4 de outubro de 2025
Politica

Vereador de SP propõe ceder terreno público para ONG da mãe, e Câmara aprova

O vereador Silvinho Leite (União Brasil) propôs a concessão de um terreno público na zona sul de São Paulo para uma organização não governamental (ONG) presidida por sua própria mãe. A sugestão foi incluída em um projeto de lei sobre a venda de uma travessa nos Jardins, embora haja uma distância de mais de 11 quilômetros entre os locais. O trecho foi aprovado pela Câmara Municipal e integra a versão final do projeto, que aguarda sanção do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A sugestão de Silvinho autoriza a Prefeitura a conceder, pelo prazo de 20 anos, prorrogável por igual período, uma área pública de mais de 600 m² para a Associação Comunitária dos Moradores do Parque Santa Edwirges e Adjacências. A entidade é presidida por Teresa Pereira dos Santos, mãe do vereador. O terreno está localizado próximo à Marginal Pinheiros e à Avenida Washington Luís.

Vereador Silvinho Leite (União Brasil) apresentou emenda que beneficia ONG presidida pela mãe dele
Vereador Silvinho Leite (União Brasil) apresentou emenda que beneficia ONG presidida pela mãe dele

O gabinete de Silvinho afirmou que o vereador não agiu de má-fé ao apresentar o texto para beneficiar a ONG comandada pela mãe. (veja a resposta completa mais abaixo). “Sua propositura visava atender ao interesse público e está imbuída da mais boa-fé”, disse a equipe do vereador, em nota. Teresa Pereira dos Santos foi procurada, mas não se manifestou em nome da associação.

A emenda de Silvinho pegou “carona” em um projeto de lei sobre a venda da Travessa Engenheiro Antônio de Souza Barros Júnior, na região dos Jardins. A Prefeitura de São Paulo pretende alienar a via pública e vendê-la a uma incorporadora interessada na construção de um empreendimento de luxo. O poder público estima arrecadar R$ 16,6 milhões com a operação.

O projeto de lei sobre a venda da travessa foi apresentado pelo Executivo em junho. No mesmo mês, foi aprovado pelas comissões permanentes da Câmara e passou pela primeira votação no plenário. No início de setembro, passou por nova votação, como exige o Regimento Interno da Casa, momento em que recebeu emendas, como são chamadas as sugestões para alterar a redação de um projeto de lei. O projeto foi aprovado por 29 votos favoráveis e 11 contrários.

A emenda de Silvinho não tem relação com o objeto inicial da proposta. A área concedida pela sugestão do vereador está localizada a mais de 11 quilômetros da travessa nos Jardins.

Segundo o projeto aprovado pela Câmara, a Prefeitura está autorizada a conceder um terreno de 646 m² à ONG presidida por Teresa. O lote, localizado na zona sul da capital paulista, está sem uso e não possui edificações.

No final de julho, a associação presidida por Teresa obteve uma autorização da Subprefeitura de Santo Amaro para usar o local por 90 dias. O prazo de uso temporário encerra em 29 de outubro. No entanto, mesmo com a autorização, o terreno permaneceu sem uso.

Sugestão de Silvinho (União Brasil) a projeto de lei beneficia entidade presidida por mãe do vereador
Sugestão de Silvinho (União Brasil) a projeto de lei beneficia entidade presidida por mãe do vereador

Teresa está à frente da Associação de Moradores do Parque Santa Edwirges desde 2001, ano de fundação da entidade. A ONG realiza trabalhos sociais com populações em situação de vulnerabilidade, com enfoque na região do Grajaú, no sul da capital paulista. Desde 2013, é assessora do gabinete de Milton Leite Filho (União Brasil) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).

Silvinho Leite é um dos apadrinhados do ex-vereador Milton Leite, pai do deputado estadual, na atual legislatura paulistana. Após sete mandatos, o cacique do União Brasil não concorreu nas eleições de 2024, apoiando as candidaturas de Silvinho e Silvão Leite, ambos eleitos. Milton, Silvinho e Silvão não têm laços de parentesco entre si.

O gabinete de Silvinho diz que, apesar da concessão do terreno à associação de Teresa, o projeto social será tocado por mais entidades. A iniciativa será voltada para o atendimento de mães atípicas. Segundo a equipe do parlamentar, Teresa não participou do pedido de concessão do local e a ONG “realiza um trabalho sério e árduo há anos, voltado às questões sociais e ao atendimento dos interesses da população mais vulnerável”.

O vereador argumenta que Teresa estava ciente do risco da parceria com o poder público ser interpretada como conflito de interesses. Em fevereiro, em uma carta às entidades parceiras do projeto, a presidente da ONG manifestou que, por ter vínculo familiar com Silvinho, não pretendia estar à frente das tratativas para a cessão de um terreno público.

A concessão de áreas públicas para entidades privadas é permitida pela legislação da cidade de São Paulo, desde que se comprove que determinada organização presta “relevantes serviços sociais e culturais” ao município. Esse reconhecimento deve ser obtido por lei.

A emenda de Silvinho foi aprovada pela Câmara e integra a redação final do projeto de lei, que aguarda análise do prefeito Ricardo Nunes, que pode sancioná-lo, vetá-lo ou sancioná-lo com vetos parciais. Em caso de veto total ou parcial, o texto volta ao Legislativo municipal.

A Prefeitura de São Paulo não comentou sobre o fato de o vereador ter apresentado uma emenda com conflito de interesses e apenas informou que o prazo de sanção do projeto, com possibilidade de vetos, é até a próxima terça-feira, 7. Procurada, a Câmara não respondeu.

Leia a íntegra do posicionamento de Silvinho Leite

É fundamental ressaltar que o processo legislativo de um projeto de lei é composto por diversas etapas e a aprovação em plenário não representa a sua conclusão. Ademais, após a votação, a autoria do projeto de lei ou emenda deixa de ser do vereador ou do grupo de vereadores e passa a ser uma manifestação da Câmara.

É preciso que fique claro que o processo legislativo ainda não finalizou, estando em fase de sanção ou veto por parte do Poder Executivo, vez que somente após esta etapa e a eventual promulgação é que o projeto se tornará uma lei em vigor capaz de produzir efeitos práticos.

É importante esclarecer que o terreno em questão não seria doado, mas sim seria cedido através de um termo de cessão para instalação no local de um centro de atendimento para famílias atípicas, sendo o foco do referido equipamento o autismo.

Ainda, faz-se necessário ressaltar que a cessão poderia ser revogada discricionariamente a qualquer tempo pelo Poder Público e não se trataria de uma doação, ou seja, não estaria se dando de forma perene e irrevogável a área declinada no projeto de lei. Compreende destacar que há documento de fevereiro do corrente ano, isto é, anterior a tramitação do projeto de lei em questão, no qual a sra. Teresa Pereira, presidente da Associação Amigos do Parque Santa Edwirges e Adjacências, comunica ao conjunto de entidades parceiras que não participaria do pedido da cessão de uso do terreno em função do seu vínculo familiar com este vereador.

Ademais, a Associação Amigos do Parque Santa Edwirges e Adjacências realiza um trabalho sério e árduo há anos voltado às questões sociais e ao atendimento dos interesses da população mais vulnerável, ou seja, a referida Associação e seus dirigentes possuem plena ciência da sua relevância dentro da comunidade do seu entorno e a indispensável necessidade de atender o interesse público.

Assim, diante dos esclarecimentos acima, entende este vereador que sua propositura visava atender ao interesse público e está imbuída da mais boa-fé.

 

 

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