CPI do INSS investiga repasse de R$ 1,5 milhão a esteticista de SC citada em movimentação da Contag
BRASÍLIA – A CPI do INSS pretende aprofundar a investigação sobre um repasse de R$ 1,5 milhão, citado em relatório sigiloso sobre movimentações da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), para uma esteticista de Florianópolis (SC) “sem relação comercial identificada”.
A informação está em documento enviado à CPI pelo Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf). O chamado Relatório de Inteligência Financeira (RIF) da Contag aponta três lançamentos em favor da mulher, de 30 anos, entre maio de 2024 e maio de 2025.
“A débito, transferiu para terceiros cuja relação comercial não identificamos, citamos: Rosiane Ramos Salomão (ESTETICISTA), três lançamento no valor total de R$ 1.500.000,00”, diz o documento.

Os relatórios do Coaf trazem, no cabeçalho, o nome do “titular” das contas analisadas e indica as pessoas que receberam recursos do dono da conta como “beneficiários”. Há, ainda, os “outros”, que dizem respeito a pessoas e empresas citadas no memorial.
Neste caso, a Contag aparece como “titular” e Rosiane como “beneficiário” e, ao mesmo tempo, em “outros”. A dupla classificação não é explicada no documento.
Em nota, a Contag ressaltou que não tem acesso ao RIF. Questionado sobre a esteticista, afirmou que “não tem qualquer movimentação financeira em favor” de Rosiane Salomão (leia mais abaixo).
Procurada desde a semana passada, a esteticista não atendeu à reportagem nem retornou as tentativas de contato. Por mensagem, o marido dela disse que a informação não era verdadeira e não se estendeu alegando que o contato poderia ser uma tentativa de golpe.
A menção aos três repasses que somaram R$ 1,5 milhão chamaram a atenção da cúpula da CPI do INSS. Integrantes do colegiado afirmaram que usarão o depoimento de representante da Contag, ainda sem data confirmada, para perguntar sobre a esteticista e que pretendem “seguir o caminho do dinheiro” para esclarecer o pagamento citado.
A cúpula da CPI do INSS agora aposta na chegada de informações que serão obtidas a partir da quebra dos sigilos bancários de pessoas e entidades investigadas.
Como revelou o Estadão, a Contag movimentou R$ 2 bilhões em um ano. Ela é apontada por investigações policiais e da Controladoria-Geral da União (CGU) como a maior beneficiada por descontos associativos.
Criada nos anos 1960 e com sede no Distrito Federal, ela arrecadou, entre 2016 e janeiro de 2025, R$ 3,4 bilhões. Ao menos uma parte dos associados afirma que não deu aval a esses descontos, conforme levantamento da CGU.
A confederação é historicamente próxima ao Partido dos Trabalhadores, com dirigentes e ex-dirigentes dos quadros da agremiação.
Em nota, a Contag afirmou que tem “mais de 60 anos de existência” e “representa milhões de trabalhadores e trabalhadoras rurais em todo o Brasil”.
Disse também que “todos os recursos movimentados possuem origem identificada e são registrados em conformidade com as obrigações legais e fiscais da entidade”.
Sobre a citação à esteticista, a entidade declarou que “não tem qualquer movimentação financeira” em favor dela e “essa pessoa nunca fez parte dos quadros da Contag”.
“A entidade está à disposição para prestar esclarecimentos sobre qualquer operação específica, sempre dentro da legalidade e da transparência que nos norteiam”, disse.