voltou a passar mal e foi diagnosticado com pneumonia.
Neste domingo, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que o pai está “preso, doente e sendo lentamente assassinado a cada dia que passa”, ao criticar governadores de direita que, segundo ele, se comportam como “ratos”.
Governadores vêm se articulando para ocupar o espaço político de Bolsonaro. Na semana passada, Tarcísio, Ronaldo Caiado (União-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR), Eduardo Leite (PSD-RS), Romeu Zema (Novo-MG), Mauro Mendes (União-MT), Cláudio Castro (PL-RJ) e Jorginho Mello (PL-SC) participaram de uma reunião para discutir estratégias conjuntas sobre tarifaço. Um novo encontro está marcado para terça-feira, 19, a convite do presidente do União Brasil, Antonio de Rueda, com eleições de 2026 e a situação jurídica de Bolsonaro na pauta, como mostrou a Coluna do Estadão.
As articulações entre governadores, somadas à ausência deles em atos de apoio a Bolsonaro no início de agosto causou mal-estar entre seus aliados.
“Isso é desumano, sujo, oportunista e canalha. Não existe outra forma de qualificar tais atitudes. Fingem que vão resolver algo, falam em indulto para os perseguidos da falsa ‘trama golpista’, mas depois se escondem atrás da ‘prudência e sofisticação técnica’, lavam as mãos e seguem seus governos como se nada tivesse acontecido. Alegam ter feito sua parte, mas não passam de cúmplices covardes”, escreveu Carlos em sua conta no X, afirmando ter tentando ser o mais “paciente possível”.
Segundo interlocutores, Bolsonaro classificou a fala de Carlos como infeliz, dizendo que se tratava mais de um desabafo de um filho sob pressão emocional do que de uma figura política. Ele ainda lamentou não poder ter contato direto permanente com o vereador, que está no Rio de Janeiro enquanto o pai está em Brasília, e com o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com quem está proibido de manter contato por determinação de Moraes.