16 de setembro de 2025
Politica

Teia de offshores e empresas de parentes do ‘Careca do INSS’ fazem CPI pressioná-lo por delação

BRASÍLIA – A descoberta de um conjunto de empresas no Brasil e no exterior em nome de familiares de Antônio Carlos Camilo Antunes, além de transações milionárias suspeitas entre eles, será usada pela CPI do INSS para pressionar o empresário conhecido como “Careca do INSS”.

A cúpula da comissão acredita que a situação jurídica do empresário e lobista é extremamente delicada. Por isso, passou a considerar, nos bastidores, que ele poderia ter interesse em entregar nomes e mecanismos ainda ocultos do esquema no INSS para poupar membros da família.

Antonio Carlos Antunes, o careca do INSS, é alvo da CPI.
Antonio Carlos Antunes, o careca do INSS, é alvo da CPI.

O procedimento permitiria um ganho político à CPI porque representaria um passo adiante nas frentes de investigação que estão há meses sendo trabalhadas pela polícia e pela Controladoria-Geral da União (CGU).

A disposição inicial de Camilo Antunes em falar à CPI mesmo com decisão judicial que o desobrigava foi interpretada por integrantes do colegiado de inquérito como um possível interesse em celebrar acordo de delação premiada.

Para a CPI, dois filhos e a mulher do Careca podem ser só laranjas do esquema. E por isso o lobista poderia ter interesse em colaborar com os trabalhos.

Os familiares de Camilo Antunes aparecem em relatórios da Polícia Federal e em investigações da CPI como partícipes do suposto esquema das associações que descontava ilegalmente benefícios de aposentados.

Um descuido de um dos filhos do Careca foi importante para que a PF mapeasse a ocultação de carros de luxo por investigados e conseguisse mandados de prisão contra o lobista e contra o empresário Maurício Camisotti, cumpridos na sexta-feira, 12.

A polícia suspeita de vazamento da operação deflagrada em abril porque três automóveis foram escondidos no estacionamento de um shopping de Brasília, na véspera da ação.

Ao checar informações no local onde estavam os veículos, um agente da PF identificou Danilo Carvalho Antunes observando a Ferrari vermelha e a Mercedes preta “de forma minuciosa” e digitando mensagens no aparelho celular.

O carro com o qual Danilo acessou o estacionamento estava em nome da BSB Business Consulting, firma do irmão dele, Romeu Carvalho Antunes, e de Rubens Oliveira Costa, suspeito de lavar dinheiro para o esquema. Danilo e Romeu têm, respectivamente, 22 e 28 anos.

Romeu aparece como sócio do pai em uma série de empresas apontadas pela polícia como meio de circulação de dinheiro ilícito do suposto esquema. Segundo a PF, essas firmas foram utilizadas para pagamento de propina a pessoas físicas e jurídicas ligadas a servidores do INSS.

A CPI também já mapeou que Romeu abriu duas offshores na Flórida. O pai dele tem uma outra nas Ilhas Virgens Britânicas, a Camilo & Antunes Limited.

Integrantes da comissão esperam um relatório da PF com entradas e saídas do Careca em outros países e suspeitam que ele pode ter cometido crime de evasão de divisas.

Foi por meio dessa empresa no exterior que o Careca do INSS comprou quatro imóveis, sendo um em Brasília e três em São Paulo, no valor de R$ 11 milhões. Em um período de três meses, entre abril e julho de 2024, ele aumentou seu patrimônio em R$ 14,3 milhões.

Também foram transações imobiliárias que colocaram investigadores a suspeitar da mulher dele, Tânia Carvalho dos Santos. O cartório de registro de imóveis no Distrito Federal comunicou transações atípicas entre o casal. O imóvel foi transferido “sucessivas vezes” em um período de menos de seis meses.

As operações de transferência, somadas, chegam a R$ 353 milhões. Essa prática, segundo a PF, serve para ocultar a origem de recursos.

A defesa de Camilo Antunes fez chegar à CPI que ele estava interessado em falar aos congressistas na segunda-feira, 15, mesmo com a decisão do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que tornou facultativa a presença.

Horas antes da reunião, porém, o Careca do INSS mudou de ideia. Em reação, o colegiado marcou para esta terça uma sessão extra para aprovar a convocação de pessoas ligadas a ele.

O presidente da CPI, senador Carlos Viana (Podemos-MG) disse que o colegiado estuda mudar a lei das comissões de inquérito para evitar o que chamou de interferência de um Poder sobre o outro.

“Se houver continuidade, por parte do STF, de que as pessoas não sejam obrigadas a comparecer, que nós proponhamos uma mudança na lei das CPIs. Como parlamentares, podemos definir com clareza quais são as regras. Será uma das propostas que queremos tirar dessa comissão, que é o aprimoramento das CPIs”, disse.

O vice-presidente da comissão, deputado Duarte Junior (PSB-MA), afirmou que a convocação das pessoas ligadas ao Careca do INSS que será votada não é uma revanche.

“Não é convocação de esposa e do filho porque ele não veio. É porque ambos são partes nessa organização e precisam vir aqui testemunhar”, declarou.

O relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), afirmou ao Estadão que viabilizar uma delação premiada é algo não descartado.

“Temos que usar todos os instrumentos que estejam dentro do arcabouço legal. Confesso que nunca vi uma colaboração premiada no âmbito de uma CPI, mas temos nossas obrigações e os nossos direitos previstos em lei. Não vejo nenhum contraponto em haver uma colaboração premiada no âmbito da CPMI. Se houver algo de relevante e alguma testemunha ou investigado queiram entrar nesse aspecto, vamos fazer uma análise concreta”, disse.

Em nota, a defesa de Antônio Carlos Camilo Antunes afirmou que parentes também não são obrigados a depor e que eles poderão se recusar a falar, conforme a legislação.

“Dessa forma, embora seja legítima a pretensão da Comissão de aprovar os requerimentos considerados pertinentes, a defesa se utilizará dos mecanismos judiciais cabíveis para provocar o filtro de legalidade da medida e ver assegurados os direitos inerentes à condição de cada familiar”, diz a nota.

 

 

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