Alvo da PF no esquema do INSS diz que Nelson Wilians recorria a Camisotti para cobrir prejuízos
BRASÍLIA – Em depoimento prestado à Polícia Federal, o advogado Fernando Cavalcanti, ex-sócio do advogado Nelson Wilians, disse que o empresário Maurício Camisotti, apontado como um dos articuladores do esquema de descontos indevidos a aposentados e pensionistas, fazia empréstimos às firmas do grupo pelo menos desde 2018. As transferências seriam para cobrir o “descontrole financeiro” de negócios do advogado que estavam com déficit.
Os três são alvo de investigação da PF sobre o esquema do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Relatórios de inteligência financeira mapearam pelo menos R$ 28,1 milhões de transferências entre Wilians e Camisotti, e parte dos valores enviados pelo advogado ao empresário eram “sem lastro”. A PF suspeita que Nelson Wilians pode ter lavado dinheiro para Camisotti.
Maurício Camisotti é apontado como um dos principais beneficiários do suposto esquema de descontos ilegais aplicados a aposentados e pensionistas do INSS. Ele estaria por trás de pelo menos três associações que, desde 2021, faturaram mais de R$ 1 bilhão com esses descontos.
Procurada, a defesa de Cavalcanti informou que não se manifestaria. Maurício Camisotti não se manifestou até a publicação da reportagem.
O advogado Santiago André Schunck, que representa Nelson Wilians, afirmou não haver incoerências nos fatos narrados por Cavalcanti.
“A realização de empréstimos entre empresários é prática comum, especialmente em períodos de expansão ou reorganização. Em 2018, o Sr. Maurício Camisotti vendeu uma de suas empresas à SulAmérica Seguros, em operação pública e amplamente noticiada na mídia. Atualizada, essa transação ultrapassaria R$ 200 milhões. Trata-se de um negócio de grande porte, conduzido com auditoria independente e rigorosos mecanismos de compliance, como se espera de uma seguradora desse nível. Na época, de forma absolutamente legítima, houve a necessidade de empréstimos para ajustar e fortalecer a estrutura do escritório, em especial no período pandêmico”.
De acordo com o relato feito por Fernando Cavalcanti à PF, Nelson Wilians, conhecido pela ostentação da riqueza nas redes sociais, tinha relação de proximidade com Camisotti, com quem se reunia para almoços em Brasília e em São Paulo.
Fernando disse ter ingressado no Grupo Nelson Wilians em 2009 e se tornado assistente particular do líder dos negócios em 2018, quando assumiu o controle das finanças do grupo e foi apresentado a Camisotti. Segundo ele, já havia operações de empréstimo efetuadas anteriormente àquele ano.
Essas transações eram feitas, segundo Fernando, em função da proximidade entre Nelson Wilians e Camisotti e do “descontrole financeiro” do grupo. Parte dos valores foi direcionado à compra de um terreno situado ao lado da casa de Nelson Wilians. O local deu lugar a um Jardim anexado à casa do advogado.
Fernando e Maurício teriam se conhecido em 2018 por intermédio do próprio Nelson Wilians e se encontrado para almoços em Brasília e em São Paulo diversas vezes.
A investigação apontou que Nelson Willians e Maurício Camisotti têm “inúmeras” movimentações financeiras com “forte indício de serem suspeitas” por serem de “de elevado valor” e “realizadas por meio de pessoas e empresas sobrepostas, com evidente pulverização de recursos e ocultação de beneficiários finais”.
Fernando disse ter deixado a sociedade que mantinha com Nelson Wilians em maio devido a discordâncias. Ele foi alvo de busca e apreensão em sua casa em Brasília por suspeita de lavar dinheiro oriundo dos desvios das aposentadorias.
No último dia 12, Fernando Cavalcanti foi alvo de mandado de busca e apreensão, autorizado pelo Supremo Tribunal Federal em uma nova etapa da investigação da PF sobre o suposto esquema do INSS.
Nelson Wilians também foi alvo de buscas. A PF chegou a pedir a prisão dele, mas a solicitação foi negada pelo ministro André Mendonça, do STF.
Outros dois alvos foram presos. Além de Maurício Camisotti, o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, apontado como figura central no esquema investigado.
Maurício Camisotti é apontado como um dos principais beneficiários do suposto esquema de descontos ilegais aplicados a aposentados e pensionistas do INSS. Ele estaria por trás de pelo menos três associações que, desde 2021, faturaram mais de R$ 1 bilhão com esses descontos. Entre elas, a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), a terceira maior beneficiária da fraude.
“A relação entre Nelson Williams e Maurício Camisotti revela-se além dos limites de uma mera vinculação profissional entre cliente e advogado, uma vez que Nelson Williams figura como possível beneficiário dos descontos associativos da AMBEC, demonstrava interesse em obter informações acerca da investigação em curso e permanece efetuando repasses financeiros em favor de Maurício”, destacou a PF, em relatório