Multidões contra blindagem e anistia expõem constrangimento do PT com pauta ética
O mérito não é dos artistas. O público significativo que compareceu aos protestos realizados neste domingo, 21, foi, acima de tudo, resultado de uma onda de indignação legítima e espontânea formada ao longo da última semana contra as votações no Congresso Nacional que fizeram avançar o Pacote da Impunidade – composto pelo PL da Anistia, para livrar Jair Bolsonaro e outros golpistas condenados da cadeia, e pela PEC da Blindagem, para reduzir enormemente as chances de que políticos com foro privilegiado paguem por seus crimes.
Há tempos a esquerda não conseguia reunir tanta gente nas ruas, o que sugere que nem só de militantes empolgados eram feitas as multidões em mais de uma dezena de capitais do País. O PT seria o partido mais apto a explorar esse ânimo popular renovado, mas não vai conseguir completar essa tarefa porque fica meio ridículo na fantasia de defensor da ética na política.

Parlamentares de oposição, quando sobem num carro de som na Av. Paulista ao lado da família Bolsonaro, do pastor Silas Malafaia e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sabem exatamente o que a massa ali reunida pensa e quer – e por quem ela seria capaz de se jogar no abismo. Quando voltam a Brasília, atuam para atender a esses anseios e para usar todos os meios com a justificativa de defender seu líder. Para eles, os discursos a favor da liberdade de expressão e do combate à corrupção, por exemplo, são moldáveis às circunstâncias. Podem ser perfeitamente relativizados quando isso for do interesse do projeto político de Bolsonaro – e quem vai às ruas por ele está de bem com isso.
O PT não pode dizer o mesmo de quem lotou praças, praias e avenidas neste domingo. As palavras de ordem eram contra uma ideia ampla de impunidade: exigiam punição a quem atentou contra a democracia e recusavam dar a deputados e senadores a palavra final sobre se podem ser processados ou não.
O que o PT tem a oferecer a essa massa de inconformados? O ex-ministro José Dirceu, condenado em 2016 por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, que agora, em seu esforço de reabilitação política, fez até discurso no ato em Brasília dizendo que é preciso “mudar o Congresso Nacional”? Ou os 12 deputados petistas que votaram a favor da PEC da Blindagem, sob os argumentos de que o fizeram em troca do apoio do Centrão para pautas do governo Lula e para evitar a anistia a Bolsonaro? Ou tudo isso e mais um pouco, sem medo do constrangimento?