Contag, investigada por fraude no INSS, movimentou R$ 2 bilhões e tem transações suspeitas, diz Coaf
BRASÍLIA – A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), uma das investigadas no suposto esquema de descontos ilegais a beneficiários do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), movimentou R$ 2 bilhões em um ano.
A informação está em um relatório enviado à CPI do INSS pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e produzido com base na movimentação financeira da entidade entre maio de 2024 e maio de 2025.

Os R$ 2 bilhões movimentados no período de um ano se deram da seguinte forma: R$ 1,017 bilhão em receitas e R$ 1,015 bilhão em pagamentos.
O faturamento anual da Contag, segundo os dados bancários, foi de R$ 507 milhões, apurados em 2023. As informações foram prestadas por uma agência do Banco do Brasil no Distrito Federal onde a Contag tem conta desde 1976.
Uma parte das transações da Contag no período foi classificada com “suspeitas de irregularidades podendo caracterizar desvio com fraudes”. Procurada, a Contag ainda não se manifestou.
Uma das suspeitas apontadas se deu em regiões de fronteira com outros países. São citados os municípios de Rodeio Bonito (RS), Cruzeiro do Sul (AC) e Tangará da Serra (MT). Os três não são imediatamente vizinhos de cidades estrangeiras, mas estão localizados em faixas consideradas fronteiriças.
Os valores que chamaram a atenção do Coaf nessas regiões não estão discriminados no relatório. O documento cita apenas que nesses locais foram registradas “operações de cheques viagens”. Trata-se de um sistema de pagamentos que consiste na compra de um crédito junto a banco que pode ser usado no destino.
Além disso, o relatório de inteligência financeira aponta transações “para terceiros cuja relação comercial com a entidade” não foi identificada. E, ainda, uma “elevada movimentação nas contas em curto período”, como em abril de 2025 quando R$ 46,4 milhões foram depositados.
O relatório aponta também que a Contag operou “valores elevados em Fundos de Renda Fixa de longo prazo” de forma “incompatível com a declaração de rendimentos”.
“Movimentação realizada muito acima da declarada para o período em regiões de fronteira, com pessoas sem aparente vínculo comercial. Incluindo denúncias externas em apuração. Diante do exposto, comunicamos, por suspeitas de irregularidades podendo caracterizar desvio com fraudes”, diz o documento do Coaf.
A Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, foi deflagrada em abril deste ano. A Contag é uma das investigadas. Criada nos anos 1960, ela é a que mais arrecadou com descontos associativos.
Entre 2016 e janeiro de 2025, foram R$ 3,4 bilhões, segundo dados levantados pela Controladoria-Geral da União (CGU).
A entidade é politicamente próxima do PT, com quadros do partido entre seus dirigentes e ex-dirigentes. O ex-presidente é Aristides Veras, irmão do deputado federal Carlos Veras (PT-PE), primeiro secretário da Câmara.