10 de setembro de 2025
Politica

Tarcísio está incomodado com situação de Bolsonaro e ‘uniu útil ao agradável’, dizem aliados

Aliados do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) admitem que houve cálculo político ao chamar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “tirano”, mas afirmam que o tom adotado reflete também o incômodo do chefe do Executivo paulista com a situação enfrentada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Já em parte do Centrão, a leitura é que a declaração contraria o discurso de pacificação que Tarcísio vinha sustentando e arranha, pelo menos neste momento, a imagem de moderação que ele buscava projetar.

Pessoas próximas politicamente do governador reconhecem que a estratégia dele afasta os eleitores centristas, mas o entendimento é que, neste momento, a prioridade é garantir o apoio e reverter as críticas vindas do coração do bolsonarismo. A leitura é que, a mais de um ano da eleição, há tempo para reverter os danos causados pelo discurso na Paulista e voltar a fazer acenos ao centro.

Procurado, o Palácio dos Bandeirantes não comentou.

Tarcísio discursa em ato pela anistia de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista Foto: Daniel Teixeira/Estadao
Tarcísio discursa em ato pela anistia de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista Foto: Daniel Teixeira/Estadao

Um secretário do governo de São Paulo disse ao Estadão que, na sua avaliação, Tarcísio conseguiu unir o útil ao agradável ao atacar Moraes na manifestação bolsonarista na Avenida Paulista: demonstrou lealdade ao ex-presidente que o lançou na política, ao mesmo tempo em que fez acenos para a base bolsonarista, se consolidando como a opção natural para suceder Bolsonaro se a inelegibilidade não for revertida.

Outro aliado tem uma análise diferente. Ele afirma que Tarcísio tem sofrido pressão para fazer gestos ao bolsonarismo, mas que, apesar do discurso na Paulista, não vai abandonar a moderação.

Um deputado federal com trânsito tanto com Tarcísio como entre partidos do Centrão adota uma linha similar: os movimentos recentes do governador são uma resposta à necessidade de neutralizar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O parlamentar vinha se queixando que o chefe do Executivo paulista não se empenhava pela aprovação da anistia e queria apenas herdar o capital eleitoral de Bolsonaro.

Nesta segunda-feira, Eduardo sinalizou uma trégua e disse que sua divergência com Tarcísio era que o governador sempre defendeu o caminho do diálogo. “Eu acho que ele [Tarcísio], na manifestação, foi muito feliz no seu discurso. Espero que essa fala seja permanente, seguida das suas condutas pró-anistia e acho que nesse momento isso é o principal”, disse ele em entrevista ao Poder360.

Na manifestação, Tarcísio afirmou que espera que o ex-presidente esteja nas urnas, disse que não vai aceitar “a ditadura de um Poder sobre o outro”, e fez as críticas mais duras ao ministro do STF após o público entoar o coro “Fora, Moraes”. Questionado pelo Estadão na saída do ato sobre o tom adotado, o governador respondeu: “As pessoas estão cansadas, muito cansadas. Só traduzi um pouco do sentimento das pessoas”.

Lideranças do Centrão ouvidas pela reportagem criticaram o ataque de Tarcísio a Moraes. Um integrante do União Brasil afirmou que o governador “errou na forma” ao chamar o ministro de tirano, o que, na sua avaliação, fez Tarcísio perder parte da imagem de moderado que vinha construindo.

O deputado federal Maurício Neves, presidente estadual do PP em São Paulo, enxerga a declaração do governador como um “deslize” cometido no calor do momento, num ambiente com “muitos extremistas”. “Ele acabou, num deslize, sendo infeliz na fala dele”, afirma o deputado. “Não é do perfil do Tarcísio ir para o enfrentamento. Foi uma infelicidade.”

Dois integrantes do alto escalão do governo disseram, em caráter reservado, que o governador fez apenas um “desabafo” e respondeu ao Supremo em tom de reciprocidade. Segundo eles, Tarcísio não entoou o coro de “Fora Moraes” puxado por manifestantes e limitou-se a defender uma saída “técnico-política”, a anistia, para um julgamento que, na avaliação dele, também tem esse caráter.

Os mesmos aliados do governador afirmam que Tarcísio sempre pregou o diálogo com Moraes e com a Corte de forma geral, mas que o ministro não demonstrou abertura e, ao contrário, tem se mostrado disposto a elevar o tom. Um interlocutor próximo ao governador foi além e afirmou que Tarcísio estava irritado com o fato de que, a cada declaração sua em defesa de Bolsonaro, chegam “recados” de insatisfação de ministros.

Até domingo, Tarcísio era apontado como um dos principais interlocutores do bolsonarismo com o STF. Recentemente, ele manteve conversas com ministros para sondar o clima na Corte acerca da anistia de Bolsonaro, já projetando que o tema seria judicializado. Após o ato, integrantes do Supremo avaliaram que qualquer possibilidade de diálogo foi implodido.

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, disse que não existe uma “ditadura” do Judiciário. Já o ministro Gilmar Mendes afirmou que o que o Brasil não aguenta mais são “sucessivas tentativas de golpe”.

“No Dia da Independência, é oportuno reiterar que a verdadeira liberdade não nasce de ataques às instituições, mas do seu fortalecimento. Não há no Brasil ‘ditadura da toga’, tampouco ministros agindo como tiranos. O STF tem cumprido seu papel de guardião da Constituição e do Estado de Direito, impedindo retrocessos e preservando as garantias fundamentais”, escreveu ele nas redes sociais.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *