Maior desafio de Bolsonaro é se manter no jogo político após condenação por golpe no STF
O ex-presidente Jair Bolsonaro tem o desafio de manter-se relevante no cenário político após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão. O PL discutirá estratégias, mas o diálogo com Bolsonaro ficará mais limitado devido ao cumprimento da pena e será preciso eleger porta-vozes.
Nesta quinta-feira, 11, horas antes do veredicto, ele aproveitou o impulso político do voto do ministro Luiz Fux a seu favor para enviar recado velado com sua imagem e tentar manter engajamento, na avaliação de especialistas ouvidos pela Coluna do Estadão. Em frente a sua casa, em silêncio, sorriu, fez um “joinha” e parou para fotos. Para cientistas políticos, os gestos dariam a sensação de um Bolsonaro “reanimado”. A falta de declarações verbais também reforçaria a condição de “amordaçado”, afirmam.
“No fundo, é uma tentativa do ex-presidente Bolsonaro em dar imagem à argumentação presente no voto do ministro Fux, que, a grosso modo, faz questionamentos não só do resultado final mas da forma como o Supremo Tribunal Federal julgou”, afirmou o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria. “A presença do Bolsonaro na foto é uma maneira de sintetizar essa imagem de perseguido.”
Na semana passada, na véspera do início do julgamento, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) precisou fazer uma oração para tentar reverter o desânimo do aliado. Os relatos de quem o visitou nos últimos dias eram de abatimento e muitos soluços, decorrentes de seu estado de saúde. O que faltava para o ex-presidente se sentir mais encorajado era o impulso político de Fux.
O uso de imagens para mandar recados políticos não é novidade. No dia em que foi preso por condenação na Lava Jato em 7 de abril de 2018, o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), carregado por militantes. Uma imagem aérea desse momento foi feita de forma cirúrgica para passar a impressão de que o petista ia para a cadeia de cabeça erguida e depois usada para impulsionar a campanha “Lula livre”.
O efeito jurídico do voto Fux – que abriu brechas para contestação do julgamento em cortes internacionais – ainda é incerto. Mas o impacto político é imediato é dar a Bolsonaro um discurso político renovado. Para o futuro, aliados do ex-presidente apostam na eventual eleição do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para o Palácio do Planalto como forma de garantir a possibilidade de um indulto presidencial ou anulação do julgamento pela mudança da conjuntura.
Expectativas para prisão
As defesas de Bolsonaro e dos outros sete condenados vão recorrer da decisão do Supremo. Mas, na Corte, é considerado factível que comecem a cumprir pena em regime fechado ainda neste ano.
Pessoas próximas a Bolsonaro, por outro lado, ainda nutrem a expectativa de que o precedente da condenação do ex-presidente Fernando Collor na Operação Lava Jato sirva de modelo. Naquele caso, passaram-se 2 anos entre a sentença e a prisão. O relator foi o mesmo nos dois processos: o ministro Alexandre de Moraes.
