Bajulação, Moraes algoz e antecipação de 2026; veja análises de colunistas sobre julgamento do golpe
O primeiro dia de julgamento da ação penal da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira, 2, foi marcado pela leitura do relatório do ministro Alexandre de Moraes, que resumiu o caso e passou recados, e pela apresentação da acusação, conduzida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Também foi o momento dos réus do chamado núcleo crucial apresentarem suas respectivas defesas no plenário da Primeira Turma. A sessão desta manhã foi a primeira de oito reservadas para que os ministros analisem o caso, convertido em ação penal em março, após o colegiado aceitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Além de Gonet e Moraes, também falaram os advogados de Mauro Cid, do deputado Alexandre Ramagem, do ex-comandante da Marinha Almir Garnier e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, na segunda sessão do dia, à tarde. A defesa de Jair Bolsonaro, assim como as demais, realizará a sustentação oral nesta quarta-feira, 3.
Veja a análise dos colunistas do Estadão sobre o primeiro dia de julgamento:
Carolina Brígido: Conformados com derrota no STF, advogados dos réus apelam para bajulação dos ministros
Na avaliação de Carolina Brígido, que acompanha o Supremo desde 2001, os advogados dos réus pressentem que serão derrotados no julgamento sobre a trama golpista. Para ela, as sustentações orais realizadas nesta segunda não trouxeram novidades. Alguns dos advogados foram além: apelaram a elogios para ganhar a simpatia da Primeira Turma.
O ex-senador Demóstenes Torres, que representa Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, passou os primeiros vinte minutos da sustentação oral contando histórias e elogiando ministros. Ganhou um sorriso discreto de Flávio Dino quando disse que o ministro podia ser eleito presidente da República, porque era jovem.
Francisco Leali: Moraes deixa sua marca em início de julgamento de Bolsonaro e antecipa que será seu algoz
Pelo script tradicional do Supremo Tribunal Federal, o primeiro dia de julgamento na corte não costuma ser novidadeiro. A sessão principia com o relator apenas lendo o resumo do caso. Mas o ministro Alexandre de Moraes preferiu já imprimir sua marca, avalia Francisco Leali.
Segundo o colunista, antes de iniciar com a leitura do que ocorreu até aqui no processo por tentativa de golpe, o magistrado fez um manifesto. Moraes postou-se no lugar de quem avisa que o STF não admite ser pressionado por quem quer que seja.
O recado é direto ao réu Jair Bolsonaro. Seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, está nos Estados Unidos fazendo e acontecendo em busca de apoio do presidente Donald Trump para evitar que o pai vá para cadeia.
Ricardo Corrêa: Gonet foca em rechaçar argumento de ‘mera cogitação’ em manifestação acelerada
Segundo Ricardo Corrêa, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, usou a linha central de sua manifestação no julgamento da trama golpista para desconstruir a tese de que teria havido apenas uma “mera cogitação” do crime de golpe de Estado. Gonet usou o encadeamento de fatos captados no processo para deixar claro que havia já uma execução em curso, esse sim um fato punível pela legislação brasileira.
O PGR enfatizou, por exemplo, que a convocação de militares para apresentar um plano e tentar convencê-los a embarcar já se trataria de execução. Para isso, cita diversos episódios, sendo os mais importantes: a reunião de Bolsonaro com os comandantes militares para pressioná-los a aderir ao golpe, o aval do comandante da Marinha à epóca, Almir Garnier, para a empreitada golpista, e, depois, a reunião do ministro da Defesa com os comandantes chamando todos para detalhar a minuta golpista.
Sergio Denicoli: 78% acreditam que Bolsonaro será condenado em processo que também coloca o STF sob julgamento
Nas redes, há quase consenso: 78% acreditam que Jair Bolsonaro será condenado, informa Sergio Denicoli. A dúvida não está no desfecho, mas no motivo. Para a esquerda, ele tentou um golpe e o 8 de janeiro deixou isso claro. Para a direita, será punido por um tribunal formado por adversários que querem impedir uma liderança de exercer sua influência e concorrer às eleições.
A questão é que, tanto entre os que acreditam que Bolsonaro tentou se perpetuar no poder quanto os que entendem o processo como uma mera perseguição, o STF deixou de ser visto como corte técnica e virou ator político. Os ministros são classificados, nas conversas online, como aliados ou inimigos de Bolsonaro. A percepção que molda o apoio ou a rejeição ao julgamento é que não importam os autos, importam os lados.
Os dados da AP Exata, baseados em 210 mil publicações no X e no Instagram, nos últimos sete dias, mostram isso com clareza. No total, 45,8% das menções ao Supremo são negativas, 42,1% positivas e 12,1% neutras. A divisão segue a lógica da polarização.
Vera Rosa: Julgamento de Bolsonaro antecipa 2026, Lula tenta desgastar Tarcísio e Centrão barganha anistia
Para Vera Rosa, qualquer estrangeiro que desembarcasse em Brasília nesta terça-feira, 2, teria certeza de que estamos em um ano eleitoral. Isso porque, embora no calendário gregoriano ainda faltem 13 meses para a disputa que vai definir o novo inquilino do Palácio do Planalto, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) antecipou essa corrida.
No Congresso, o PP e o União Brasil – dois partidos do Centrão – articulam a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à sucessão do presidente Lula e, no embalo do julgamento, anunciaram que seus ministros devem entregar os cargos em 30 dias.
Tarcísio, por sinal, desembarcou em Brasília para tentar convencer o presidente da Câmara, Hugo Motta, a tirar da gaveta o projeto de anistia que beneficia Bolsonaro. O Centrão promete trabalhar pela aprovação da anistia no Congresso, mas com uma condição: nessa barganha, quer que Bolsonaro apoie a candidatura de Tarcísio.