6 de setembro de 2025
Politica

Reviravolta de Lula e bate-cabeça: Oposição resolveu que seu candidato é aquele que diz não querer

Imagina um cenário perfeito para se vencer um governo posto: má avaliação do presidente, discussão sobre sua fragilidade de saúde em função da idade, dificuldade atroz na articulação com o Congresso, economia problemática com custo alto dos alimentos e serviços básicos, crise na segurança pública, cenário internacional hostil e um desejo de mudança expresso em todas as pesquisas de opinião. O Brasil de 2025, um ano antes do pleito que pode ser o fim da Era Lula, está assim. Todavia, quem lidera eleitoralmente a oposição brasileira parece não conseguir liderar a política, e a fórmula básica para a vitória vai se tornando uma equação de graus superiores, permitindo uma reviravolta de quem está no poder e o sentimento de que só há um caminho: uma candidatura vista como proibida pelo seu grupo.

As últimas movimentações partidárias, das siglas mais representativas da centro-direita brasileira, tem dado todos os sinais de que seus líderes desejam Tarcísio de Freitas como candidato. A União Progressista, federação surgida após um entendimento entre o União Brasil e o Progressistas, ritmou a linha discursiva da política da oposição e só faltou lançar a fórceps o governador paulista para o Planalto. Mais intrigante ainda é que o ato partiu justamente de um grupo político, que teve um candidato oficialmente lançado à Presidência, há menos de seis meses. Ronaldo Caiado acreditou que poderia sair na frente e organizou um grande ato em Salvador, na Bahia, terra de um dos caciques do partido, ACM Neto, mas ninguém o leva a sério. Desafeto de Bolsonaro e monotemático com a segurança pública, o goiano vai ter que se encolher e lutar em casa com a primeira-dama do Estado que já sonhava em ser senadora, por uma vaga na Câmara Alta brasileira.

Tarcísio de Freitas, governador de SP, é cotado para disputar o Planalto em 2026
Tarcísio de Freitas, governador de SP, é cotado para disputar o Planalto em 2026

No Republicanos, partido de Tarcísio, que tem tantas facetas, com ministro no governo Lula, presidência da Câmara dos Deputados e líderes de oposição no senado, como Cleitinho Azevedo e Damares Alves, o ensaio foi de lançamento, com o presidente do partido dizendo que talvez, ali naquele palco, tivesse o próximo presidente da República, animando o público presente, composto por mais dois importantes players da política nacional, o presidente do PL de Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto e o do PSD, Gilberto Kassab, que sonha em assumir um dia o Palácio dos Bandeirantes, hoje, ocupado por Tarcísio.

O PSD de Kassab tem uma situação ainda mais sui generis, já que tem dois pré-candidatos a presidente, uma a vice, mas sonha mesmo com o ex-ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro. Eduardo Leite e Ratinho Jr. são dois governadores em final de mandato, com boa avaliação nos seus Estados e que poderiam ocupar esse espaço. Raquel Lyra, enfraquecida em Pernambuco, mas ainda detentora de boa imagem para o resto do País, poderia ser uma solução na busca por uma renovação nas bandas petistas, compondo chapa com Lula. O fato, no entanto, é que Kassab se movimenta com vistas a realizar seu desejo, o de ser o indicado de Tarcísio para a corrida governamental em São Paulo. Com tantos jabutis colocados na árvore, Kassab tem muita munição para negociar e pretende usá-las da maneira mais eficiente para ser aclamado o candidato da sucessão do bem avaliado governador paulista.

Com a impossibilidade de candidatura, Jair Bolsonaro começa a entrar em uma sinuca de bico. Tentou fazer do filho um herói nacional ao denunciar os desmandos do STF mundo afora, mas o tiro saiu pela culatra. O que era pra ampliar, fechou ainda mais. O resultado prático das movimentações de Eduardo Bolsonaro foram o anúncio de um tarifaço, que gerou medo nos brasileiros. Com a economia patinando, tudo o que as pessoas não querem é pagar mais. O dia a dia é difícil, e Lula, até então responsável por aumentar impostos, virou uma espécie de defensor do Brasil contra as investidas poderosas de Donald Trump e dos Estados Unidos da América. De concreto, o que Bolsonaro conseguiu foi reviver Lula.

Ainda com dificuldades para a próxima eleição, Lula agora tem narrativa e defesa, mesmo tendo um governo com baixíssimas entregas e decepcionante até mesmo para seus eleitores. Na política eleitoral, todos sempre precisam de um adversário e Bolsonaro tem o sido o melhor que Lula encontrou em toda a sua história. O PT acabado após diversos casos de corrupção, com os mensalões e petrolões, com Dilma impeachmada e Lula preso, conseguiu voltar ao poder, por falta absoluta de competência de Bolsonaro, eleito justamente com a ideia de apartá-los do poder. “Nossa bandeira jamais será vermelha” e “PT Nunca Mais” foram gritos de guerra dos bolsonaristas, que se perderam pela força da realidade. Os mais fiéis ainda insistirão em teses de urnas fraudadas e de acordo do STF, mas o fato é que essas mesmas urnas permitiram um Senado absolutamente repleto de candidatos eleitos ao lado de Bolsonaro, bem como governadores.

Tarcísio de Freitas, o mais importante dos governadores, justamente por liderar São Paulo, é um desses exemplos. Entretanto, ao mesmo tempo em que é uma solução tão óbvia para a oposição, acaba sendo tão complexo para os desejos daquele que reúne os votos da oposição. Jair Bolsonaro já deu diversas demonstrações públicas de não querer sua candidatura. Teme que a vitória de Tarcísio seja seu fim. Sem força de organização política, Bolsonaro vive da sua conexão popular e deixar alguém tomar isso, seria colocar uma pá de cal em suas pretensões políticas. O PL, de Bolsonaro, já demonstrou também estar de olho em Tarcísio. O presidente da sigla afirmou que caso o governador fosse candidato a presidente, seria pelo seu partido.

Com o prazo se aproximando e Lula se reerguendo na cadeira, a oposição parece já estar decidida do que quer, mas como diz o ditado, falta combinar com os russos. Tarcísio, sabedor do risco de ser jogado às garras dos leões, caso vire um pária para o bolsonarismo, não se movimenta. Joga parado, mas permite que joguem por ele. Com discursos evasivos sobre o Brasil, fala sempre que não é candidato e lança Bolsonaro, mesmo sabedor de que essa possibilidade é cada vez mais remota. Pesquisa da Paraná mostra seu empate absoluto com Lula, em um segundo turno. A Quaest, que aferiu 60% de aprovação para Tarcísio em seu trabalho à frente do Bandeirantes, mostrou também que ele é o melhor candidato para enfrentar o chefe do Executivo brasileiro.

A decisão da política parece tomada, mas com Lula dando sinais de melhora, Tarcísio terá que escolher seu futuro. Sua reeleição em São Paulo é muito possível e sabe que enfrentar um animal político como Lula, em sua derradeira eleição, não será tarefa fácil. Além do mais, terá que contrariar seu líder máximo, sem mostrar que está o contrariando. Um cenário muito complexo que a falta de liderança e rumo da oposição no campo da articulação gerou. A negação da política pode ser boa para discurso eleitoral, mas para a realidade do jogo, só se mostra frustrante para quem a pratica.

 

 

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