Acordo comercial com EUA exigirá concessões grandes do Brasil
A possibilidade de uma conversa telefônica entre o presidente Lula e Donald Trump, após os comentários do presidente americano na Assembleia Geral da ONU, reacendeu a esperança de um novo capítulo nas relações entre Brasil e Estados Unidos. A abertura desse canal de diálogo é, sem dúvida, um sinal positivo, indicando que a Casa Branca pode estar disposta a testar uma nova estratégia para lidar com a atual tensão.
Existe outro ponto de otimismo. Um desdobramento judicial nos EUA pode abrir, ainda este ano, outra janela de oportunidade: o julgamento na Suprema Corte Americana, previsto para novembro, pode levar à derrubada das tarifas impostas com base no International Emergency Economic Powers Act (IEEPA). Embora Washington já esteja se preparando para substituí-las por outros instrumentos, esse processo de ajuste pode ser o momento ideal para o Brasil, com o apoio do setor privado, apresentar argumentos e negociar tarifas menores para alguns produtos, especialmente aqueles que causam inflação nos EUA, como o café.
No entanto, é preciso muita cautela. Um acordo bilateral que resulte em uma redução significativa de tarifas e no alívio de sanções está, por enquanto, bem distante.

Ao analisarmos os acordos recentes firmados pelos EUA com outros países e blocos econômicos – como Japão, União Europeia e Vietnã –, percebe-se que as concessões exigidas por Washington são substanciais. A Casa Branca deve exigir contrapartidas significativas, incluindo a ampla redução de tarifas pelo Brasil (mesmo aqueles considerados sensíveis, como o etanol), compromissos de compra por empresas brasileiras no mercado americano ou investimentos em setores estratégicos. Sem essas concessões, qualquer negociação será muito pontual.
Além disso, as negociações com outros países incluíram outras pautas estratégicas. No caso do Brasil, é notório o interesse em minerais críticos e a regulação da política digital. É provável que, quando esses temas sejam trazidos à mesa, também venham com exigências que, a princípio, estão bem além do que o governo brasileiro estaria disposto a entregar. É difícil ver o Brasil mudando de posição e concordando em restringir tecnologia ou investimentos chineses nesses setores, por exemplo – sem falar que, nessas áreas, o Brasil ainda tentará barganhar algum compromisso de investimento dos EUA para desenvolver esses setores estratégicos.
Além disso, apesar da disposição para o diálogo, as diferenças ideológicas entre os dois governos continuam a pesar, e é improvável que o governo americano simplesmente abandone suas pautas políticas. As sanções impostas a figuras políticas brasileiras e a pressão judicial devem continuar, ainda mais com a provável cassação e condenação de Eduardo Bolsonaro.
Desse modo, o cenário mais provável é de um avanço lento nas conversas com os EUA, com resultados pontuais até as eleições de 2026, e sanções adicionais ainda sendo impostas em função da discordância sobre o processo eleitoral de 2026 e o tratamento às redes sociais. A menos que o Brasil se mostre disposto a ceder mais do que se imagina, a Casa Branca pode preferir negociar de fato com o vencedor da eleição brasileira, na esperança de um alinhamento político e ideológico que facilite o processo. A perspectiva de um acordo substancial, que reverta a maior parte das tarifas e sanções, continua sendo um desafio.