21 de agosto de 2025
Politica

Dino diz que Brasil vive ‘deserto institucional’ e que há ‘tentação’ de ativismo judicial

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino afirmou nesta quarta-feira, 20, que o País enfrenta um “deserto institucional”, que causa o acionamento do Judiciário para resolver conflitos. Segundo Dino, a omissão de outros Poderes provoca a “tentação” de ativismo judicial.

“É esse deserto institucional que o Brasil atravessa que chama o Judiciário ao hiperativismo. Porque, vamos convir, muita coisa que deveria ser resolvida pelos outros, não é?”, afirmou o ministro na 1º Semana Nacional dos Precedentes Trabalhistas, do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Segundo Dino, a falta ação do Executivo e Legislativo cria um cenário em que o STF “é chamado ao ativismo o tempo inteiro, quase como se fosse uma tentação satânica”. “Sabe Jesus Cristo no deserto?”, questionou ao público.

Flávio Dino admite
Flávio Dino admite “tentação” por ativismo judicial, mas nega que impacto de sua decisão que blindou Moraes.

Flávio Dino também negou o impacto financeiro da decisão que impediu a validade de leis estrangeiras no País sem o aval da Justiça brasileira. “É claro que uma coisa não tem nada a ver com a outra”, disse. “Eu proferi uma decisão ontem e antes de ontem que dizem que derrubou os mercados. Não sabia que eu era tão poderoso”, ironizou.

Na segunda-feira, 18, Dino estabeleceu, em um processo que envolve a Justiça do Reino Unido e o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que decisões judiciais estrangeiras só podem ser executadas no Brasil após homologação ou por meio de mecanismos de cooperação internacional.

O magistrado deu caráter vinculante à medida, o que, na prática, permite que o ministro do STF Alexandre de Moraes recorra à Corte para impedir a aplicação da Lei Magnitsky contra ele por ser uma decisão judicial estrangeira. O dispositivo, que prevê bloqueio de contas bancárias e o impedimento de acessar serviços de empresas americanas, foi aplicado pelos EUA contra Moraes após articulações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que busca impedir o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Após a decisão de Dino, os bancos Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e BTG Pactual tiveram queda em suas ações e perderam R$ 41,98 bilhões em valor de mercado. Temendo represálias americanas se não sancionarem Moraes, o setor financeiro não sabe como se posicionar e já procura interlocutores no Supremo.

Na terça, um dia após proferir a decisão, Dino reiterou a medida. O ministro esclareceu que a exigência de homologação para cumprir decisões de tribunais estrangeiros se limita a órgãos do Poder Judiciário de outros países e não atinge tribunais internacionais.

“Trata-se de decisão que reitera conceitos básicos e seculares, destinada a proteger o Brasil – abrangendo suas empresas e cidadãos – de indevidas ingerências estrangeiras no nosso território. Ademais, a decisão atende a imperativos elementares de segurança jurídica, pois seria inviável a prática de atos jurídicos no Brasil se – a qualquer momento – uma lei ou decisão judicial estrangeira, emanada de algum país dentre as centenas existentes, pudesse ser imposta no território pátrio”, escreveu o ministro no documento.

Quando questionado sobre a desvalorização dos bancos, Dino ressaltou o papel do Supremo: “A gente baliza e interpreta a lei. Ontem e hoje me perguntam: ‘E agora? O que vai acontecer com os mercados?’ E eu digo: ‘E é o Supremo que vai fixar o valor de ação no mercado? Não’”.

 

 

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