5 de setembro de 2025
Politica

Em jantar com prefeitos, Tarcísio é tietado, divide mesa com Kassab e Nunes e desconversa sobre 2026

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) chegou atrasado ao jantar que reuniu centenas de prefeitos paulistas na quarta-feira, 27, em São Paulo, mas só deixou o local quando funcionários já recolhiam mesas e cadeiras. Organizado pela Associação Paulista de Municípios (APM), o encontro virou palco de tietagem ao governador presidenciável, que tirou fotos, conversou sem pressa com gestores e ainda recebeu da cantora Luiza Possi a dedicatória de My Way — uma de suas músicas favoritas, eternizada na vozes de Frank Sinatra ou de Elvis Presley.

Tarcísio sentou-se à mesa com o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), o presidente do PSD e secretário de Governo, Gilberto Kassab, e o presidente do MDB, Baleia Rossi, mas passou parte da noite circulando entre os prefeitos. Ouviu perguntas sobre a eleição de 2026, desconversou e preferiu falar de São Paulo, acenando aos chefes de Executivos Municipais com a promessa de apoio às pautas de interesse deles no Congresso.

Observado por Nunes, Tarcísio conversa com Fred Guidoni, presidente da APM, durante jantar
Observado por Nunes, Tarcísio conversa com Fred Guidoni, presidente da APM, durante jantar

O jantar foi no estádio do Pacaembu, na zona oeste de São Paulo, e o atraso ocorreu por conta causa de um encontro com Oleksandra Matviichuk, advogada ucraniana vencedora do Nobel da Paz de 2022. Assim que entrou, Tarcísio foi cercado por prefeitos e levou cerca de 40 minutos para atravessar o salão — repetindo a cena da véspera, quando, após uma partida de futebol no mesmo local, passou mais de meia hora posando para fotos com mandatários municipais.

Segundo relatos de prefeitos presentes, o governador conversou com boa parte dos cerca de 800 convidados, circulou com desenvoltura e se mostrou à vontade no ambiente. As conversas giraram em torno das dificuldades enfrentadas pelas prefeituras, mas a eleição de 2026 acabou entrando na pauta. Questionado sobre a Presidência, Tarcísio sorriu e desconversou: disse que agora está focado em São Paulo e que o que tiver de acontecer, vai acontecer.

Alvo no passado de críticas por dar pouca atenção aos municípios, o governador adotou um tom mais sensível às dificuldades locais no jantar. Reconheceu que as contas das prefeituras estão no limite e que parte dessa pressão recai sobre o governo estadual, já que prefeitos sem recursos recorrem ao Palácio dos Bandeirantes até para bancar serviços básicos.

Nesse contexto, Tarcísio reforçou que está disposto a ajudar os prefeitos paulistas na articulação em Brasília para aprovar projetos que darão mais fôlego financeiro às administrações municipais. O principal pleito da APM é que Tarcísio use seu peso político para ajudar a destravar a Proposta de Emenda à Constituição 25/2022, que aumenta em 1,5 ponto percentual o repasse da União ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Atualmente, 25,5% da arrecadação federal com o Imposto de Renda e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) são destinados ao FPM e repartido entre as prefeituras.

“Pedimos apoio político à PEC 25. O governador se mostrou sensível, reconheceu a necessidade de encontrar uma saída para salvar os municípios e reforçar o pacto federativo”, disse Fred Guidoni, presidente da APM e ex-prefeito de Campos do Jordão. Para ele, o jantar superou as expectativas e mostrou unidade no Estado. “Mostramos ao Brasil que temos um Estado que caminha em harmonia e um projeto que não é o dos extremos.”

Os prefeitos também demonstraram preocupação com a possibilidade de a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até cinco salários mínimos diminuir o valor do FPM – a proposta está em discussão na Câmara dos Deputados. Também há apreensão com as mudanças na dinâmica de arrecadação com a reforma tributária.

No primeiro dia do congresso da APM, o vice-presidente Gustavo Reis (MDB) apresentou estudo que projeta perda de receita em 405 dos 645 municípios paulistas a partir de 2032, quando o atual repasse do ICMS será substituído pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

Tarcísio, que apoiou a reforma tributária, disse aos prefeitos na abertura do evento que um “bom arranjo político” em Brasília será fundamental para aumentar a alíquota do FPM e também obter compensação pela isenção do IR.

“Eu quero dizer que o governo do Estado de São Paulo vai estar do lado de vocês em cada uma dessas discussões”, afirmou o governador. No mesmo evento, trocou elogios com o ex-presidente Michel Temer (MDB), que tem sido alvo de bolsonaristas por comentários sobre a atuação de Eduardo Bolsonaro (PL) nos Estados Unidos.

Com a aproximação das eleições de 2026, Tarcísio tem feito uma série de acenos aos mandatários municipais. Ele intensificou as agendas no interior e, ao discursar no evento da APM, anunciou mais verbas para hospitais municipais, além da entrega de ambulâncias e maquinários para a manutenção de estradas rurais.

O governador é cotado para disputar o Palácio do Planalto em 2026, mas a candidatura depende do apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Diante da indefinição, Tarcísio tem se preparado também para o cenário em que pode disputar a reeleição para o cargo.

Em outro gesto, o governador disse que vai atender ao menos uma demanda de cada um dos 645 municípios paulistas. No início do ano, o Palácio dos Bandeirantes pediu que cada prefeitura elencasse três obras ou medidas prioritárias. Nos bastidores, prefeitos reclamavam da demora e falta de previsão para o atendimento dos pleitos.

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