6 de outubro de 2025
Politica

Eleições 2026: Se Tarcísio for candidato, PP deve obrigar diretórios do Nordeste a se opor a Lula

BRASÍLIA E SÃO PAULO – O PP deve obrigar diretórios estaduais e municipais a fazer oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caso o candidato da disputa presidencial seja o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apurou o Estadão/Broadcast. O partido também insiste na indicação do senador e presidente da sigla, Ciro Nogueira (PI), para compor a chapa.

Apesar de o PP anunciar o desembarque do governo no início deste mês, os diretórios da sigla na Bahia, na Paraíba e no Maranhão ainda são próximos de Lula. O último é presidido pelo ministro do Esporte, André Fufuca, que, embora tenha recebido um ultimato para sair do governo até o início deste mês de outubro, ainda não indicou que deixará a Esplanada.

PP quer Ciro Nogueira como vice em chapa presidencial
PP quer Ciro Nogueira como vice em chapa presidencial

Mesmo com os contextos regionais do Nordeste, reduto eleitoral de Lula, fontes ligadas ao PP afirmam que o partido quer montar um “grupo coeso” e “sem fragmentações” em torno da candidatura de Tarcísio. Para isso, a sigla espera que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indique, o quanto antes, o governador de São Paulo como seu candidato à Presidência.

Porém, parlamentares da sigla não cravam que Tarcísio disputará o Planalto em 2026. O governador de São Paulo reitera que pretende disputar a reeleição para o comando do Estado. Por outro lado, pesquisas para a eleição presidencial apontam que ele é o mais forte opositor a Lula e sua participação no pleito é desejada por alas do bolsonarismo e do Centrão.

Caso Tarcísio não seja candidato presidencial e outro nome represente o bolsonarismo em 2026, não há consenso de que todos os diretórios estaduais e municipais farão oposição a Lula. Neste cenário, apesar de o partido integrar a chapa da direita, os cenários internos do Nordeste serão levados em conta antes de se exigir o distanciamento dos candidatos do PP em relação ao petista. Historicamente, a legenda costuma liberar os diretórios estaduais na região.

Em 2022, o PP integrou a chapa encabeçada por Bolsonaro, ao lado do Republicanos e do PL. Mesmo assim, políticos influentes do partido manifestaram apoio a Lula ainda no primeiro turno, como o ex-vice-governador da Bahia João Leão.

Em SP, partido quer testar Derrite

A cúpula do PP em São Paulo está atenta aos movimentos de Tarcísio. Caso o governador dispute o Planalto, os líderes do partido querem testar a popularidade do secretário de Segurança Pública do Estado, Guilherme Derrite, nas pesquisas de intenção de voto para o Palácio dos Bandeirantes.

Publicamente, Derrite deixa claro que quer disputar o Senado no ano que vem e, nas viagens a Brasília, o secretário já busca se aproximar de membros da Casa Alta. Aliados dele classificam a vitória como certa, dado que serão duas vagas em jogo e que o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) – possível participante do pleito – manifestou desejo de permanecer nos Estados Unidos e foi denunciado por coação pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Segundo o presidente do PP paulista, deputado federal Maurício Neves, Derrite poderia ter um bom desempenho na disputa ao governo, pelo trabalho à frente das polícias do Estado. “O tema da eleição será a segurança pública, e ele possui destaque nacional”, afirmou.

Como mostrou o Estadão, Derrite passou a admitir, em conversas reservadas, a disposição de ser candidato a governador se Tarcísio pleitear a Presidência. De acordo com duas fontes que conversaram sobre o tema com o secretário, a mudança teria de contar com o apoio de Jair Bolsonaro. Por outro lado, a decisão desfalcaria ainda mais o campo bolsonarista na disputa pelo Senado.

O levantamento mais recente que incluiu Derrite entre os interessados na cadeira de governador foi divulgado pelo instituto Paraná Pesquisas em 9 de julho. Em cenário no qual a centro-esquerda seria representada pelo ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), o integrante do governo Lula teria 18,0% e o secretário de Segurança Pública registrou 16,1%. Como a margem de erro era de 2,4 pontos porcentuais, os dois estavam empatados.

Em seguida, apareceram a deputada federal Erika Hilton (PSOL), com 12,3%; o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), com 9,3%; o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), com 8,3%; o ex-prefeito de Santo André Paulo Serra (PSDB), com 6,6%; e o empresário Luiz Felipe D’Ávila (Novo), com 2,4%. O Paraná Pesquisas ouviu 1.680 eleitores de 84 municípios entre os dias 4 e 8 de julho. O índice de confiabilidade foi de 95%.

Eleito deputado federal em 2018 e 2022, Derrite consolidou sua trajetória política ancorado em pautas bolsonaristas, de maior apelo no interior paulista e entre segmentos da classe média urbana. Isso o fez dobrar sua votação de uma eleição para a outra (119.034 e 239.772, respectivamente). Capitão da Polícia Militar, adotou discurso de linha-dura no enfrentamento à criminalidade e tenta imprimir essa marca à frente da secretaria com relativo sucesso, na avaliação de aliados.

Além disso, Derrite é considerado o único representante genuinamente bolsonarista no secretariado de Tarcísio (composto por 24 titulares além dele), formado majoritariamente por perfis técnicos e por nomes tradicionais do Republicanos, partido do governador. Por essas características, tornou-se o favorito da ala mais ideológica paulista para suceder ao atual chefe do Executivo.

Outros nomes cotados para suceder a Tarcísio enfrentam resistência entre parlamentares alinhados ao ex-presidente. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), por exemplo, não é visto como “bolsonarista raiz” pelo grupo. Integrantes do PL ouvidos pelo Estadão/Broadcast afirmam que sua candidatura foi estratégica para garantir a vitória na capital, mas avaliam não haver motivo para repetir a concessão, já que o restante do Estado tem perfil menos centrista do que a cidade onde ele se reelegeu.

Os bolsonaristas também rejeitam o nome do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), André do Prado (PL). Embora aliado de Tarcísio e defensor de pautas à direita no Estado, ele é visto por parlamentares como um perfil “mais fisiológico”, por já integrar o PL antes da chegada do bolsonarismo ao partido. Nesse raciocínio, sua permanência à frente da Alesp é considerada necessária para assegurar a governabilidade. Ainda assim, seu nome perde tração como postulante.

O secretário de Governo e Relações Institucionais e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, enfrenta situação semelhante – e até mais delicada. Deputados bolsonaristas demonstram crescente insatisfação devido ao atraso no pagamento de emendas parlamentares. Na avaliação desse grupo, Kassab estaria “fazendo política” a partir da máquina estadual, de olho em uma candidatura ao Palácio dos Bandeirantes em 2026.

 

 

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