20 de setembro de 2025
Politica

PT aposta em inteligência artificial e engajamento de jovens para campanha de 2026

Sob nova direção, a Secretaria de Comunicação do PT pretende ampliar o uso de inteligência artificial (IA) na produção de conteúdo para redes sociais. A ideia é apostar em vídeos curtos, chamativos e com potencial de viralizar, como forma de aproximar o partido de públicos mais distantes, entre eles jovens e trabalhadores de aplicativos.

Desde o embate entre o governo Lula e o Congresso sobre a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o PT tem defendido a bandeira da justiça tributária sob o mote da “taxação BBB” – bancos, bets e bilionários. Após as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, a sigla também incorporou a retórica da soberania nacional.

LULA  BRASÍLIA DF 26.08.2025 LULA/ REUNIÃO MINISTERIAL POLÍTICA- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante  reunião ministerial realizada  no Palácio do Planalto em Brasília. Os temas principais da reunião devem ser o tarifaço de Donald Trump e a proposta de regulação das big techs em elaboração pelo governo federal. Na foto, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente Lula. FOTO: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO
LULA BRASÍLIA DF 26.08.2025 LULA/ REUNIÃO MINISTERIAL POLÍTICA- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião ministerial realizada no Palácio do Planalto em Brasília. Os temas principais da reunião devem ser o tarifaço de Donald Trump e a proposta de regulação das big techs em elaboração pelo governo federal. Na foto, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente Lula. FOTO: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Com vídeos gerados por IA, que geralmente mostram pessoas comuns em oposição a magnatas engravatados, a estratégia foi bem recebida pela cúpula petista. Parlamentares ouvidos pela reportagem avaliam que a esquerda finalmente encontrou uma “fórmula do sucesso” nas redes. O próximo passo é intensificar a ofensiva mirando as eleições de 2026.

O ex-presidente do PT da Bahia Éden Valadares assumiu a Secretaria de Comunicação no último dia 23, no lugar do deputado Jilmar Tatto (SP), agora vice-presidente do partido. Na véspera, Valadares se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pediu ousadia na comunicação e maior foco nos jovens.

“Precisamos arriscar, ser ousados, perder o medo de errar e inovar na estética, na linguagem e no discurso”, disse Valadares ao Estadão. Para ele, o PT compreendeu que, além da disputa política nas ruas, é necessário travar o embate na internet. Entre as prioridades, estão a criação de uma rede de comunicação mais interativa com filiados e simpatizantes e o fortalecimento da mobilização digital.

Questionado sobre o uso de IA, Valadares classificou a experiência como “um momento de ousadia que deu certo”. Segundo ele, o partido seguirá utilizando a tecnologia, mas já busca novas linguagens para manter a comunicação dinâmica.

O uso intensivo da IA começou ainda sob Tatto. Com vídeos de estética simplificada e personagens digitais, o PT conseguiu traduzir discursos tributários complexos em narrativas diretas, centradas em pessoas comuns indignadas com injustiças. Como mostrou o Estadão, o modelo foi concebido pelo marqueteiro Otávio Antunes.

A lógica também difere das estratégias tradicionais. Em vez de contratar grandes agências, o PT prioriza profissionais com trajetória política e ligação partidária, apostando que essa proximidade com a militância confere mais autenticidade às mensagens.

Apesar do entusiasmo, os resultados ainda são modestos. Pesquisa Genial/Quaest de 16 de julho apontou que apenas 17% dos brasileiros tiveram contato com peças do PT produzidas com IA. A baixa exposição evidencia o desafio de competir com a direita, historicamente dominante na comunicação digital.

Ainda assim, dirigentes acreditam ter encontrado um caminho para reduzir a desvantagem. Valadares afirma que uma das prioridades é aproximar o partido das novas gerações e dos empreendedores. Segundo ele, a ideia não é se apropriar da linguagem desses grupos, mas abrir espaço para o diálogo, acolher e construir novas formas de comunicação em conjunto.

A estratégia também reflete o cenário de polarização política. Para Valadares, o avanço da extrema direita intensificou a violência no debate público e empurrou a direita para posições mais radicais. Nesse processo, a centro-direita perdeu relevância, como mostra o enfraquecimento do PSDB, que deixou de ter protagonismo e hoje ocupa espaço minoritário.

Especialistas veem a mudança como estratégica para reposicionar o PT. O professor Paulo Niccoli Ramirez, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), aponta que o ponto de virada ocorreu no debate sobre o IOF. “O PT e a esquerda sempre ficaram em desvantagem na comunicação digital. Com o IOF houve uma mudança importante. O partido entendeu que era preciso disputar esse espaço”, afirma.

Ele acrescenta que a comunicação digital será crucial para a renovação interna. “A eleição de 2026 deve ser a última de Lula. É hora de preparar o terreno para novas figuras capazes de dialogar com a população. Para isso, será essencial usar recursos digitais, apelar à emoção e até recorrer à inteligência artificial como ferramenta de persuasão”, completa.

 

 

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