Os bastidores da negociação entre o PT e o Centrão para rifar Bolsonaro e derrotar a anistia ampla
É grande a lista de jabutis por trás do projeto de anistia a Jair Bolsonaro. Longe dos holofotes, o Centrão passou as últimas horas costurando uma aliança com o PT e o governo para aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Blindagem, que cria uma série de empecilhos para a prisão e a abertura de processos contra parlamentares.
Em troca, partidos do grupo – que em público juram fidelidade ao ex-presidente – ofereceram apoio aos petistas para derrotar o PL de Bolsonaro no plenário da Câmara. Traduzindo: o Centrão aceita votar contra a urgência do projeto que prevê anistia ampla, geral e irrestrita a Bolsonaro e aos envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro, mas quer ajuda para se livrar de investigações da Polícia Federal autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O maior temor do bloco, no momento, é em relação aos processos sobre desvio de emendas, que têm alvejado seus integrantes.
A oferta dividiu o PT. Em reunião na tarde desta terça-feira, 16, com o presidente do partido, Edinho Silva, deputados e senadores petistas escancararam o racha. Não foram poucos os que viram a aliança como uma contradição com o discurso do presidente Lula de combate aos privilégios. Mas alguns admitiram que votariam a favor, usando uma justificativa parecida com o argumento de que os fins justificam os meios.
Enquanto Edinho conversava com os petistas na Câmara, a titular de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, se reunia com ministros do Centrão e do MDB, no Palácio do Planalto. A portas fechadas, ficou decidido ali que deputados e senadores licenciados deixarão a Esplanada por um dia e retornarão ao Congresso para ajudar o governo a derrotar a anistia.
Até as emas do Alvorada sabem, porém, que cada um desses personagens tem seus interesses. Enfraquecido, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), quer tirar o bode da sala para votar pautas de apelo popular, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 salários mínimos e conta com a ajuda de Arthur Lira (PP-AL), seu antecessor, para negociar os acordos.
O Centrão, por sua vez, quer salvar os seus e ganhar mais poder. Munido dessa estratégia, não terá dúvidas em rifar Bolsonaro – condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo STF –, mas ainda vai manter as aparências, fazendo um aceno aqui, outro acolá, porque precisa do aval do ex-presidente para lançar o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à sucessão de Lula, em 2026.
Mas por que o PL de Bolsonaro insiste em defender anistia desde 2019 – ano em que o ministro do STF Alexandre de Moraes abriu o inquérito das fake news – depois do sincericídio do presidente do partido, Valdemar Costa Neto?
Para desespero dos bolsonaristas, Valdemar chegou a admitir, no sábado, ter havido um “planejamento”, de golpe no Brasil, que não se consumou. Depois, disse ter sido mal interpretado.
O PL, no entanto, tentará emplacar o projeto por ter certeza de que Moraes usará o inquérito das fake news, ainda inconcluso, para “perseguir” seus candidatos ao Senado. É na Casa de Salão Azul que reside a maior esperança dos aliados de Bolsonaro para aprovar o impeachment de Moraes.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já avisou que matará no peito qualquer proposta como essa. Mas, se bolsonaristas conseguirem maioria no Senado nas eleições de 2026, o desfecho dessa história será imprevisível. Mesmo porque jabuti não sobe em árvore: se isso ocorrer, ou foi enchente ou foi mão de gente.