13 de setembro de 2025
Politica

Reação do governo Trump deve se limitar a ministros do STF e não punir comércio, avaliam governistas

BRASÍLIA – Integrantes do governo brasileiro avaliam que eventual nova sanção aplicada pela adminsitração Donald Trump após a condenação de Jair Bolsonaro deverá recair de forma individualizada sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ou do Executivo, e talvez familiares.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos prometeu “responder adequadamente” à condenação do ex-presidente brasileiro e mais sete réus, todos ex-integrantes militares e civis de seu governo, pela trama golpista.

Diplomacia trumpista prepara anúncios de medidas por condenação de Jair Bolsonaro
Diplomacia trumpista prepara anúncios de medidas por condenação de Jair Bolsonaro

Uma das avaliações correntes entre os estrategistas internacionais do governo Luiz Inácio Lula da Silva é que existe essa “tendência” de punição mais circunscrita a indivíduos, em vez de medidas que impactem de forma ampla a economia brasileira, como as tarifas comerciais, ou possam ter repercussões financeiras imprevisíveis, como punições a bancos de bandeira brasileira.

Segundo essa interpretação do governo brasileiro, punir o conjunto da economia nacional traria mais custos políticos negativos ao bolsonarismo e opositores de Lula.

Se atingir os bancos, que já foram cobrados pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac), Trump pode ainda trazer riscos difíceis de prever, por causa das relações imbricadas do sistema financeiro, opina um membro da equipe governista.

Na mesma toada, um cancelamento geral ou negativa genérica de vistos a brasileiros para entrar nos EUA – por exemplo, na Copa do Mundo de 2026 – seria prejudicar brasileiros de forma indiscriminada, algo que já gerou contestações aos bolsonaristas e forlateceu Lula. Uma espécie de “efeito bumerangue”.

No mesmo grupo de medidas que significam uma punião “coletiva” ao País, estariam as eventuais sanções secundárias pela relação comercial com a Rússia. Elas já foram aplicadas contra a Índia (a tarifa saltou de 25% para 50%), e Nova Délhi contestou a legitimidade, porque a Europa ainda negocia mais com Moscou, embora o comércio russo-indiano esteja em tendência de alta.

A leitura do governo brasileiro tem como base movimentos recentes do governo Trump e também os efeitos políticos domésticos do tarifaço de 50% sobre o Brasil.

O governo admite que carece de dados mais diretos sobre a dinâmica interna das decisões trumpistas por falta de acesso à Casa Branca. A avaliação não é unânime, e considera que existe um rol mais amplo de medidas especuladas.

Após a proclamação da sentença condenatória, diferentes porta-vozes da diplomacia trumpista e conselheiros de Trump se revezaram nas redes sociais para dizer que haverá consequências. Algo que o Palácio do Planalto já tinha em conta.

Em todas elas, avaliaram observadores do governo Lula, as autoridades diplomáticas americanas e integrantes do círculo mais próximo de Trump citaram apenas ministros do Supremo.

Nas horas seguintes à condenação, Trump deixou de responder se aplicaria novas sanções e se limitou expressar apreço pelo ex-presidente brasileiro, comparar sua situação jurídica à dele e afirmar que a condenação era terrível e muito surpreendente.

Depois, vieram as manifestações públicas do secretário de Estado, Marco Rubio, do secretário-adjunto de Estado, Christopher Landau, do subsecretário de Diplomacia Pública, Darren Beattie, e do lobista e estrategista Jason Miller. Todos mencionaram apenas o Supremo.

Nominalmente, eles citaram o ministro relator Alexandre de Moraes, já punido com a Lei Magnistsky, e os juízes com ligações pessoais e políticas mais diretas com Lula: o Cristiano Zanin, ex-advogado do presidente, e o ex-ministro da Justiça, Flávio Dino. A ideia era reforçar a tese de um tribunal enviesado e parcial.

Sancionar os ministros, seja com aplicação da Magnitsky (o que depende também do Departamento do Tesouro) ou alguma medida restritiva de visto (na alçada apenas do Departamento de Estado) teria efeitos menos drásticos.

Já o tarifaço de 50% atingiu amplamente setores produtivos do Brasil, inclusive alguns com forte ligação com o bolsonarismo, e criou dificuldades de argumento para a direita brasileira. O Planalto entende que controlou a narrativa, e que o embate rendeu dividendos políticos a Lula.

Se aplicar sanções secundárias relacionadas à guerra na Ucrânia sobre o Brasil – por causa da compra incrementada de diesel e fertilizantes – Trump poderia atingir em cheio o agronegócio (inclusive setores isentos do tarifaço, como suco de laranja), base política do ex-presidente. Esses são os produtos essenciais na relação comercial com russo-brasileira.

Além disso, houve as repercussões internas na economia americana. O governo Lula e o agro brasileiro esperam que o café a a carne entrem na lista de exceções.

Nesta semana, o governo americano ampliou a lista de exceções para incluir a celulose e ferro-níquel. Além disso, a Embraer recebeu um pedido firme de compra de 50 jatos da companhia aérea americana Avelo.

Para um integrante do governo, esses gestos podem indicar que o governo Trump tenha percebido que “errou a mão” no tarifaço e que vem sendo obrigado a rever a extensão das medidas.

Esse mesmo interlocutor entende que a reação americana estará vinculada aos próximos passos da recalibragem política da oposição brasileira, como a definição de onde pretendem contestar a condenação e se indicarão ou não agora um presidenciável como substituto. Para ele, não há sinais de que a centro-direita vá boicotar eleições em 2026.

Embora o governo Lula tenha disparado o processo burocrático para usar a Lei da Reciprocidade Econômica, o mecanismo deve demorar ainda alguns meses para estar completamente à disposição e há divisões internas no governo sobre essa opção.

 

 

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