Lula segue na liderança, mas derrota na MP do IOF mostra que oposição está (bem) viva
Em junho, mês que parece tão distante, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, estava empatado tecnicamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenção de votos. Parecia ser questão de jogar parado e vencer o petismo. O Congresso tinha viés oposicionista, a crise fiscal seguia a todo vapor, o Brasil não irá apresentar taxas excepcionais de crescimento econômico, só a direita levava pessoas para as ruas, havia todo o discurso de modernização do Estado brasileiro, inspirado no vizinho argentino Javier Milei.
Muito já esfregavam as mãos contando que Lula era carta fora do baralho. Mas, como está nos provérbios bíblicos, a soberba precede a ruína. Desde então, integrantes da oposição, de vários matizes, se alternaram numa sequência impressionante de erros que provavelmente estão entre as causas principais da recuperação de Lula, como mostra a pesquisa Quaest divulgada hoje.

Entre o que prejudicou, podemos citar o esforço de Eduardo Bolsonaro para que os Estados Unidos puna o Brasil como um todo. O boicote da família Bolsonaro a Tarcísio. O motim de deputados no Congresso. As divisões dentro da direita. A PEC da blindagem. Até mesmo a frase de Tarcísio sobre não ligar sobre a presença de metanol na bebida até que a Coca-Cola seja atingida entra no bolo. Isso não foi exatamente um erro, mas até o Milei começou a ter sérias dificuldades na Argentina.
Do lado dos fatos favoráveis ao governo, houve a condenação de Bolsonaro; a aprovação da isenção do Imposto de Renda para rendas mais baixas; o sumiço de uma primeira-dama impopular; e, por óbvio, os encontros – real e virtual – dos presidentes Lula e Donald Trump. Enfim, em quatro meses, o que a direita tinha de sobra, discurso, foi parar, até acidentalmente, na mão do petismo.
Cenário de nuvens cor de rosa para o presidente Lula se reeleger? A derrota do governo ontem na Medida Provisória que aumentaria alguns tributos mostra que não. Os oponentes mostraram que ainda têm o poder de prejudicar o incumbente e, no limite, tornar o País menos governável e tumultuar o ambiente político (a CPI do INSS está aí). Ainda não está provado que houve dedo de Tarcísio de Freitas na história (houve das bancadas ligadas às bets e ao agro), mas o fato é que o governo ficou com menos R$ 35 bilhões para gastar em pleno ano eleitoral. Ou seja, a oposição segue viva. O governo, pelo que se saiba, irá reeditar o discurso de “congresso inimigo do povo” para atenuar a derrota.
Lula, esta semana, deu declarações no sentido de ser favorito para ganhar em 2026. Faz sentido, mas também deveria ficar atento ao mesmo provérbio bíblico sobre a soberba. Mas agora ele está no papel de observador que não pode errar. A tarefa mais difícil está com a oposição. No sentido de tentar se erguer e se reconectar com o eleitorado perdido.
