Pintores, poetas e filmes são citados pelas defesas no julgamento da tentativa de golpe no STF
Pintores famosos, clássicos da literatura e do cinema foram citados nos argumentos de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos sete réus envolvidos na trama golpista. A quarta-feira, 3, de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) contou com uma variedade de referências, incluindo o pintor Van Gogh, o escritor Fernando Pessoa, a obra Alice no País das Maravilhas e até a Revolução Francesa.

Revolução Francesa
A Revolução Francesa, movimento que ocorreu entre 1789 e 1799, e culminou na derrubada da monarquia, e estabeleceu princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, foi citada pelo advogado Demóstenes Torres, defensor do ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos.
Durante a sustentação oral, ele mencionou a revolução ao criticar declarações do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP).
Fernando Pessoa
Outra referência citada no processo foi o poema Em Linha Reta, do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). O advogado Andrew Fernandes Farias, defensor do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, fez alusão aos primeiros versos da obra: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”. A citação ocorreu ao comentar o arrependimento de Nogueira por ter dito que a comissão de transparência eleitoral seria “para inglês ver”.
Van Gogh e Alice
Farias também mencionou o pintor Vincent Van Gogh e a literatura de Lewis Carroll. Ao citar o quadro O Semeador (1888), do artista neerlandês (1853-1890), ele falou sobre a “missão do advogado”.
Farias citou também Através do Espelho, de 1871, continuação de Alice no País das Maravilhas, de 1865, o qual destacou um diálogo entre Alice e Humpty Dumpty para ilustrar o significado das palavras.
“Eu lembro do Lewis Carroll, aquela famosa passagem do diálogo entre Alice e Humpty Dumpty. Diz Humpty Dumpty: ‘Quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente aquilo que eu quero que signifique, nem mais, nem menos’. A questão, e aqui é a sabedoria, a racionalidade, a lógica representada por Alice, ponderou Alice, ‘é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem coisas diferentes’. A questão, replicou Humpty Dumpty, ‘é saber quem é que manda’”, declarou o advogado.
Gonçalves Dias
O poeta brasileiro Gonçalves Dias também foi mencionado por Farias, que citou o poema I-Juca Pirama. Ao apresentar os versos, o advogado de Nogueira adaptou o texto, trocando “Norte” por “Nordeste” em referência à região onde o ex-ministro nasceu e viveu até os 10 anos, antes de se mudar para Brasília para estudar em um internato.
“Tem uns versos de Gonçalves Dias que eu gosto muito, que é aquele em I-Juca Pirama, que diz mais ou menos assim, eminente ministra Cármen, Vossa Excelência me corrija se eu me equivocar: ‘Guerreiros, nasci. Sou bravo, sou forte. E digo eu, sou filho do Nordeste’. E o general Paulo Sérgio é um bravo guerreiro do Nordeste”, disse defensor durante a sessão.
Caso Dreyfus
O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro Paulo Cunha Bueno deixou de lado as alusões territoriais e lembrou do julgamento de Alfred Dreyfus, ocorrido em 1894 na França.
Alfred Dreyfus (1859–1935) foi um oficial do Exército francês de origem judaica condenado injustamente por traição em 1894. O caso, conhecido como Caso Dreyfus, expôs o antissemitismo na França e gerou grande repercussão política e social. Ele foi finalmente absolvido em 1906.