Empresário que doou Fusca a governador do DF era de escritório contratado pelo BRB, banco estatal
A doação de um Fusca de R$ 70 mil do empresário Fernando Cavalcanti ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), aconteceu quando Cavalcanti era vice-presidente do escritório Nelson Wilians, que já tinha um contrato ativo com o Banco de Brasília (BRB). Documentos obtidos pela Coluna do Estadão mostram que 52 advogados do escritório estão autorizados a representar judicialmente o banco estatal até o fim de 2025.
Procurado, o BRB confirmou que contratou o escritório Nelson Wilians no ano passado, para atuar pelo banco em diversos estados. O órgão não respondeu o custo do contrato, quais os processos envolvidos e se o escritório atuou na tentativa de compra do Banco Master pelo banco estatal, barrada pelo Banco Central. Leia a íntegra do comunicado ao fim da reportagem. Procurados, Fernando Cavalcanti e o governador não responderam.
Um documento de 11 de dezembro de 2024, assinado pela superintendente jurídica do BRB, Mariany Amaral, deu poder para 52 advogados do Nelson Wilians representarem o banco na Justiça durante um ano, ou seja, até o fim de 2025. O dono do escritório, Nelson Wilians, assinou procurações em nome do BRB em fevereiro deste ano.
Em abril passado, com o contrato ativo entre o BRB e o escritório, o então vice-presidente do Nelson Wilians Advogados deu de presente ao governador do Distrito Federal um carro Fusca de R$ 70 mil. Cavalcanti rompeu com o escritório no mês seguinte, em maio.

‘Ibaneis é um amigo’
Cavalcanti admitiu ter feito a doação a Ibaneis na última segunda-feira, 6, durante depoimento à CPI do INSS. “Ibaneis é um amigo, um excelente gestor, uma pessoa que tem minha total deferência e respeito. Eu tenho muita tranquilidade e muito prazer em ter dado esse fusca para ele”. O governador disse que vai declarar o carro em seu imposto de renda no próximo ano.
No mês passado, o empresário teve bens apreendidos pela Polícia Federal – entre eles, uma réplica de carro de Fórmula 1 e relógios que chegam a R$ 1,3 milhão. O escritório do advogado Nelson Wilians, do qual era vice-presidente e sócio, é suspeito de lavagem de dinheiro na fraude do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O empresário negou qualquer irregularidade à CPI. “Deixo registrado que nunca fui laranja, operador ou beneficiário de qualquer esquema. Minha atuação sempre foi de gestor, e os pagamentos por mim recebidos eram compatíveis com todas as funções que eu desempenhava com a minha vida empresarial”.
Leia o comunicado do BRB
“O BRB informa que, em 2024, abriu um credenciamento para a contratação de escritórios de advocacia para atuação em processos massificados e cobranças de baixo valor.
O escritório Nelson Willians Advogados, assim como outros 50 escritórios, foram habilitados no credenciamento e prestam serviços para o BRB em diversos Estados.”