Decisão sobre candidato da direita pode amadurecer na virada do ano
A janela crítica para a escolha do candidato da oposição à Presidência está se aproximando. Ainda é cedo para o ex-presidente Jair Bolsonaro indicar o seu sucessor, mas é possível que essa definição esteja clara antes do fim de janeiro.
Bolsonaro não pode esperar indefinidamente. O calendário eleitoral estabelece abril de 2026 como prazo final para que Tarcísio decida se renuncia ou não ao governo de São Paulo para disputar a Presidência. Na prática, porém, o tempo é ainda mais curto. Líderes paulistas pressionam Bolsonaro a oferecer alguns meses de antecedência para que se organize a sucessão estadual em caso de saída de Tarcísio. Gilberto Kassab já se movimenta como pré-candidato, e outros grupos também pleiteiam a vaga, o que exige negociações delicadas sobre a chapa estadual e seus efeitos na aliança federal.

Dois fatores, porém, explicam por que a decisão não acontece de imediato. O primeiro é o desenrolar do projeto de anistia no Congresso. Embora as chances de aprovação de uma “anistia ampla, geral e irrestrita” sejam mínimas, a forma como partidos de centro-direita e pré-candidatos como Tarcísio de Freitas se posicionarem sobre o tema — inclusive diante da possibilidade de redução de penas — servirá de termômetro. Trata-se de um teste de lealdade: Bolsonaro quer observar até onde aliados estão dispostos a ir para defendê-lo e qual grau de pragmatismo prevalece no bloco oposicionista. Esse tema deve se arrastar ainda por semanas, diante do impasse entre o PL, o governo e o Centrão sobre o formato do projeto.
O segundo ponto é a avaliação da competitividade de Lula no início da disputa. Se o presidente mantiver força, maior a chance de Bolsonaro considerar a indicação de alguém de fora de sua família, como Tarcísio, que poderia ampliar o alcance da direita para além do bolsonarismo raiz. Em contrapartida, se prevalecer a percepção de fragilidade do governo, cresce a tentação de manter o capital político concentrado em um herdeiro direto, como defende Eduardo Bolsonaro, garantindo controle sobre a narrativa e a estrutura de campanha. Quanto mais tempo tiver para essa avaliação, melhor para o ex-presidente.
A soma desses fatores abre a possibilidade de que a definição do candidato oposicionista ocorra na virada de 2025 para 2026. Trata-se de um ponto de equilíbrio: cedo o bastante para dar previsibilidade às alianças regionais, mas tarde o suficiente para que Bolsonaro avalie a conjuntura nacional e mantenha a pressão sobre seus aliados. Ainda assim, é impossível cravar que a decisão virá nesse prazo.
Caso Tarcísio seja o escolhido, a eleição tende a começar já polarizada, com um embate direto entre lulismo e bolsonarismo, reduzindo o espaço para alternativas de centro. Mas, se Bolsonaro optar por preservar a candidatura dentro da família, a incerteza se prolongará ao longo de 2026, com maior chance de dispersão entre diferentes nomes da direita e a possibilidade de um primeiro turno mais aberto a surpresas.