23 de agosto de 2025
Politica

Imóveis, drogaria e ações: os detalhes da lavagem de Tuta, o chefão do PCC preso na Bolívia

Imóveis, drogarias, ações, investimentos e movimentações bancárias. Em uma peça de 70 páginas, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) descreve os novos esquemas de lavagem de dinheiro de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, o chefão do Primeiro Comando da Capital (PCC), capturado na Bolívia em 16 de maio e extraditado para o Brasil.

Marcos Roberto de Almeida, mais conhecido como Tuta, foi expulso da Bolívia e entregue à PF.
Marcos Roberto de Almeida, mais conhecido como Tuta, foi expulso da Bolívia e entregue à PF.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Tuta. Além dele, outros nove acusados foram denunciados por lavagem de dinheiro e organização criminosa. A 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital acolheu a denúncia e decretou o bloqueio de R$ 55.123.324,00, das contas bancárias de 15 pessoas físicas e jurídicas, o sequestro de três imóveis que teriam sido comprados pelo chefão do PCC, além de decretar a sua prisão preventiva também neste caso.

Tuta já havia sido condenado a 12 anos de prisão na Operação Sharks em razão da lavagem de R$ 1 bilhão da organização criminosa obtido com o tráfico internacional der drogas. A nova denúncia é vista pelos promotores do Gaeco como uma segunda fase da operação concluída em 2020.

Segundo a denúncia assinada por seis promotores, desde 2014, Tuta montou um esquema para esquentar o dinheiro obtido com o tráfico de drogas. Ele envolveria parentes e laranjas que emprestaram seus nomes para a compra de imóveis, investimentos e empresas de fachada.

Tuta é apontado como um dos principais operadores financeiros do PCC: aqui, ele posa em um de seus refúgios
Tuta é apontado como um dos principais operadores financeiros do PCC: aqui, ele posa em um de seus refúgios

Ele teria comprado 18 imóveis em Paraisópolis, Vila Sônia, Vila Andrade, todos na zona oeste de São Paulo e outro em Campo Grande, na zona sul, e um em Diadema, no ABC. Além dos imóveis, Tuta teria ordenado laranjas a ocultar “ativos lícitos, por intermédio de compra de ações e transferências bancárias efetuadas a partir de conta aberta no Banco BTG Pactual”. O Estadão procurou o BTG, mas o banco ainda não se manifestou. O banco não é alvo de investigação.

O mesmo esquema dissimulou a origem de mais de R$ 14 milhões, abrindo conta corrente em nome de um laranja e de uma empresa para o recebimento de valores e pagamento de despesas com recursos “provenientes de infrações penais de organização criminosa e tráfico de drogas”. Houve ainda movimentações de R$ 2,5 milhões e outra de R$ 14 milhões de investimentos com dinheiro do tráfico.

Para os promotores, Tuta e seu esquema teriam simulado a realização de empréstimo por meio de um Contrato de Participação de Investidor, com valores constantes do instrumento, que passava a tomar a falsa aparência de legalidade, pois “atribuía-se lhe uma origem lícita, assim como se ocultava à quem realmente pertencia” o dinheiro. Também foi usado “contrato de mútuo financeiro com garantia real” para dissimular o dinheiro do crime.

A denúncia acusa Tuta de ser o “sintonia final da rua, sendo certo que exercia controle sobre todos os setores da organização criminosa relacionados às atividades de tráfico de drogas, em contato direto com as atividades mais lucrativas do grupo”, o PCC. os laranjas tinham funções não só de gerenciar os imóveis comprados pelo acusado, bem como até mesmo os cartões de crédito e as férias de Tuta em um condomínio ao lado do lago de Capitólio (MG), bem como viagens e compras nos Estados Unidos.

“Todas as movimentações financeiras realizadas em seu favor eram necessariamente efetuadas por intermédio de operações em contas de terceiros, sejam laranjas ou testas de ferro”, afirmaram os promotores do Gaeco. Foi por meio de testa-de-ferro que Tuta teria aberto uma conta no BTG Pactual, usada para a “compra de ações e a realização de transferências bancárias”.

Os promotores citaram ainda o caso de uma outra laranja de Tuta que chegou a manter 21 contas ativas, em 12 diferentes estabelecimentos bancários, nas quais foram movimentados mais de R$ 4 milhões. Um outro laranja, apontado como o principal do esquema, teria movimentado R$ 14 milhões. O grupo ainda promoveu, a título de depósitos em dinheiro, mais de R$ 10 milhões, feitos de forma fragmentada e pulverizada nas contas dos integrantes do esquema “com a finalidade de impedir a identificação da origem e do destino final dos recursos”.

Farmácias entram no esquema de lavagem

Uma loja de roupas e duas drogarias no Morumbi foram usadas para esquentar o dinheiro do grupo. Está é primeira vez que o PCC é flagrado lavando dinheiro em farmácias. Já houve o caso de outro traficante do grupo ter montado uma rede de clínicas dentárias.

Por fim, de acordo com o Gaeco, os acusados, “sob a liderança de Marcos Roberto (Tuta), constituíram e integraram organização criminosa, cujo objetivo foi a dissimulação e ocultação dos recursos de origem dos crimes de organização criminosa e tráfico de drogas, por meio da criação de empresas, negócios imobiliários e movimentação de valores, com divisão de tarefas bem definida, cadeia de comando, propósito específico e atuação harmônica” Ao acolher a denúncia e decretar o sequestro dos bens, a 1ª Vara levantou o sigilo dos autos.

 

 

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