4 de setembro de 2025
Politica

Tarcísio faz série de reuniões para convencer partidos a aceitarem anistia que inclua Bolsonaro

Diante do avanço do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), realizou uma série de reuniões com lideranças partidárias nos últimos dois dias em Brasília para fazer avançar o projeto de lei da anistia.

Se inicialmente o objetivo era buscar apoio entre os líderes para a proposta ser pautada na Câmara dos Deputados, as tratativas evoluíram e agora já se discute os detalhes do texto que seria levado a votação.

Segundo interlocutores do governador, está se formando um consenso entre partidos da direita e do Centrão em torno do mérito da proposta. Tarcísio trata a anistia como um remédio político para pacificar o País e defende que a anistia seja ampla, incluindo Bolsonaro, os demais réus na ação penal da tentativa de golpe de Estado e os condenados pelo 8 de Janeiro.

Tarcísio de Freitas se reuniu com diversas lideranças partidárias nos últimos dias para discutir detalhes do texto
Tarcísio de Freitas se reuniu com diversas lideranças partidárias nos últimos dias para discutir detalhes do texto

A tese também é defendida por familiares do ex-presidente, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), mas não há unanimidade entre os partidos.

Na capital federal, onde chegou na terça-feira, 2, o governador discutiu o tema com integrantes do Republicanos, PL, União Brasil e PP. O Estadão apurou que os quatro partidos manifestaram apoio à proposta. A expectativa é que o PSD, de Gilberto Kassab, também embarque. Por outro lado, há resistência no Podemos e no MDB.

Enquanto debatem o texto, Tarcísio e os caciques partidários também trabalham para respaldar o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). O objetivo é dar ao presidente da Câmara condições políticas de colocar o projeto em votação – partidos de esquerda tentam impedir que isso aconteça.

Há expectativa de um encontro entre Motta e Tarcísio ainda nesta quarta-feira. O presidente da Câmara admitiu na terça que a pressão está maior. “Cresceu. Aumentou o número de líderes pedindo [que seja pautado]”, disse Motta após uma reunião com líderes partidários em sua residência oficial.

Ao mesmo tempo, Tarcísio tem mantido conversas com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para sentir o clima da Corte. Uma vez em vigor, a aposta é que a constitucionalidade da anistia será questionada no Supremo. Neste caso, será preciso o apoio da maioria dos ministros para manter o perdão judicial.

No fim do mês passado, em evento em Cuiabá (MT), como revelou o Estadão, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, disse que não há anistia sem julgamento e condenação e que, após esta etapa, a questão passa a ser política, a ser definida pelo Congresso. A declaração foi vista por bolsonaristas como um sinal de que há margem para o Supremo não derrubar a anistia.

Tarcísio optou pela discrição para não atrapalhar a costura nos bastidores. Ele não divulgou os encontros na capital federal em sua agenda oficial nem deu entrevistas sobre o tema.

A participação de Tarcísio foi evidenciada por Flávio Bolsonaro. “Ele, de fato, entrou de cabeça também nessa articulação junto com a gente, porque sabe que é injusto o que está acontecendo”, disse o senador.

Flávio também se manifestou contra uma proposta de anistia que exclua o pai. “Não existe anistia meia bomba. Não tem outra alternativa a não ser uma anistia ampla, geral e irrestrita”, declarou o senador.

A afirmação foi uma resposta a Davi Alcolumbre (União-AP). O presidente do Senado disse ao jornal Folha de S. Paulo que irá propor um texto alternativo, prevendo a diminuição das penas em vez do perdão total aos condenados pelo 8 de Janeiro. De acordo com a reportagem, Alcolumbre é contra anistiar Bolsonaro.

Parlamentares governistas têm associado a atuação de Tarcísio em Brasília com a eleição de 2026. O argumento é que o governador e os partidos do Centrão querem aprovar a anistia a Bolsonaro em troca do apoio do ex-presidente à candidatura presidencial de Tarcísio. Aliados do chefe do Executivo paulista negam e repetem o discurso oficial de que ele é candidato à reeleição ao governo de São Paulo.

Líder do PT, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que Motta não pautará a anistia nesta semana. “Tem uma movimentação do Tarcísio querer virar candidato do bolsonarismo. E é uma articulação de vários partidos, não só do PP, do União Brasil. Já vimos declarações do presidente do PSD, Kassab, sobre o tema anistia”, declarou o petista nesta quarta-feira.

“Tem gente que está se aproveitando, no momento em que estamos tendo um julgamento importante como esse, para tentar consolidar uma candidatura presidencial com essa troca: a votação de um projeto de anistia”, continuou ele.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *