A um ano da eleição, Lula intensifica agenda, adota discurso eleitoral e mira adversários
A um ano da eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou a agenda pelo País e já visitou mais capitais e cidades em 2025 do que na totalidade de cada um dos dois primeiros anos do terceiro mandato. O petista tem usado viagens e atos oficiais para acelerar a guinada eleitoral, defendendo bandeiras que ajudaram a recuperar a popularidade do governo, como a soberania nacional, e apresentando programas sociais em tom de pré-campanha de olho em 2026.
Neste ano, em nove meses, Lula já esteve em 65 cidades de 19 Estados, número que supera o total do ano de 2024 (60) e o de 2023 (36), quando priorizou viagens internacionais. A intensificação da agenda marca a contagem regressiva para as eleições de 4 de outubro de 2026 e tem se concentrado em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, que juntos reúnem cerca de 40% do eleitorado.

Em agosto, em Belo Horizonte, Lula lançou o programa Gás do Povo, o novo vale-gás do governo federal. No mesmo mês, no Rio de Janeiro, participou da divulgação de R$ 33 bilhões em investimentos da Petrobras. Já no fim de julho, em São Paulo, anunciou um pacote de R$ 4 bilhões para urbanização de favelas e, em Sorocaba, transformou a inauguração de consultórios odontológicos em discurso de campanha: “Três mandatos incomodaram muito, muito mais. Imagina se tiver o quarto mandato”, disse.
Depois de SP, MG e RJ, o Nordeste foi o terceiro destino mais visitado por Lula em 2025, região onde historicamente concentra sua base de votos. Durante as viagens, aproveitou para criticar a gestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como um dos principais nomes da direita para 2026, e alfinetar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): “Podem ter certeza que eu serei candidato para ganhar as eleições, porque eu não vou entregar este País de volta para aquele bando de malucos”, disse no Ceará, em junho.
Para o presidente do PT, Edinho Silva, as viagens são parte do estilo de governar de Lula e servem também para fortalecer os palanques regionais em 2026. “Ele é candidato à reeleição”, resume. Já o ministro da Previdência, Wolney Queiroz, atribui o aumento das agendas às entregas do governo. “Chegou a hora de cumpri-las pelo Brasil, e é isso que ele tem feito.”
O movimento de intensificar as viagens acompanhou a virada no cenário político, quando Lula registrou a pior avaliação de suas três gestões, em fevereiro. Para aliados, o petista recuperou parte da popularidade ao adotar uma ofensiva digital com o mote “ricos versus pobres”, mirando Congresso, Centrão e oposição, tachados como defensores de privilégios em detrimento do povo. O líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), afirma que Lula chegará “fortalecido” a 2026, depois de “sair das cordas nos últimos meses”.
A disputa em torno do IOF reforçou essa guinada: em julho, a Câmara derrubou o decreto do governo que elevava as alíquotas do imposto, cobrado em operações de crédito como empréstimos, financiamentos e cartão. O revés foi parcialmente revertido por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, o que permitiu ao Planalto ressignificar a disputa e apresentá-la como símbolo de sua defesa da “justiça tributária” e da taxação dos mais ricos.
A melhora apareceu nas pesquisas seguintes. A aprovação de Lula subiu três pontos entre julho e agosto, de 43% para 46%, e se manteve estável em setembro. Para o cientista político Antonio Lavareda, a recuperação também foi alimentada pelo tarifaço de Donald Trump, articulado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) e endossado por líderes da direita. As sanções abriram espaço para o governo resgatar a defesa da soberania nacional e das cores verde e amarelo, símbolos que haviam se tornado quase exclusivos do bolsonarismo.
Esse discurso foi logo incorporado às agendas. Em agosto, em Juazeiro (BA), Lula voltou a ligar Jair e Eduardo Bolsonaro ao tarifaço de Trump e os chamou de “traidores da pátria”. A ofensiva teve cálculo político: pesquisa Quaest do mesmo mês aponta que 71% dos eleitores avaliam que Trump errou ao impor a tarifa. “Bolsonaro se abraça na bandeira americana. É um patriota falso”, disparou o petista.
Entre aliados, a avaliação é que a narrativa pegou. Eles acreditam que o mote da soberania nacional e o discurso de que os ricos devem pagar mais impostos deu certo e trouxe de volta bandeiras históricas do PT, como a redução das desigualdades e a luta contra o inimigo externo. “Acho que essa foi a grande sacada que fez essa mudança”, afirma o deputado Jilmar Tatto (PT-SP). Na mesma linha, o deputado Rogério Correia (PT-MG) avalia que essas bandeiras “viraram um marco do governo”, dando clareza ao projeto que o partido pretende defender em 2026.
A percepção é semelhante à do marqueteiro político Pedro Simões. Para ele, o governo conseguiu consolidar uma marca que até pouco tempo era vista como ausente. “Antes falavam que faltava marca do governo. Agora está difícil dizer que não tem”, afirma. Ele destaca também os “últimos erros da direita”, como a aprovação da PEC da Blindagem na Câmara, capitaneada pelo Centrão, e a defesa da anistia para os condenados nos atos golpistas. “Quando seu ‘inimigo’ estiver errando, não o interrompa”, diz.
Simões acrescenta que a profissionalização da equipe de comunicação, liderada pelo ministro Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação Social, ajudou a intensificar a exposição de Lula, com mais viagens, entrevistas e atos oficiais.
Oposição critica ‘palco eleitoral’ no governo
Na oposição, o tom é o oposto. O líder do PL na Câmara, deputado Zucco (RS), sustenta que Lula nunca deixou o palanque desde que voltou ao Planalto e transformou a Presidência em palco eleitoral.
Para o parlamentar, o petista instiga a divisão entre esquerda e direita e, após a queda nas pesquisas, intensificou esse movimento ao abrir “os cofres de forma desordenada” e criar novos impostos para turbinar a arrecadação. “O governo dá com uma mão, ao prometer isenção no Imposto de Renda, mas tira com duas ao criar novas taxações”, afirma, em referência às medidas de compensação enviadas ao Congresso para bancar a ampliação da faixa de isenção.
Zucco também acusa Lula de usar a máquina pública em benefício eleitoral e de atacar Jair Bolsonaro, que, na visão dele, estaria “injustamente preso, retirado do jogo político por uma farsa jurídica”.
Até o final do ano, Lula deve manter o ritmo de viagens e inaugurações, apostando na estratégia de transformar entregas em vitrine eleitoral. A expectativa no Planalto é encerrar 2025 com a base mobilizada nos principais colégios eleitorais e um discurso afinado para entrar em 2026 já em clima de campanha.