Ratinho Júnior intensifica articulação ao Planalto, descarta Senado e é visto como opção a Tarcísio
O governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), tem intensificado articulações para viabilizar sua candidatura à Presidência da República em 2026. Nos últimos meses, ele aumentou a presença em compromissos em outros Estados, priorizando, até o momento, encontros com empresários e operadores do mercado financeiro.
O Estadão conversou com aliados do governador no Congresso e na Assembleia Legislativa do Paraná, além de ouvir auxiliares no Palácio Iguaçu. Segundo esses interlocutores, Ratinho está decidido a concorrer ao Palácio do Planalto no ano que vem e descarta outras possibilidades no plano eleitoral.

Questionado sobre as articulações, Ratinho informou, por meio de sua assessoria, que “mantém foco em cumprir sua agenda como governador do Paraná e que as discussões em torno da eleição presidencial vão ocorrer, no futuro, em momento oportuno e construído após consenso dentro do PSD.”
“Ele já deixou claro que não é candidato ao Senado”, diz o deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR) sobre o governador do Paraná. “Ele já está percorrendo o Brasil, se nacionalizando. É um político jovem, com uma gestão muito bem avaliada. Além disso, o partido tem estrutura. Ele é um candidato (à Presidência) com condições de vencer.”
Na avaliação do congressista, Ratinho será candidato ao Planalto mesmo que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também entre na corrida presidencial. “Claro que ainda é possível um arranjo entre os dois governadores, mas esse não é o cenário no momento.”
Entre os aliados, há quem defenda até mesmo que, caso necessário, Ratinho troque de partido para garantir a candidatura presidencial. A única hipótese de abrir mão da cabeça de chapa, dizem, seria num acordo com Tarcísio, no qual o paranaense aceitaria ocupar a vice.
Um interlocutor do governador do Paraná afirma que Ratinho prefere não disputar as eleições de 2026 se não for candidato ao Planalto – ou vice. Segundo ele, o plano B do chefe do Executivo paranaense seria se dedicar ao grupo de comunicação da família e, possivelmente, voltar à política apenas no próximo ciclo eleitoral.
Futuro de Ratinho Júnior depende de xadrez político em São Paulo
O futuro do governador do Paraná, porém, depende do xadrez político em São Paulo. Caso Tarcísio seja candidato à reeleição, Ratinho terá o caminho livre para se projetar como principal nome da direita em 2026. Agora, se o governador paulista decidir pela disputa ao Planalto, o paranaense corre o risco de perder o apoio de sua própria sigla.
Como mostrou o Estadão, Tarcísio desenhou uma estratégia para manter abertas as duas opções em 2026: a reeleição no Estado ou uma candidatura à Presidência. Para isso, já conversa com marqueteiros, promove mudanças na comunicação e calibra seu discurso para se projetar além de São Paulo.
Diferentemente do homólogo paulista, Ratinho está no segundo mandato e não pode ser reconduzido ao cargo.

O presidente do PSD e secretário de Governo de Tarcísio, Gilberto Kassab, já declarou que o partido vai estar ao lado do governador de São Paulo numa eventual disputa ao Planalto. Porém, enquanto a definição não acontece, Kassab estimula a candidatura de Ratinho a presidente da República.
Auxiliares de Tarcísio avaliam que Kassab tenta usar Ratinho como moeda de troca. Caso o governador de São Paulo deixe o cargo para disputar a Presidência, Kassab poderia retirar a candidatura de Ratinho em troca do apoio de Tarcísio ao seu projeto político. Nos bastidores, comenta-se que o dirigente planeja disputar o Palácio dos Bandeirantes.
Há ainda uma percepção no entorno de Tarcísio de que Kassab atua para ser o vice numa possível chapa à reeleição em São Paulo. O arranjo pavimentaria o caminho para o presidente do PSD concorrer ao Bandeirantes em 2030. Porém, como revelou o Estadão, Tarcísio já disse a aliados que não há qualquer possibilidade de Kassab ser o vice.
Já integrantes do PSD avaliam que, diante da indefinição de Tarcísio, Kassab tem se movimentado para viabilizar a candidatura de Ratinho junto a empresários e lideranças políticas. No último dia 13, durante encontro do partido em Florianópolis (SC), aliados relataram que o governador do Paraná foi tratado como o nome da sigla para 2026.
Kassab também promoveu, na semana passada, um jantar em sua casa com a presença de Ratinho e de representantes do empresariado para discutir a sucessão presidencial. Segundo interlocutores, o encontro foi visto como um gesto de endosso ao paranaense, o que reforçou seu ânimo em relação à disputa.
Nesta sexta-feira, 26, Kassab afirmou que o jantar não teve conotação eleitoral, já que o encontros teria sido suprapartidário e reuniu lideranças de diferentes legendas. A declaração foi feita em conversa com jornalistas durante evento da organização Comunitas, na capital paulista.
Candidatura não é só ganhar a eleição, diz Ratinho Júnior
Em entrevista recente ao podcast Inteligência Ltda, Ratinho disse que hoje existe espaço para que ele seja candidato ao Planalto, mas que essa decisão caberá ao seu grupo político. “Não adianta dizer: eu sou candidato”, afirmou, reforçando a necessidade de construção da candidatura presidencial.
Também disse que seguirá focado no trabalho como governador, e que o PSD vai decidir se ele tem condições de representar um projeto para o País. “Candidatura não é só ganhar a eleição, é também o posicionamento sobre o que você pensa do país e de um plano de governo.”
As articulações do governador têm mirado principalmente empresários e operadores do mercado financeiro, com quem cumpre agendas oficiais ou jantares reservados. Só em agosto foram 17 compromissos fora do Paraná, distribuídos em nove dias. Entre eles, encontros com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o banco BTG Pactual e a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo.
Além disso, a defesa enfática de Tarcísio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), especialmente após o tarifaço, desagradou parte do empresariado e abriu espaço para uma aproximação maior do setor com Ratinho, segundo um interlocutor que participou de encontros ao lado do governador paranaense. Para ele, os episódios facilitaram o diálogo, já que não seria viável apostar em alguém que se mantém submisso a Bolsonaro.
Perfil moderado e gestão bem avaliada são apontados como trunfo
Segundo pesquisas recentes, Tarcísio e Ratinho têm desempenho semelhante em eventual confronto direto com o presidente Lula (PT). Levantamento da Genial/Quaest mostra Tarcísio com 35% contra 43% de Lula, enquanto Ratinho aparece com 32% ante 44% do petista. Já o Datafolha mostra Lula com 45% e Tarcísio com 41%; na mesma pesquisa, Ratinho tem 40%, contra 45% do presidente.
Além da dupla, outros governadores de centro-direita ou direita são vistos como presidenciáveis em potencial. É o caso de Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO) e Eduardo Leite (PSD-RS).

Segundo aliados, o principal trunfo de Ratinho em relação aos concorrentes é a popularidade no Paraná. Sua gestão é aprovada por 84% da população, segundo a pesquisa Genial/Quaest mais recente. Outro ponto destacado é seu perfil considerado moderado.
Embora mantenha boa relação com Bolsonaro, Ratinho não é rotulado como bolsonarista, o que poderia atrair eleitores que rejeitam nomes mais alinhados ao ex-presidente. Diferentemente de Tarcísio, que tem reforçado discursos em defesa de Bolsonaro e ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, Ratinho adota uma postura mais cautelosa.
Após a condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, ele se solidarizou, mas não defendeu a anistia irrestrita.
“Há injustiça no processo que aconteceu nos últimos anos. E o mais importante, não é agora achar certo ou errado, é achar a pacificação do País. Se tiver que colocar atores políticos nesse processo junto com aqueles que participaram do dia 8 de Janeiro e isso pacificar o País, é o caminho que o Brasil tem que tomar”, afirmou.
A relação entre Ratinho e Bolsonaro esfriou especialmente após as eleições municipais de 2024, quando o ex-presidente apoiou Cristina Graeml (PMB), derrotada por Eduardo Pimentel (PSD), eleito prefeito de Curitiba. Apesar do atrito, aliados afirmam que hoje a relação é amistosa.
Bolsonarista convicto, o deputado Sargento Fahur (PSD-PR) afirma que vai apoiar o nome que tiver o aval de Jair Bolsonaro em 2026. Ao mesmo tempo, diz que Ratinho tem o direito de trabalhar em prol da candidatura ao Planalto. “Gosto muito do governador, mas ele poderia ter caprichado mais no enfrentamento ideológico”, pondera.
O parlamentar bolsonarista confirma que Ratinho mantém boa relação com o ex-presidente. Porém, esclarece que teria dificuldade em apoiar Ratinho ao Planalto. Assim ainda, o deputado diz que o governador poderia ser um bom vice numa chapa encabeçada por um nome mais comprometido com o ex-presidente.