Tarcísio faz série de reuniões para convencer partidos a aceitarem anistia que inclua Bolsonaro
Diante do avanço do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), realizou uma série de reuniões com lideranças partidárias nos últimos dois dias em Brasília para fazer avançar o projeto de lei da anistia.
Se inicialmente o objetivo era buscar apoio entre os líderes para a proposta ser pautada na Câmara dos Deputados, as tratativas evoluíram e agora já se discute os detalhes do texto que seria levado a votação.
Segundo interlocutores do governador, está se formando um consenso entre partidos da direita e do Centrão em torno do mérito da proposta. Tarcísio trata a anistia como um remédio político para pacificar o País e defende que a anistia seja ampla, incluindo Bolsonaro, os demais réus na ação penal da tentativa de golpe de Estado e os condenados pelo 8 de Janeiro.

A tese também é defendida por familiares do ex-presidente, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), mas não há unanimidade entre os partidos.
Na capital federal, onde chegou na terça-feira, 2, o governador discutiu o tema com integrantes do Republicanos, PL, União Brasil e PP. O Estadão apurou que os quatro partidos manifestaram apoio à proposta. A expectativa é que o PSD, de Gilberto Kassab, também embarque. Por outro lado, há resistência no Podemos e no MDB.
Enquanto debatem o texto, Tarcísio e os caciques partidários também trabalham para respaldar o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). O objetivo é dar ao presidente da Câmara condições políticas de colocar o projeto em votação – partidos de esquerda tentam impedir que isso aconteça.
Há expectativa de um encontro entre Motta e Tarcísio ainda nesta quarta-feira. O presidente da Câmara admitiu na terça que a pressão está maior. “Cresceu. Aumentou o número de líderes pedindo [que seja pautado]”, disse Motta após uma reunião com líderes partidários em sua residência oficial.
Ao mesmo tempo, Tarcísio tem mantido conversas com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para sentir o clima da Corte. Uma vez em vigor, a aposta é que a constitucionalidade da anistia será questionada no Supremo. Neste caso, será preciso o apoio da maioria dos ministros para manter o perdão judicial.
No fim do mês passado, em evento em Cuiabá (MT), como revelou o Estadão, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, disse que não há anistia sem julgamento e condenação e que, após esta etapa, a questão passa a ser política, a ser definida pelo Congresso. A declaração foi vista por bolsonaristas como um sinal de que há margem para o Supremo não derrubar a anistia.
Tarcísio optou pela discrição para não atrapalhar a costura nos bastidores. Ele não divulgou os encontros na capital federal em sua agenda oficial nem deu entrevistas sobre o tema.
A participação de Tarcísio foi evidenciada por Flávio Bolsonaro. “Ele, de fato, entrou de cabeça também nessa articulação junto com a gente, porque sabe que é injusto o que está acontecendo”, disse o senador.
Flávio também se manifestou contra uma proposta de anistia que exclua o pai. “Não existe anistia meia bomba. Não tem outra alternativa a não ser uma anistia ampla, geral e irrestrita”, declarou o senador.
A afirmação foi uma resposta a Davi Alcolumbre (União-AP). O presidente do Senado disse ao jornal Folha de S. Paulo que irá propor um texto alternativo, prevendo a diminuição das penas em vez do perdão total aos condenados pelo 8 de Janeiro. De acordo com a reportagem, Alcolumbre é contra anistiar Bolsonaro.
Parlamentares governistas têm associado a atuação de Tarcísio em Brasília com a eleição de 2026. O argumento é que o governador e os partidos do Centrão querem aprovar a anistia a Bolsonaro em troca do apoio do ex-presidente à candidatura presidencial de Tarcísio. Aliados do chefe do Executivo paulista negam e repetem o discurso oficial de que ele é candidato à reeleição ao governo de São Paulo.
Líder do PT, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que Motta não pautará a anistia nesta semana. “Tem uma movimentação do Tarcísio querer virar candidato do bolsonarismo. E é uma articulação de vários partidos, não só do PP, do União Brasil. Já vimos declarações do presidente do PSD, Kassab, sobre o tema anistia”, declarou o petista nesta quarta-feira.
“Tem gente que está se aproveitando, no momento em que estamos tendo um julgamento importante como esse, para tentar consolidar uma candidatura presidencial com essa troca: a votação de um projeto de anistia”, continuou ele.