Após se blindar, Câmara avança para interferir no Judiciário e render-se ao golpe de Estado
Após blindar seus membros de processos, a Câmara dos Deputados deu um passo marcante em uma caminhada para, rendendo-se a um golpe de Estado continuado, interferir diretamente no Judiciário para livrar de punições aqueles condenados por atentarem contra a democracia. Sob o comando de um cada vez mais fraco Hugo Motta, a Casa aprovou a urgência para a votação do PL da Anistia que, antes mesmo do fim dos processos no Supremo Tribunal Federal (STF), busca garantir a impunidade que sempre permeou os ataques ao Estado Democrático de Direito no Brasil.
Ao colocar em votação o que queriam aqueles que ocuparam a Mesa Diretora e trabalham com ameaças de interferência de uma potência estrangeira, inclusive contra ele, Motta se rendeu. Ajoelhou-se diante de um golpe continuado, que não apenas tentou solapar a democracia para manter no Poder um presidente derrotado nas urnas, como trabalha para impedir qualquer punição a quem tenha dele participado.
Enquanto atrasa as discussões de reformas importantes que o Brasil sempre precisou, a PEC da Segurança Pública ou o debate da isenção do Imposto de Renda para os mais pobres, a Casa acelera um debate para salvar da cadeia os que destruíram o próprio prédio da Câmara dos Deputados e os líderes de uma trama que incluiu até mesmo planos de matar o presidente, o vice e um ministro do STF.
O recado que Hugo Motta e os líderes do Centrão apresentaram ao País é o de que valeu muito a pena tentar, como tem valido ameaçar paralisar os trabalhos da Câmara, atuar por sanções ao País e a punições a ministros do Supremo que não votam como eles querem.
Sob a rejeição da maioria do eleitorado brasileiro, que segundo todas as pesquisas é contra a anistia, a Câmara diz sim ao golpe mais uma vez. Haverá, porém, mais uma chance de uma reflexão, quando o mérito for analisado, seja com um texto mais brando, que apenas reduza penas por mudanças legislativas legítimas, ou com a rejeição de uma proposta que, sabe-se, o STF vai considerar inconstitucional. Se lá chegar, pois, ao contrário da Câmara, o Senado parece demonstrar alguma dose de racionalidade em meio a um momento marcante da história brasileira. O Brasil precisa de fato virar uma página. Mas é a da impunidade.