De olho em 2026, Lula encampa pauta que incendiou as ruas no governo Dilma
Em junho de 2013, o aumento das tarifas do transporte público na cidade de São Paulo, então governada por Fernando Haddad (PT), atual ministro da Fazenda, motivou protestos convocados por um movimento por passe livre que logo catalisaram uma vasta gama de insatisfações e reivindicações populares. As manifestações que tinham por lema “não é só por 20 centavos”, referência ao valor adicional na tarifa, inauguraram um ciclo de contestação política que desaguou, três anos depois, em uma mobilização de massa que contribuiu para o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Por óbvio, ela não perdeu o cargo por causa do custo das passagens de ônibus e metrô, mas essa foi a fagulha que incendiou as ruas ao longo do resto do seu governo.
Doze anos depois, o presidente Lula quer incluir a pauta da tarifa zero universal no transporte público em seu pacote de bondades eleitorais. A um ano do primeiro turno presidencial, o petista aproveita a perda de rumo da oposição, empacada na agenda da anistia ou da redução de penas para golpistas, para levantar a bandeira de projetos com apelo popular. Após obter a aprovação, na Câmara dos Deputados, da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o governo agora quer avançar com a proposta de reduzir a jornada semanal de trabalho e estuda a implantação de transporte público gratuito em todo o País.

Segundo artigo de Marcelo Miterhof, economista do BNDES, publicado na revista Conjuntura Econômica, 127 cidades brasileiras já oferecem gratuidade total em ônibus (os dados são de maio deste ano). O número sobe para 138 quando se incluem outros modelos de gratuidade (Teresina, no Piauí, por exemplo, tem apenas metrô de graça). Juiz de Fora (MG) pode se tornar a terceira cidade mais populosa do mundo com tarifa zero nos transportes, caso os vereadores aprovem um projeto enviado pela prefeitura, atrás de Belgrado, na Sérvia, e Libreville, no Gabão. São Paulo não entra na lista pois tem ônibus gratuito apenas aos domingos.
Há dois caminhos para um programa nacional de tarifa zero. No primeiro, o benefício seria integralmente financiado pelo governo federal, tirando os recursos de uma tributação sobre combustíveis. No segundo, haveria uma parceria com Estados e municípios. De um jeito ou de outro, o desafio seria bancar o subsídio integral sem arrebentar ainda mais as contas públicas. Alguns defensores da medida dizem que ela custaria R$ 100 bilhões por ano. Mas o número provavelmente está subestimado, pois vem de um estudo de 2023 com dados de 2020, e prevê um aumento modesto no número de viagens. Experiências recentes mostram que a gratuidade pode até triplicar o uso dos ônibus urbanos.
Viabilizar essa ideia é o de menos agora. Lula já ganha só de iniciar a discussão. Basta incluir a promessa em sua campanha de reeleição. Enquanto isso, a oposição corre atrás da própria cauda.