O eleitorado é de centro direita, mas como conquistar a vantagem decisiva?
O grande jantar em Brasília na última terça-feira talvez acabe valendo como a data formal para uma “largada” dos grupos de centro e centro direita para as eleições de 2026. Afinal, quem podia ser considerado presidenciável por esse largo espectro compareceu (menos alguém com sobrenome Bolsonaro), além dos caciques de pelo menos 6 partidos.
Daí para se falar de uma estratégia comum é hoje apenas desejo. Ficou explicitada a existência de pelo menos duas grandes linhas de ação, mutuamente excludentes. Ou esse grande espectro vai para o embate com Lula carregando apenas um nome “de união”, ou vai cada grupo de centro-direita com seu nome e tentaremos ser unidos e felizes num segundo turno.
O que está por detrás dessa questão é muito negativo do ponto de vista dessas forças políticas que, apoiadas em convincentes dados empíricos, entendem que uma confortável maioria nacional do eleitorado é de centro direita. O fato é que não há nesse amplo espectro nada remotamente parecido a uma “direção central”, “instância única de coordenação” ou como se queira chamar a pessoa ou grupo capaz de dar sentido e direção ao projeto de derrotar o atual governo.

No ajuntamento de nomes e siglas nesse jantar estavam tanto os que professam lealdade canina ao clã Bolsonaro como os que tratam Jair Bolsonaro como bandido. O que parece tornar essa “convivência” provável é um fato a respeito do qual os governadores presidenciáveis (que julgam não poder prescindir do beneplácito do clã) não falam em “on”: está diminuindo sensivelmente a capacidade do ex-presidente de ditar rumos e coroar sucessor.
Isto tem ligação direta com o grande fato inédito na política brasileira, que é o componente internacional da crise doméstica. Como era muito fácil de se prever, a conduta do bolsonarismo raiz de buscar em Trump a ajuda decisiva para livrar seu líder da cadeia dividiu a direita, prejudicou seus candidatos, deu a Lula ares de “estadista”, forneceu um inimigo externo e não livrará Bolsonaro da condenação.
Pela primeira vez paira sobre uma grande eleição relevante acontecimento externo, que é a gravíssima e inédita crise com os Estados Unidos. Ela expôs um Brasil pequeno, vulnerável, isolado, anestesiado pela ideia de que o mundo lá fora não nos afeta, confortável com a noção de que nossa condição de super potência na produção de alimentos garantiria uma existência sem sobressaltos.
O que vai exigir do que se convencionou chamar de “centro direita” algo mais do que simplesmente pregar no governo a culpa pelo tarifaço, por exemplo. É fácil criticar o Lula 3 pela ausência de um “projeto” (além de ficar no poder), mas qual seria o de “direita” para um País que não conseguiu até aqui resposta para o desafio representado por Trump.
Ser o melhor amigo dele?